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Cinema e Séries
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'Stranger Things': Ator diz como entregador chapado da série mudou sua vida

Eduardo Franco dá vida a Argyle e espera ser alívio cômico em meio à tensão

Eduardo Franco, o Argyle de 'Stranger Things', posa para foto Ryan Lowry/The New York Times

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Sadiba Hasan
The New York Times

A turma de "Stranger Things" está em perigo, em Lenora Hills, Califórnia –há um tiroteio, e um agente está perdendo sangue. A câmera corta abruptamente para mostrar o distraído Argyle, interpretado por Eduardo Franco, que chega à casa dos Byers em seu furgão de entrega de pizzas, do qual se ouve o estrondo de "Pass the Dutchie", um grudento hit de reggae.

"Byers está dando uma festa sem me convidar, cara?", ele diz. "Isso não é nada cool".

Motorista do grupo, e fumante devotado de "plantas malcheirosas", nas palavras de Eleven (Millie Bobby Brown), Argyle oferece os momentos de humor na temporada mais horripilante da série; sua energia leve parece servir como contrapeso às forças sombrias que estão atacando o grupo.

"Argyle entrega pizzas, e ocasionalmente desfruta de substâncias psicodélicas", disse Franco em uma recente entrevista por vídeo. "É a combinação perfeita: ele sempre tem comida pronta e quentinha, e um pouco de erva".

Como um dos acréscimos mais importantes ao elenco na temporada quatro da série –cujo último episódio chegou na sexta-feira à Netflix—, Franco encontrou seu espaço servindo como a válvula de escape da história, constantemente chapado mas sempre uma fonte garantida de hilaridade. No entanto, Argyle vai além do estereótipo do bom amigo maconheiro e também acrescenta um pouco de sentimento à história, primariamente na forma de sua sua doce amizade com Jonathan Byers (Charlie Heaton) –ainda que isso frequentemente envolva os dois estarem completamente fora do ar de tanto fumo.

O papel mais importante de Franco antes de Argyle veio em "Fora de Série", comédia de Olivia Wilde sobre duas amigas encarando os desafios do final da adolescência, como um aluno de segundo grau de 20 anos de idade, chamado Theo, que é recrutado pelo Google para trabalhar como criador de software. Foi sua interpretação no filme que o conduziu ao atual papel –Finn Wolfhard, que interpreta Mike Wheeler em "Stranger Things", viu Franco no filme e o sugeriu para o papel.

Franco estava em Biarritz, França, para onde viajou como parte da parceria de branding entre "Stranger Things" e a marca de material de surfe Quicksilver, que responde por boa parte do guarda-roupa de Argyle. Na conversa, ele mostrou ser claramente mais astuto que seu personagem, mas igualmente engraçado e informal, disparando palavrões com a mesma descontração com que Argyle acende seus baseados.

Na entrevista, Franco falou de suas inspirações para desenvolver o personagem, e sobre "mergulhar na estranheza" que o papel de desavisado permanente traz. Abaixo, trechos editados de nossa conversa.

O que o atraiu, no personagem Argyle?
Amei a ideia de que, com alguma sorte, eu pudesse representar uma rajada de ar fresco no caos que surgiria na série. As coisas tendem a escapar ao controle, na história, e minha esperança era a de que eu fosse o cara que permitiria que as pessoas rissem um pouco, depois de 45 minutos muito tensos.

Você se inspirou em maconheiros famosos do passado do cinema?
Sean Penn, em "Picardias Estudantis", estava sempre em meus pensamentos. Minha abordagem inicial era a de estar sempre completamente chapado –quero dizer o personagem, e não Eduardo, o ator. Eu queria que Argyle fosse completamente desavisado. Quando alguém dissesse "Argyle, precisamos sair daqui agora", minha reação seria um "hein?" Mas eu sabia que, por conta da energia e da adrenalina das cenas, isso nem sempre funcionaria.

