Em 'The Serpent Queen', Catarina de Médici vai de 'Rainha Má' a 'Fleabag'
Samantha Morton interpreta a monarca e diz que se identifica com ela
Samantha Morton interpreta a monarca e diz que se identifica com ela
Reza a lenda que Catarina de Médici foi a inspiração para a Rainha Má da Branca de Neve. Diz-se que ela incentivava a percepção pública de que era dada a tiranias, além de também ser adepta da feitiçaria e do uso de envenenamento contra quem batia de frente com ela.
Essa última é a característica destacada no título da série "The Serpent Queen" (a rainha serpente, em tradução livre), que estreia neste domingo (11) no serviço de streaming Starzplay. Na trama, a italiana que virou rainha da França no século 16 é vivida pela britânica Samantha Morton, 45.
"Naquela época, mulheres que mexiam com ervas eram chamadas de bruxas, já os homens eram inteligentes, alquimistas", reclama a atriz em evento da associação americana de críticos de TV (TCA, na sigla em inglês) que o F5 acompanhou. "A história descreve as mulheres como diabólicas ou malvadas por serem inteligentes e astutas."
Criador e produtor executivo da série, o americano Justin Haythe elogia a personagem, que ele considera à frente de seu tempo. "Ela não ligava para a opinião dos outros e era brilhante em manejar a visão que tinham dela", avalia. "Como você governa e intimida se você não é um cara grande e forte como Henrique 2º? Era ela própria quem promovia a ideia da 'rainha serpente'. Os rumores eram muito úteis para ela."
Ele lembra, porém, que a figura história teve uma vida bastante trágica e que precisou recorrer a tudo o que estava à mão para sobreviver na corte francesa, para onde foi enviada aos 14 anos para se casar. No reinado do marido, foi preterida pela amante dele, sua amiga Diana de Poitiers (na série vivida pela francesa Ludivine Sagnier).
A rainha teve dez filhos, dos quais sete chegaram à idade adulta e três se tornaram reis da França em diferentes períodos (Francisco 2º, Carlos 9º e Henrique 3º). Com exceção deste último, todos morreram antes dela. "É como uma maldição de conto de fadas", admite Haythe.
Por isso, ele diz acreditar que a rainha tinha muitos conflitos internos. Para explicitá-los, o criador acrescentou ao roteiro toques de "Fleabag" —a série que não inventou, mas se notabilizou pela quebra da 4ª parede, quando a personagem falava diretamente com o espectador.
"Sempre gostei da ideia de uma vilã de livros de história que meio que contasse para nós por que ela tinha feito aquelas coisas, para quem sabe fazer a gente mudar de ideia sobre ela", diz o criador. "Tem gente que acha ela perversa, mas a ideia da série é olhar para a Catarina jovem e para a Catarina adulta e realmente se perguntar se ela é uma pessoa malvada que, às vezes, tem um lado bom ou uma pessoa boa que é capaz de fazer maldades para sobreviver."
Morton diz que esse olhar sobre a personagem foi o que a encantou no papel. "Precisamos de mais histórias femininas e de mais histórias que olhem para a História e digam: 'Foi isso mesmo que aconteceu?' Porque muitas vezes é apenas uma perspectiva masculina do que aconteceu", avalia a atriz.
A atriz, mais conhecida no Brasil como a Alpha da série "The Walking Dead", conta que ficou animada de poder interpretar uma personagem tão complexa. "A história dela é incrivelmente fascinante, complexa e sedutora, mas também devastadora", adianta.
Apesar de confessar ter ficado com um pouco de medo, ela diz que não teve receio de pegar uma personagem tão desafiador. "Na vida, às vezes, sentir medo é saudável", afirma. "O que não é saudável é deixar o medo te paralisar. Esse sentimento de excitação é bom. Eu amo desafios."
Para achar o tom da personagem, ela diz que teve longas conversas com o criador da série, estudou bastante os roteiros e também trocou ideias com a atriz Liv Hill, que interpreta a rainha quando jovem. "Tendo em conta que ela é italiana, penso nela quase como um Don [Corleone], de 'O Poderoso Chefão'", compara. "Ela pensa bastante antes de agir, não tem a necessidade de ter uma reação imediata de nada. Ela é quieta e um pouco trapaceira, mas não acho que seja malévola."
Além disso, ela também contou que conseguiu se conectar de uma forma muito especial à personagem. "Pessoalmente, tive uma infância muito complicada, fiquei sem ter onde morar na adolescência, passei por várias situações indesejadas", lembra. "Então me identifiquei quando li sobre a história da Catarina."
"Obviamente, não sou da realeza, mas sei o que é alguém não ter nada e ir progredindo aos poucos, como ela", compara. "Tem alguns momentos em que penso: 'Sei como é sentir isso'. Pode soar estranho, mas interpretar essa rainha formidável, de certa forma, é algo muito próximo. É maravilhoso ter essa oportunidade e, aos 45 anos, estar fazendo uma personagem tão importante na trama."
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