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Cena da série Schmigadoon

Cena da série Schmigadoon Divulgação

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Laura Collins-Hughes
The New York Times

O cineasta Barry Sonnenfeld nunca foi um homem de teatro. “Não sou fã de musicais da Broadway”, ele resmungou afavelmente ao telefone. “Não sou fã de musicais filmados. Não entendo por que uma pessoa pararia de falar e começaria a cantar”.

Por isso, Sonnenfeld, conhecido pelos filmes “Homens de Preto”, foi uma escolha curiosa para dirigir “Schmigadoon!”, nova comédia do serviço de streaming Apple TV+, uma série cujo título mesmo já satiriza o teatro musical.

O showrunner, Cinco Paul, fã do trabalho de Sonnenfeld em “Pushing Daisies", uma série altamente estilizada e ocasionalmente musical, não estava ciente da aversão do diretor até o começo das filmagens em Vancouver, Canadá, no final do ano passado, em meio à pandemia. O elenco estrelado da série está repleto de nomes famosos da Broadway.

“Lá estávamos nós em pleno set”, recorda Paul", e ele resmungando, só meio em tom de brincadeira, sobre termos canções demais na série”. Se computarmos as reprises, são quase duas dúzias –compostas por Paul, que criou a série, com Ken Daurio– e distribuídas pelos seis episódios de meia hora que começam a ser veiculados em 16 de julho.

Uma sátira carinhosa e informada aos musicais americanos clássicos, “Schmigadoon!” é estrelada por Cecily Strong, de “Saturday Night Live”, e Keegan-Michael Key, recentemente de “The Prom”, na Netflix, como um casal contemporâneo cujo relacionamento está estagnado. Em uma viagem de acampamento, eles encontram por acaso uma cidade chamada Schmigadoon, saída de um musical e congelada no tempo, da qual só poderão escapar quando encontrarem o amor verdadeiro.

Paul, que cresceu ouvindo a coleção de discos de sua mãe com interpretações originais dos elencos de grandes musicais e foi pianista acompanhante de musicais na Universidade Yale, diz que a ideia básica para “Schmigadoon!” ocorreu cerca de 25 anos atrás. Ele não soube o que fazer com ela, e a deixou de lado até que Andrew Singer, da Broadway Video, produtora de Lorne Michaels, mencionou que eles estavam interessados em musicais, alguns anos atrás. Deu match.

De acordo com Strong, Michaels, como ela, é “apaixonado por musicais”. E a série contratou diversos roteiristas com passagens pelos palcos, entre os quais Julie Klausner (“Difficult People”) e Bowen Yang, colega de Strong em “Saturday Night Live”.

Em Schmigadoon, a população local inclui o doce e melancólico prefeito Aloysius Menlove, interpretado por Alan Cumming, ator ganhador do Tony; Mildred Layton, uma defensora intransigente da moral interpretada por Kristin Chenoweth, também ganhadora do Tony; e o belo Danny Bailey, um trabalhador de circo interpretado por Aaron Tveit, que foi informado de sua indicação ao Tony por “Moulin Rouge” durante a filmagem da série. Outros nomes famosos da Broadway incluem Jane Krakowski, Ann Harada e Ariana DeBose.

Recentemente, Paul, Sonnenfeld e alguns membros do elenco falaram separadamente por telefone sobre “Schmigadoon!”, e sobre sua afinidade, ou falta de, pelos musicais. Abaixo, trechos editados dessas conversas.

Cinco Paul: Eu queria gente de teatro musical, credenciada. Pessoas acostumadas a fazer oito espetáculos por semana, e experimentadas, porque queria que todos cantassem suas partes, e gostaria de gravar o canto direto no set, na medida do possível. A quantidade de talento que conseguimos atrair foi fenomenal, e infelizmente isso aconteceu porque as pessoas não tinham outro lugar para trabalhar –já que os teatros estavam fechados. Em muitos casos, os papéis foram escritos para os atores escolhidos.

Barry Sonnenfeld: Quando fui entrevistado para o trabalho, eu disse: “Olha só, eu gostaria de filmar tudo isso no estúdio, e em Vancouver, porque Vancouver tem estúdios ótimos, equipes ótimas, e tudo lá é mais barato”. O que terminou sendo surreal e maravilhoso foi que Vancouver era o único polo cinematográfico aberto quando gravamos. Los Angeles estava parada. Nova York também.

Cecily Strong: Tivemos de gravar nossas introduções para “Saturday Night Live” logo antes de eu viajar para Vancouver. E lá estava eu circulando por Nova York, e todos os teatros fechados. Foi um pouco devastador.

Kristin Chenoweth: Para mim, ir ao Canadá valia o risco. Fiz duas semanas de quarentena sem sair do meu quarto de hotel. Alan Cumming, um dos meus melhores amigos, estava no quarto ao lado. E cantávamos juntos de banheiro a banheiro, porque conseguíamos nos ouvir, mas não ousávamos abrir a porta.

Alan Cumming: Parecia uma sitcom bizarra. Foi hilariante.

Cinco Paul: Uma das coisas difíceis na pandemia é que não podíamos ficar juntos curtindo no set o tempo todo. Não havia como fazê-lo. Mas me lembro de convidar Aaron para uma visita e de lhe mostrar um número musical de elenco que tínhamos acabado de gravar. E me lembro de que ele ficou comovido quando viu.

Aaron Tveit: Poder ir trabalhar em um musical, em um momento como aquele, foi uma alegria. Tivemos a experiência única de essencialmente fazer um musical seguindo todos os protocolos [do sindicato dos atores], e a sensação era de total segurança. Quando as câmeras começaram a rodar, era como se a vida tivesse voltado ao normal.

