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Cinema e Séries
Descrição de chapéu The New York Times

'Willow', sucesso dos anos 1980 estrelado por ator com nanismo, ressuscita como série

Warwick Davis diz que ficou cinco anos sem receber roteiros após sucesso do filme

Warwick Davis posa para retrato em Londres - Charlotte Hadden/The New York Times
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Simran Hans
Londres
The New York Times

Em uma suíte de hotel com vista para a penumbra da Leicester Square, o ator Warwick Davis apanhou um par de binóculos de ópera e os apontou na direção do Empire Cinema. Em 1988, ele estava presente na estreia londrina do filme "Willow", uma história de humor e aventura dirigida por Ron Howard com base em um roteiro de George Lucas, que foi o produtor executivo do filme. O filme trazia Davis e Val Kilmer como um feiticeiro e um trapaceiro, ambos encarregados de proteger uma princesa bebê dotada de poderes mágicos.

Davis se recorda de que, na estreia, ele estava sentado ao lado de outra princesa, Diana, espremido entre ela e o príncipe Charles.

"Meu papel era segurar as pipocas", brincou Davis, acrescentando que "Diana me disse, no final do filme que eu só arranjava problemas para elas, princesas".

"Willow" continua a ser o papel de maior destaque para Davis, 52, que é presença constante em filmes e séries de ficção científica, terror e fantasia, entre os quais "Guerra nas Estrelas", os filmes da série "O Duende" e "Harry Potter". Ele já foi imortalizado em plástico muitas e muitas vezes.

"Bati o recorde do número de bonecos criados para representar os personagens que já interpretei", ele disse, em tom sério (naquele dia, Davis estava usando um elegante blazer azul).

Como o The New York Times noticiou no lançamento do filme, "Willow" não foi um sucesso imediato, apesar de seu pedigree ilustre. As críticas foram medianas, e o filme foi percebido como uma das raras mancadas de Lucas, arquiteto das franquias "Star Wars" e (com Steven Spielberg) "Indiana Jones". Mas a história deixou sua marca em Jonathan Kasdan, que tinha oito anos quando o filme foi lançado e agora criou uma continuação com oito episódios para a TV, que estreou na semana passada no serviço de streaming Disney+.

Em entrevista por telefone, Kasdan, cujo pai, Lawrence, foi coautor dos roteiros de alguns dos filmes mais célebres de Lucas, entre as quais a trilogia "Guerra nas Estrelas" original e "Caçadores da Arca Perdida", descreveu "Willow" como "uma aventura gigantesca e muito táctil, centrada em uma pessoa pequena". Ele acrescentou que Davis, como o amável e sensato Willow, um agricultor que aprende feitiçaria, é "um astro de cinema com quem as pessoas têm uma identificação incrível".

A série de TV, ambientada aproximadamente 20 anos após os acontecimentos do filme, vê o retorno de um Willow mais velho, mais sábio e em geral mais relutante, desta vez pastoreando uma família postiça de desajustados maltrapilhos (retratados por Ruby Cruz, Erin Kellyman, Ellie Bamber, Tony Revolori e Amar Chadha-Patel), na busca por um príncipe sequestrado.

Para Davis, a série permitiu que ele voltasse àquele que sem dúvida constitui seu personagem mais marcante, o personagem que provou que um ator jovem até então acostumado a interpretar papéis de pequenas criaturas, sempre fantasiado, podia ser a face de um épico de Hollywood.

"Foi o papel que me deu tudo", disse o ator.

Davis cresceu ao sul de Londres, na década de 1970, em Epsom, Surrey, uma cidade que ele descreveu como "muito antiquada" até a chegada de um McDonald's à sua rua principal. Davis, que tem displasia espôndilo-epifisária congênita e 1,07 metro de altura, teve vários problemas médicos quando criança, mas disse que seus pais, que eram pessoas de tamanho médio, "me deixavam fazer tudo que eu queria".

Quando adolescente, isso incluía andar "por aí em uma minimoto" e se aventurar nas ruas de diversas maneiras.

"Eu nunca deveria ter feito qualquer dessas coisas, porque tenho uma instabilidade no pescoço por conta da displasia no esqueleto", ele disse. "Poderia ter ficado paralítico."

A personalidade expansiva e divertida que Davis desenvolveu, ele disse, resulta em parte de seu tamanho.

"Quando você é mais baixo do que a média, a conversa na escola acontece dois palmos acima de sua cabeça", ele disse.

"Você se torna mais ruidoso e mais engraçado para ser notado", ele explicou. "Eu me tornei um personagem exagerado, só para não ser deixado de fora."

Essa personalidade alegre é genuína, disse Joanne Whalley, que também fez parte do elenco do filme "Willow" e retoma seu papel na série. "Ele ama a vida", ela disse, em uma entrevista por telefone.

Davis começou a atuar aos 11 anos, vestindo uma fantasia peluda e uma máscara para interpretar um Ewok, Wicket W. Warrick, em "StarWars: O Retorno de Jedi". (Sua avó o tinha encorajado a fazer uma teste depois de ouvir um anúncio no rádio que procurava por atores de pequena estatura.) Ele repetiu o personagem em várias produções derivadas feitas para a TV e, durante as filmagens de "Star Wars: Ewok Adventures", disse Davis, Lucas falou à sua mãe sobre uma ideia que tinha para o ator quando ele fosse um pouco mais velho.

