Precisamos de um BBB em Brasília
Poderíamos saber a reação das pessoas após Paulo Guedes chamar o servidor de parasita
Sabia que esse dia chegaria, mais cedo ou mais tarde: aquele em que questionaria por que a pessoas sabem tudo de Big Brother Brasil, sentem satisfação de tuitarem sobre a vida alheia dos anônimos na casa com câmeras, mas seguem resignadas e quase sempre desinformadas sobre como o governo e outros instituições estão conduzindo a vida real do país.
O noticiário da política e da economia foi muito intenso enquanto a rotina social da casa seguiu meio morna. OK. Badu se bandeou para os lado dos homens. “Nenhum homem presta” tem sido a definição recorrente das mulheres sobre essa questão.
Gabi posa de feminista, mas na primeira oportunidade escolheu um homem para ser líder, Guilherme. Daniel aprendeu a jogar. Diz que vai salvar a Amazônia, mas não lava um prato. Está manipulando Marcela, que meio que já dispensou Gyzelle.
Do lado de fora, iniciou-se uma insurgência contra Tiago Leifert por sua aparente forcinha para os companheiros de gênero. Tem quem peça a volta de Pedro Bial –como se houvesse muita diferença. Mas depois do noticiário desta semana, a única coisa que vem na minha cabeça é como seria legal o BBB do Planalto Central.
A gente poderia saber o que as pessoas falaram para o ministro da Economia, Paulo Guedes, depois de ele chamar o servidor público de parasita e dizer que dólar baixo é uma festa danada que levava até domésticas a viajar para a Disney.
Saberíamos os bastidores da articulação e o disse-que-disse para a nomeação de mais um general para a cúpula do governo de Jair Bolsonaro, desta vez a Casa Civil. Veríamos os técnicos do Banco Central avaliando como colocar R$ 2 bilhões no mercado de câmbio para baixar o dólar, aquele que não para de subir e agora convida as domésticas a viajar pelo Brasil.
Na outra área do Banco Central, saberíamos como foi a conversa em torno da revisão do crescimento de novembro do ano passado. Lá atrás anunciou uma alta de 0,18% para o mês. Nesta sexta-feira (14), revisou para uma queda de 0,11%. Como pode essa derrapagem?
Eu sei que entretenimento e jornalismo são coisas diferentes, e uma vida saudável inclui ambos. O que me perturba como jornalista é a inversão dos pesos. Entretenimento é coisa séria para maioria das pessoas.
A criatura faz um esforço sobre-humano para cumprir toda a agenda do dia e estar sentadinho no sofá para ver um BBB. Mas cadê a mesma mobilização para acompanhar os fatos que afetam a vida de verdade?
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