Colo de Mãe

Sociedade que abre bar e fecha escola não aponta boas perspectivas à maternidade em 2021

Mães e filhos vão seguir pagando a conta da pandemia no ano que vem

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Agora

Sou uma pessoa otimista por natureza. Costumo achar que tudo vai dar certo e tenho por hábito tirar boas lições de más situações. Não por acreditar em um mundo totalmente colorido e sem problemas, mas porque confio na capacidade do ser humano de suportar e ser melhor.

No entanto, confesso que, diante da pandemia de Covid-19, estou perdendo as esperanças de que haja uma evolução na sociedade a ponto de que revoluções internas transformem o ser humano e seu entorno. O vírus não foi embora —nem irá—, a prometida vacina fica cada vez mais longe, diante da complexidade da situação, e tudo indica que o ano de 2021 será ainda de confinamento.

Sabemos que nem todos podem se manter trancados. Também sabemos que muitos não querem, não conseguem e não aguentam a quarentena por questões psicológicas, econômicas e sociais. Em um país profundamente castigado pelas diferenças de classe social e de renda (ricos cada vez mais ricos), o que faz com que o índice de autônomos e informais seja alto, é compreensível a luta das pessoas para poder estar na rua, trabalhando.

E, em um cenário com um governo central falido, sem comando, desorientado e sem perspicácia para definir o que é melhor para todos, não haverá mais auxílio emergencial e teremos mais gente nas ruas sim.

Nestas condições, sem vacina e com o vírus já indicando uma segunda onda a partir do final do ano, a conta do confinamento de 2021 deve sobrar novamente para crianças, adolescentes, suas famílias e, principalmente, as mães.

Não creio que uma sociedade que prioriza abrir bares dará condições para que escolas funcionem. E as condições que eu digo não são apenas regras de segurança sanitária. Elas passam por determinar fechamentos que façam diminuir o número de pessoas circulando, caso a situação assim indique, para que as escolas sigam abertas com protocolos.

Ou ao menos que haja controle maior, com fiscalização, para evitar as aglomerações que são o que realmente ajuda a espalhar o vírus.

Não sou do time que acha que as escolas deveriam ter aberto neste ano há um mês do fim das aulas, como ocorreu em diversos locais, mas acreditei que estávamos fazendo a lição de casa para voltar em 2021. Enganei-me totalmente.

As pessoas se aglomeram, não se protegem, se infectam e infectam os outros. Está difícil ser mãe neste 2020. Imagine no ano que vem.

Colo de Mãe

Cristiane Gercina, 42, é mãe de Luiza, 15, e Laura, 9. É apaixonada pelas filhas e por literatura. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é jornalista de economia na Folha. Opiniões, críticas e sugestões podem ser enviadas para o email colodemae@grupofolha.com.br.

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