Debate: com memes e imagens de barraco, Twitter concorreu com a TV
Tretas nos bastidores motivaram o esporte de levantamento de celular, abastecendo as redes sociais de outro espetáculo
Enquanto a consciência de espectador pedia atenção às palavras, argumentações e informações dadas por aqueles que pleiteiam o cargo mais importante do país, pelas telas da Band, da Cultura ou do UOL, a tela do Twitter nos oferecia uma avalanche de piadas, memes e, cereja do bolo, imagens das tretas ocorridas nos bastidores da Band entre representantes das torcidas dos candidatos presentes ao primeiro debate eleitoral à presidência da República.
O espectador se vê em conflito: para onde eu olho agora? Para o Twitter ou para a TV?
O bate-boca entre o ex-ministro do meio ambiente Ricardo Salles (PL) e o deputado André Janones (Avante) logo roubaria a atenção de quem tentava digerir as contas expostas por Ciro Gomes. Ou de quem brincava de adivinhar as previsíveis agressões do candidato à reeleição, Jair Bolsonaro --eu, por exemplo, acertei quando ele reagiu aos questionamentos sobre misoginia feitos por Ciro Gomes (PDT) com uma frase antiga e infeliz em que o cearense atribuía a Patrícia Pillar, então sua companheira, a tarefa de "dormir" com ele.
Fato é que o apetite por flagrantes nos bastidores movimentou os tuiteiros em busca de versões mais divertidas que os fatos e bravatas em exposição na TV. E na ânsia de abastecer a fome das redes sociais, quem estava nos estúdios da Band se estapeava em torno de um esporte que pode ser chamado de levantamento de celular.
Como mostra a imagem deste texto, flagrada pelo UOL em um dos intervalos, era grande a cobiça por diálogos e episódios capazes de constranger alguém da torcida adversária no backstage.
Já as declarações de Felipe d'Ávila de incentivo às privatizações renderam novas figurinhas para o vasto repertório de imagens virtuais colecionadas no celular, assim como ocorreu com Soraya Thronicke, que assegurou a Bolsonaro também virar onça, a exemplo de Juma Marruá na novela "Pantanal".
O repertório da TV inspirou grandes criações no Twitter. E olhe que o debate do dia foi o mais animado de primeiro turno dos últimos dez anos, no mínimo. Faz tempo que a lista de regras impostas pelos partidos engessa o confronto de ideias.
Dessa vez, a união de quatro veículos em pool trouxe um saudável revezamento entre os mediadores, com repertório diversificado de perguntas. Conspira, a favor do dinamismo, a chance de cada um usar seus prazos como lhes convém, sem engessar suas respostas em xis minutos, para depois consumir apenas metade disso nas réplicas.
Fazia tempo que não víamos um encontro tão movimentado entre aspirantes a qualquer cargo público. Até o último instante, muita gente apostava que Bolsonaro não estaria presente, de modo que o próprio suspense em torno desse vai-não-vai já motivava a presença de muita gente diante das telas.
Visto como alvo do pior desempenho no encontro, segundo pesquisa Datafolha feita com eleitores indecisos, o presidente também foi quem trouxe à mesa de discussões o assunto que faria o espectador acordar no sofá ou se desinteressar dos memes no Twitter.
Ao agredir a jornalista Vera Magalhães, o marido da Michele acendeu o fósforo que, para desespero de aliados e alegria de adversários, tocaria fogo no parquinho. É disso que o povo gosta.
Não é à toa que a audiência da Band cresceu e chegou a derrotar a Globo antes mesmo do fim do Fantástico. Como acontece diante de competições em um autódromo, o público até comparece para torcer por seus favoritos, mas a comoção acontece de fato, e a plateia cresce, quando alguém se acidenta na pista.
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