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Andrew Rannells Instagram/andrewrannells

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Daniel Jones
The New York Times

Em um ensaio que publicou em 2017 na seção Modern Love do New York Times, o escritor, ator e diretor Andrew Rannells relata um encontro que terminou tragicamente quando ele descobriu que seu pai havia sofrido um colapso e estava em coma. O título do ensaio era “durante uma noite de sexo casual, mensagens urgentes passaram sem resposta”. O pai de Rannells morreu poucos dias mais tarde.

Miya Lee e eu recentemente conversamos com quatro escritores cujos ensaios inspiraram episódios na segunda temporada da série “Modern Love”, na Amazon Prime Video. Abaixo, leia minha conversa com Rannells, que dirigiu o episódio baseado em seu texto. A entrevista foi editada.

Você dirigiu o episódio baseado no seu texto, um ensaio que você escreveu para Modern Love e conta sobre a morte de seu pai quando você tinha 22 anos. O que você estava tentando capturar com a história?
Bem, foi um acontecimento inesperado e traumático que veio em um momento inesperado quando eu estava com uma pessoa completamente inesperada, e é assim que a vida funciona às vezes.

Eu tinha ido a um primeiro encontro com um cara que eu não conhecia bem. Não sabia se gostava muito dele, mas eu só tinha 22 anos e queria namorar. Terminei fazendo sexo com ele e, assim que acabamos, olhei meu celular e encontrei um monte de mensagens da minha família informando que meu pai estava em coma, tinha sofrido um ataque cardíaco e estava para morrer.

Tive de absorver todas essas informações na companhia de um desconhecido. E isso colocou muita coisa em perspectiva sobre o que eu queria, sobre com quem eu gostaria de passar meu tempo e sobre confiar em meus instintos. Se você se apanha dizendo a você mesmo que ‘eu não quero muito fazer sexo com esse cara’, talvez o certo seja não fazer.

E sim, fiquei em pânico e perturbado naquela noite e não tratei muito bem o cara com quem saí. O episódio foi uma oportunidade de imaginar qual foi a reação dele àquela noite.

Foi seu primeiro trabalho como diretor. Você em algum momento chegou a pensar que não fazia ideia do que estava fazendo?
Sim, com certeza houve momentos assim. Nós estávamos com tudo preparado para gravar em março de 2020, o que obviamente não aconteceu porque tudo fechou. Por isso, tive um tempo realmente absurdo para preparação e quando setembro chegou, eu estava muito pronto. Além disso, pude escalar alguns amigos e por isso sabia que, se as coisas começassem a desandar, eu só teria de olhar para eles e dizer: ‘Façam alguma coisa, consertem isso!’

As pessoas talvez não percebam que a temporada toda foi gravada durante a pandemia, o que significava toda espécie de restrições e preocupações –máscaras, protocolos, exames.
E escudos, óculos protetores.

Tenho certeza de que tudo isso tornou dirigir e atuar no episódio mais difícil, mas também criou oportunidades inesperadas.
Acho que a maior foi que, em lugar de gravarmos em Manhattan, trabalhamos em Schenectady, Nova York, porque era mais fácil controlar o ambiente lá. Todo mundo precisava estar em Schenectady de quarentena nos hotéis; passamos mais tempo lá do que teria sido o caso se o episódio tivesse sido gravado em Nova York. Ficamos todos juntos por cerca de dez dias e mais o tempo de quarentena.

Boa parte do elenco era de atores de teatro e por isso a sensação era a de uma produção de verão –todo mundo fazia as refeições em grupo e isso tudo nos aproximou muito, e bem rápido.

Qual foi seu momento mais difícil durante a semana?
A resposta vai parecer bem irritante, mas a experiência foi uma completa alegria o tempo todo. Estávamos todos tão felizes por podermos trabalhar. Havia certamente alguma ansiedade no dia em que começamos. O primeiro episódio que começou a ser gravado terminou por ter de ser paralisado durante dois dias por causa de um falso positivo em um exame, e eu logo pensei que ‘meu Deus, isso vai ser um desastre’.

Os atrasos resultaram em que a data da filmagem do meu episódio fosse adiada mais de uma vez, e eu lá no hotel em Schenectady pensando ‘o que estamos fazendo? O que está acontecendo?

Gravar em Schenectady teve algum benefício?
Sim. Eu adorei a cidade, e as pessoas pareciam tão empolgadas com nossa presença lá. Depois de trabalhar por seis anos em "Girls", que era gravada em Nova York, eu tinha me acostumado com a impaciência das pessoas nas ruas. Nós estávamos filmando e as pessoas pensando "só quero chegar em casa o mais rápido possível". E eu tendo de pedir: "Por favor, pessoal, temos só mais uma fala para gravar".

O que você espera que as pessoas extraiam do seu episódio?
Que é preciso perdoar o seu eu mais jovem pelos erros que pode ter cometido. Por muito tempo, foi realmente doloroso para mim pensar sobre aquela noite –lembrar do meu pai morrendo e de como me comportei. Eu não sabia como lidar com a questão. Mas agora, recordando o acontecido aos 42 anos, eu penso que é claro que eu não sabia como lidar com aquilo. Muita coisa de errado aconteceu em uma só noite. Mas precisei de muito tempo para me perdoar.

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