Barry Sonnenfeld: Para mim, foi uma verdadeira experiência de aprendizado. Terminei forçado a assistir a alguns musicais que nunca tinha visto, e ligava para Cinco para dizer: “Bom, odiei esse último. Odiei ‘Carrossel’”. E “não entendo ‘Brigadoon’, não faz sentido algum para mim”. Ou “mas do que você gosta em ‘Sete Noivas para Sete Irmãos’”?

Keegan-MichaelKey: Meu relacionamento com os musicais clássicos é de muito carinho. Eles me empolgam. E me consolam um pouco, porque sempre terminam de um jeito bonito. Na minha escola de segundo grau, não fazíamos peças no grupo de teatro. Só fazíamos musicais. O primeiro em que trabalhei foi “Joseph and the Amazing Technicolor Dreamcoat”. No ano seguinte fiz o papel de Jesus em “Godspell”, e isso decidiu a questão. Eu disse: “Não quero ser veterinário. Quero ser ator”.

Strong: Cresci no subúrbio de Chicago, mas eu viajava sempre com meu pai a Nova York, para ir ao teatro. Acho que o primeiro espetáculo que vi foi “Secret Garden”, e fui aos bastidores. Quando eu era adolescente, tive por muito tempo na parede do meu quarto um painel que minha mãe montou com recordações da viagem, e o programa da peça. O título era “Cecily na Broadway”. Já passei noites em claro com amigos do mundo da comédia em que terminávamos confessando que amávamos musicais, na adolescência. Já virei noites cantando e chorando com “Into the Woods”, com meu amigo Sam Richardson.

Alan Cumming: Não sou o maior fã de musicais. Só fiz dois no palco, “Cabaré” e “A Ópera dos Três Vinténs”. Ou seja, minha especialidade é a era da república de Weimar. Fazendo “Schmigadoon!”, tive de aprender sobre aquilo que eu estava parodiando. Por exemplo, Aaron –o personagem dele mais ou menos se baseia no cara de “Carrossel”.

Aaron Tveit: Eu pude interpretar um cara bem parecido com Bill Bigelow, o que foi maravilhoso.

Kristin Chenoweth: Todos os números musicais eram como que uma ode ou um aceno a outras canções famosas do teatro musical, e a minha é parecida com “Trouble in River City”, de “Music Man”. Quando Barry Sonnenfeld me ligou e disse que “Cinco e todo mundo mais querem que você faça esse papel”, eu li o roteiro e achei hilário. E aí vi a canção, “Tribulation”, e a letra tinha 18 páginas, com partes faladas. E ele me disse: “E quero que você acerte em um take”. Ou seja, sem cortes. Ele me conhece. Sabe que amo um desafio.

Barry Sonnenfeld: Uma tomada contínua com mais de quatro minutos. Não conheço outra atriz a não ser Chenoweth que fosse capaz de fazer aquilo tão bem.

Keegan-Michael Key: “Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street” é o favorito, entre os musicais que vi ao vivo. No cinema, é “Cantando na Chuva”. Porque “Cantando na Chuva” é um trabalho maravilhosamente exuberante. É um trabalho atlético. Também é completamente acessível, e ao mesmo tempo inteiramente por dentro do jogo. “Schmigadoon!” é exatamente assim.

Alan Cumming: Eu nunca fui capaz, pelo menos não no teatro, de fazer aquela coisa de “estou falando com você, mas agora estou cantando”. A ideia seria de que as pessoas o fazem quando as palavras já não bastam, e elas precisam se expressar por música. Quando começo a cantar minha grande canção na floresta com Cecily, ela comenta: “Ah, entendi. Vamos ter uma reprise”. Adorei que aquilo fosse feito assim, de um jeito tão escancarado, como se tivéssemos deixando de lado todo fingimento sobre o motivo para cantar. A ideia passa a ser: é hora de cantar, e pronto. Foi bom fazer uma série assim, que desconstrói tudo isso e expõe o artifício.

Cinco Paul: Na sala dos roteiristas, discutimos o quanto os musicais são charmosos, o quanto eles são encantadores, mas às vezes também são estúpidos, e às vezes problemáticos. Queríamos lidar com todas essas coisas. E se aquelas pessoas fossem reais e não pudessem ser totalmente elas mesmas porque estavam em um musical? Os moradores da cidade estavam aprisionados, de alguma maneira. Por isso a introdução daquelas duas pessoas modernas – nós sempre quisemos que eles mudassem, mas uma das outras grandes ideias era a de que elas mudariam a cidade um pouco, a levariam a avançar.

Barry Sonnenfeld: Amei o elenco e a equipe, e as canções eram muito animadas, mas há muito artifício ali. O interessante sobre dirigir um trabalho assim é como abraçar todo o artifício mas manter a ação totalmente real. O agradável, para mim, é que criamos uma série ao mesmo tempo muito estilizada mas também estranhamente real.

Aaron Tveit: Jamais imaginei que, quando a série fosse ao ar, a Broadway ainda não tivesse voltado a operar. Especialmente agora, quando estamos famintos de teatro musical, espero que as pessoas vejam “Schmigadoon!” como uma ponte para atravessar os próximos dois meses, até que os teatros do país comecem a abrir.

Keegan-Michael Key: Minha esperança é a de que a série lembre a todos de que estamos fazendo isso para vocês, agora, mas por favor saiam para ir ao teatro quando puderem voltar a fazê-lo. Somos um substituto adorável, mas só um substituto.

Tradução de Paulo Migliacci

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