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Dwayne Johnson Ricardo Nagaoka - 09.out.22/The New York Times

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The New York Times

Quando você assiste a um dos filmes estrelados por Dwayne Johnson hoje em dia, está geralmente ciente do tipo de protagonista que ele vai interpretar: um bom sujeito musculoso que, sob o físico invejável, é dono de um coração de ouro, e que, se a situação ficar complicada, provavelmente será o cara que lhe dará uma mão, e não aquele que o nocauteará sem pensar duas vezes.

Mas não é esse o papel que Johnson, 50, um astro de ação onipresente, interpreta em "Adão Negro", que o estúdio Warner Bros. lançou nesta semana. No novo título da franquia de filmes baseada em personagens de quadrinhos da DC (conhecida como DC Extended Universe), Johnson faz o papel título, um impiedoso aventureiro dotado de superpoderes e vindo da antiguidade, que se vê revivido nos dias de hoje.

Exibindo habilidades impressionantes —e uma falta generalizada de preocupação com vidas humanas—, o Adão Negro começa a libertar sua pátria fictícia, Kahndaq, do regime criminoso que a governa atualmente. Ao fazê-lo, ele se torna um salvador para os cidadãos de Kahndaq mas ao mesmo tempo atrai a atenção indesejada da Sociedade da Justiça, que inclui o Gavião Negro (Aldis Hodge) e o Senhor Destino (Pierce Brosnan), que não têm certeza de que podem confiar em Adão Negro.

Dirigido por Jaume Collet-Serra (que já tinha comandado Johnson em "Jungle Cruise"), "Adão Negro" traz à vida um vilão veterano dos quadrinhos, que tradicionalmente era o antagonista dos jovens heróis vistos em "Shazam!", filme de 2019 sobre o universo DC.

"Adão Negro" também é um projeto que Johnson dedicou anos a tentar concretizar –e que traz à memória sua ascensão como vilão na liga profissional de luta livre WWF (hoje conhecida como WWE).

Como Johnson explicou em uma conversa por vídeo este mês, ele sempre apreciou Adão Negro por sua disposição de questionar os motivos da Sociedade da Justiça, os aparentes mocinhos da história.

"Aqueles heróis que sempre foram tão amados ao longo das décadas, onde é que eles eles estavam?", ele disse. "Não estavam em Kahndaq e não tomaram conta de um povo que foi oprimido por mais de 5.000 anos. Mas existe um homem que volta para protegê-los, um homem que é seu defensor. Amo esse aspecto da história e os diálogos que ele pode desencadear".

Johnson falou também sobre a criação de "Adão Negro", seu duradouro apreço pelo personagem e as conexões entre ele e os dias em que Johnson era lutador profissional, sob o pseudônimo The Rock. Abaixo, trechos editados de nossa conversa.

"Adão Negro" é um papel que você esperou para interpretar por muito tempo. O que era tão importante para você nesse personagem?
Foram quase 15 anos batalhando por isso e pressionando por isso. Preciso admitir que eu era fã da DC quando criança. Eu gostava da Marvel, mas amava a DC. Meu desenho animado das manhãs de sábado era "Super Amigos". Eu entendo a situação, do ponto de vista do estúdio. A aposta mais segura é continuar a investir na PI [propriedade intelectual] que o mundo conhece. A Liga da Justiça —Batman, Super-Homem, Mulher Maravilha, Flash, Aquaman. Entendo isso. Mas foi preciso convencer o estúdio a olhar além da Liga da Justiça e para o universo DC, e há alguns personagens muito bacanas lá. Você só tem que dar uma chance e confiar no investimento. Adão Negro está circulando há quase 80 anos.

Foi um desafio para você esperar pelo papel, quando presumivelmente poderia ter interpretado muitos outros personagens de quadrinhos durante esse período?
Fui procurado —não vou dizer por quem— para interpretar alguns outros super-heróis, que por fim terminaram representados por outros atores. Mas eu sempre tive a sensação instintiva de que Adão Negro era o personagem para mim. A primeira vez que vi um gibi do Adão Negro, fiquei intrigado. Havia uma intensidade no rosto dele. Havia um pouco de fúria na capa daquela história em quadrinhos. Oh, e ele tinha pele marrom como a minha. Isso me intrigou imediatamente. Quem é esse cara? Quero ser ele.

Isso era importante para você, levar às telas de cinema um personagem de pele escura?
O que é essencial é o investimento em mais super-heróis não brancos, e o Adão Negro é um deles. Foi extremamente importante para mim, e uma das razões pelas quais eu não desistisse dessa ideia.