Que idade tem o furgão que você dirige no filme?
Foi complicado, é um carro da década de 1980. Um dublê que é motorista de ação me ensinou a dirigir aquele veículo —eu nunca tinha dirigido um carro com câmbio manual, e foi muito difícil aprender, porque o furgão era velho demais. Mas ele estava sempre no furgão comigo quando eu estava dirigindo, e se escondia na traseira para as câmeras não o apanharem.

Houve alguma cena especialmente divertida de filmar?
A cena na mesa de jantar é a minha favorita pessoal. Eleven está irritada. Mike também está preocupado. Joyce e Murray [interpretados por Wynona Ryder e Brett Gelman] estão mentindo sobre viajar ao Alasca. E eu e Jonathan fumamos tanta maconha que estamos fora do ar.
Foi divertido demais, ficar sentado ali, mergulhados na esquisitice. Quando chegava a hora de eu e Charlie dizermos nossos diálogos, nós às vezes fazíamos uma pausa, com todo mundo esperando, e nós dois lá, só comendo bem devagar. Era muito divertido fazer Wynona e Brett caírem na risada. Adoro o trabalho quando consigo fazer as pessoas rirem –o operador de câmera, a equipe, as pessoas que passam o dia todo carregando coisas. E tudo parecia muito orgânico, dividir a tela com Charlie e Finn e todo mundo mais.

O que o relacionamento entre Argyle e Jonathan trouxe para a dinâmica da série?
Jonathan está sofrendo. Acho que eles se tornam amigos instantaneamente porque Jonathan precisa de alguém que o escute, e Argyle está lá, disponível. Argyle tem o caráter que todos nós gostaríamos de ter: ele não julga os outros. Está lá para curtir com seu amigo, e para ouvir Jonathan e ajudá-lo, não importa o que o amigo lhe diga.

Você acredita que Argyle tenha capacidade para lidar com qualquer que seja o perigo que vier a aparecer à sua frente?
Não posso contar coisa alguma, mas, cara, ele está sempre completamente fora do ar. Coitado do sujeito.

Como é que se tornar parte de um grande fenômeno internacional como "Stranger Things" mudou sua vida?
Na estreia da quarta temporada, em Nova York, quando nos sentamos para ver a exibição do primeiro episódio, fiquei muito emocionado e comecei a chorar. Ainda bem que estava escuro e ninguém viu. Ser parte de alguma coisa tão imensa é uma sensação atordoante, e espero que as pessoas consigam aceitar meu personagem como o novo cara da série. Espero que ele sirva ao seu propósito, o de trazer uma rajada de ar fresco e aliviar toda a loucura que está acontecendo.

As pessoas já começaram a reconhecê-lo em público?
Sim! Por exemplo, quando fui à França, na semana passada, saí de bicicleta para comprar alguma coisa em um mercadinho. Minha bicicleta não tinha freios e, quando eu estava chegando, e tentando usar os pés para parar, um cara começou a apontar e a rir. E de repente ele se deteve e perguntou: "Você é o sujeito de ‘Stranger Things’? O que você está fazendo aqui, cara?" E eu respondi que tinha ido comprar croissants de chocolate e um adaptador para poder recarregar meu celular. Foi engraçado; mas é esse o tamanho da série.

Um trabalho como esse quase sempre significa um bom empurrão para uma carreira. Em que tipo de projeto você espera trabalhar no futuro?
Já fiz um par de filmes, mas trabalhar em um filme daqueles que abalam as pessoas quando elas vão ao cinema é o meu sonho. Não sei se aquela era já ficou de vez no passado, mas recentemente assisti a "Top Gun - Ases Indomáveis", e foi incrível. Essa é uma esperança que tenho.
E eu adoraria participar da criação dos projetos, mas não necessariamente sei como fazer todas essas coisas, por enquanto. Estou tentando aprender todas essas coisas. Não sei [ele usa um palavrão] nenhuma ainda, mas estamos todos aprendendo.

Tradução de Paulo Migliacci

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