Filmado quando Davis tinha 17 anos, "Willow" ofereceu a ele sua primeira oportunidade de "aparecer" sem máscara e de ser um "ator de verdade", ele disse. O filme também afetou sua vida de maneiras que foram bem além de sua carreira.

Samantha, a futura mulher de Davis, trabalhou como figurante em "Willow", e ele a abordou na festa pós-estreia, no Waldorf, no West End de Londres.

"Não me lembro ter passado uma cantada nela, mas é isso que ela diz que fiz", disse o ator. "Ela disse que meio que a cortejei, naquela noite." A história levou lágrimas aos olhos dele. Em seguida, ele fez uma pausa, pigarreou e disse: "Fico emocionado quando falo sobre isso."

Apesar das críticas nem sempre positivas, "Willow" deu lucro, faturando mais de US$ 110 milhões nas bilheterias mundiais (o equivalente hoje a cerca de US$ 270 milhões, ou mais de R$ 1,4 bilhão), e teve uma vida longa nas locadoras de vídeo, depois de sair de cartaz. Mas para Davis, o filme resultou em uma pausa de cinco anos em que "não recebi roteiros, absolutamente nenhum". Durante esse período, ele ganhou a vida como operador de câmera de vídeo, "gravando as cerimônias de casamento das pessoas", ele disse, um trabalho que descreveu como "infinitamente monótono" e marcado implacavelmente pela presença da melodramática balada "The Lady in Red", de Chris de Burgh, na trilha sonora.

Então, no início da década de 1990, o roteiro da comédia de terror "O Duende" chegou à sua mesa. Uma perversa subversão dos míticos "leprechauns" irlandeses, o filme oferecia a Davis a oportunidade de provar que "posso fazer mais do que ser um feiticeiro simpático e feliz", ele disse. ele. "'O Duende' foi minha oportunidade de interpretar um louco desvairado."

O filme se transformou em sucesso cult e Davis retomou o papel em cinco continuações, e chegou a até a cantar um rap e ficar chapado junto com seu colega de elenco, Ice-T, no quinto desses filmes, "Leprechaun in the Hood" (2000).

Seu trabalho nos filmes "O Duende" é caracterizada por um senso de humor antenado, algo que os colegas dizem transparecer em muitas de suas atuações. "Há um toque de sarcasmo experiente no cerne daquilo que Warwick é capaz de fazer", disse Kasdan.

Em pessoa, esta qualidade transparece nos comentários secos com que Davis tempera a conversa. Ele também é um contador de casos talentoso, uma capacidade que Kasdan credita às "lembranças precisas de Davis sobre tudo o que ele experimentou" e a uma "voz incrível, que leva o interlocutor a pensar que está ouvindo John Houseman contar a história da primeira vez em que ele ficou bêbado".

É bom ressalvar que a primeira experiência de Davis com álcool foi beber margaritas durante a filmagem do "Willow" original, na Nova Zelândia. "Aos 17 anos, eu era puro de coração e alma", ele disse, com humor seco, acrescentando que Kilmer e Whalley, seus companheiros de elenco, "me corromperam um pouco".

Davis, que cresceu assistindo a "O Gordo e o Magro", adora comédia física, especialmente se ele é o alvo da piada. Ele inclui muitas cenas autodepreciativas de humor físico na história de seu personagem em "Life's Too Short", uma série que satiriza o show business e que ele criou com Ricky Gervais e Stephen Merchant, e estrelou como uma versão fictícia de si mesmo. "Se eu levar um tombo ou deixar alguma coisa cair, sempre rio disso", disse Davis.

Seu senso de humor convive com a seriedade de propósitos. Em 1996, ele criou a Willow Management, uma agência que representa atores com nanismo. Ele continuou a defendê-los quando acumulou créditos em algumas das maiores franquias de Hollywood —Davis apareceu em todos os filmes "Harry Potter" e na maioria dos filmes "Star Wars" desde "Star Wars: O Retorno de Jedi"– e fundou uma instituição de caridade, Little People UK, com sua mulher, em 2012, e uma companhia de teatro para atores de baixa estatura, a Reduced Height Theatre Company.

"Achei que era hora destes caras fazerem algo importante, em vez de apenas usarem fantasias e interpretarem duendes", ele disse

Quando Kasdan o procurou para retomar "Willow", Davis estava ansioso por "tentar de novo", ele disse. Agora pai de dois filhos, ele disse que ser pai o tinha ensinado a compreender o que significa ser responsável pela vida de outro ser humano —e "ter certeza de que o caminho que estou tomando é bom, e também o caminho certo".

Davis trouxe outra coisa que ele não tinha na rodagem original, agora que está fazendo a continuação: a confiança de um astro de cinema veterano.

Kasdan disse que "eu tinha uma imagem muito clara em minha cabeça, dele com o cabelo comprido e grisalho, e de como isso poderia ser poderoso". O "showrunner" tinha certeza de que esse seria o melhor look que Davis já teve nas telas.

Davis disse que, quando enfim colocou peruca, só pôde concordar.

Tradução de Paulo Migliacci

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