Houve um momento em que você teve de decidir entre interpretar Shazam ou o Adão Negro? As motivações deles são muito diferentes, para dizer o mínimo.
Eu tinha essa opção quando comecei a discutir o assunto com a Warner Bros., há quase 15 anos. Você gostaria de fazer o papel de Shazam? Você gostaria de fazer o Adão Negro? Eu apreciava a mitologia por trás dos personagens, e sua conexão. Mas sempre soube em meu coração que eu era o Adão Negro. O roteiro original que chegou a mim, seis ou sete anos atrás, contava ambas as histórias de origem, de Shazam e do Adão Negro, em um só filme de 100 minutos. Era complicado e não servia adequadamente aos dois personagens. Telefonei para as pessoas que dirigiam a Warner Bros. na época e disse que deveríamos separar os dois para que eles pudessem contar suas próprias histórias de origem, e foi o que fizemos. Isso levou o processo a se tornar mais demorado e fez com que a produção se atrasasse. Minha atitude teve maus resultados para mim, naquele momento, porque eles decidiram fazer "Shazam!" primeiro. [Risos.] E eu disse, OK, sem problemas.

Você vem interpretando personagens heroicos em seus filmes já há alguns anos. Foi um risco fazer "Adão Negro", já que não é assim tão fácil definir a postura moral do personagem?
Eu fiz questão de incorporar todas as características que fariam dele um supervilão —sua violência e brutalidade, e sua filosofia sobre a justiça. Justiça dura. Ele é muito econômico com suas palavras, mas também com seus poderes. A história não é uma matança. Ele ataca aqueles que merecem ser atacados, enfim. Mas nunca encarei isso como um risco. Uma coisa é ele ser violento, brutal e cheio de raiva. Mas quando dedicamos o tempo necessário a contar sua história de origem e mostrar por que ele se tornou assim, não corremos um risco.

Você foi um malvado dos ringues um vilão deliberado quando era lutador profissional de luta livre, em uma época na qual a liga abraçava homens impiedosos, mulheres sexualizadas e linguagem obscena. Isso ajudou em alguma coisa no seu desempenho como Adão Negro?
Com certeza ajudou, sim. Mesmo no mundo selvagem e imprevisível da luta livre profissional, havia grandes benefícios em interpretar o malvado. Eu me tornei, naquela época, o maior e melhor dos malvados da companhia. Aquela foi a Era da Atitude, como eu a chamo, um período muito especial no mundo da luta livre profissional. A empresa não tinha ações negociadas em bolsa, e por isso podíamos voar sob o radar. E algumas das coisas —muitas das coisas– que conseguimos colocar no ar então nos causariam problemas, hoje em dia. Mas aquele período como malvado me ensinou que você pode fazer qualquer coisa —desde que as pessoas se identifiquem com seu personagem.

Nos seus tempos de vilão, você teve que aprender a aceitar que estava lá para que o público pudesse vaiá-lo?
Antes de me tornar um grande vilão, comecei como o mocinho ingênuo. Disseram-me para sorrir o máximo que pudesse. Foi Vince McMahon que me disse isso. "Você tem de entrar no ringue se sentindo grato por estar aqui". Fui vaiado em todas as arenas do país. Tive que suportar aquele tipo de ataque. Quando me tornei o malvado, eu me esforçava o mais que pudesse para conquistar as vaias, para estar disposto a abraçá-las.

O DC Extended Universe passou por algumas reviravoltas e altos e baixos inesperados alguns filmes que pareciam sucessos garantidos não deram certo, e outros, menos promovidos, foram sucessos surpreendentes. Isso coloca mais pressão sobre você e sobre "Adão Negro"?
Sim, e eu aceito essa pressão. É uma época única no gênero dos filmes de super-heróis, onde há sangue novo e novos personagens chegando à cena dos dois lados do corredor —na Marvel e certamente na DC. E o lançamento de "Adão Negro" está convergindo com um momento em que eles estão promovendo mudanças na liderança da Warner Bros., e novas lideranças do lado DC também estarão chegando em breve. Eu me sinto muito confiante quanto à direção do universo DC. Será necessária uma verdadeira estratégia e uma verdadeira liderança. E isso exige que não olhemos para o sucesso da Marvel e pensemos em copiar o mesmo plano. A Marvel é a Marvel. Estou muito feliz por eles. Mas não queremos ser a Marvel, em minha opinião. Queremos ser a DC, e queremos fazer as coisas do nosso jeito.

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

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