Malcolm Lee fala sobre dirigir LeBron em 'Space Jam': 'Habilidade natural'
Astro do basquete acordava 2h para se exercitar antes de ir às filmagens
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A produção de “Space Jam - Um Novo Legado” foi um exercício vertiginoso de encarar o inesperado para o diretor Malcolm Lee.
Para começar, o filme entrou em produção menos de uma semana antes de ele ter assinado oficialmente o contrato para dirigi-lo. Lee foi uma contratação tardia, no terceiro trimestre de 2019, substituindo Terence Nance na cadeira de direção.
O roteiro ainda estava em desenvolvimento. Lee, veterano diretor de comédias como “Viagem das Garotas” (2017) e “Amigos Indiscretos” (1999), jamais tinha trabalhado em filmes de animação e não assistiu a “Space Jam - O Jogo do Século”, o original de 1996 que combinava basquete e os personagens de animação Looney Tunes, estrelado por Michael Jordan.
Além de tudo isso, Lee foi encarregado de comandar um filme construído em torno de LeBron James, um dos atletas mais populares do planeta. James já tinha aparecido na telona antes (especialmente em um papel coadjuvante em “Descompensada”, comédia de 2015), mas jamais tinha sido o ator principal de um longa. “Foi um período de caos organizado”, disse Lee, em entrevista na semana passada.
Lee conheceu James uma década atrás quando eles discutiram a possibilidade de fazer um filme juntos, um projeto que não foi adiante. Sua nova empreitada é uma aposta para ambos: o novo filme será inevitavelmente comparado ao original, agora muito querido, da mesma maneira que James é comparado constantemente a Jordan.
Se o filme fracassar, um trabalho cujo subtítulo é “um novo legado” pode na verdade se tornar um peso para o legado de James.
“Space Jam - Um Novo Legado” é no mínimo auto consciente. Em determinado momento, James interpretando a si mesmo comenta que atletas em geral se saem mal demais quando tentam trabalhar como atores. (Da mesma forma que no original, outros jogadores de basquete fazem participações –entre os quais Damian Lillard, Anthony Davis e Diana Taurasi).
O filme também destaca Don Cheadle como a manifestação malévola de um algoritmo chamado Ops, Al G. Rhythm, que sequestra James, seu filho mais novo (Cedric Joe) e os demais integrantes do universo de personagens de animação da Warner Bros.
Além de se preparar para o filme, James também estava tentando manter a forma para a temporada da NBA. Lee disse que, nos dias de filmagem, James acordava às 2h e se exercitava até as 6h, e aí ia para o set para trabalhar o dia todo.
Na entrevista, Lee, que é primo do também cineasta Spike Lee, 13 anos mais velho, falou sobre seu amor pelo basquete e sobre a experiência de dirigir um astro sem formação tradicional como ator. Abaixo, trechos editados de nossa conversa.
Você jogava basquete quando era criança?
Comecei a jogar basquete organizado na terceira série. Eu não era tão ligado ao esporte, mas meu pai e meu irmão me encorajaram e comecei a jogar em uma liga de Brooklyn chamada Youth Basketball Association. Meu pai treinou o time por um ano. Outra coisa divertida é que Spike, que na época estava morando conosco, era o treinador assistente.
Falando sério?
Juro por Deus. E Spike confirmará. Houve uma semana em que meu pai viajou para o Alabama –ele veio de lá– e Spike teve de nos treinar. Não tínhamos perdido jogo nenhum na temporada até aquele dia, e por isso ele estava apavorado. E nós ganhamos mais uma. Ele não queria destruir as estatísticas do meu pai.
Como foi sua primeira conversa com LeBron quando você aceitou a proposta para dirigir “Space Jam - Um Novo Legado”?
Acho que LeBron tinha a mesma agenda que todo mundo e queria fazer um ótimo filme. Ele queria garantir que eu sabia o que estava fazendo, que minha visão fosse clara e que as necessidades dele fossem atendidas. Não queria ser mimado, mas queria ter certeza de que havia um líder a bordo capaz de dizer “é isso que vamos fazer e vamos fazer da seguinte maneira”. Eu garanti a ele que, embora atrasos pudessem acontecer –você nunca sabe—, eu sempre fui profissional, trabalho com isso há muito tempo e posso garantir que você vai ter a atenção de que precisa.
Você tinha reservas quanto a trabalhar com um astro do basquete que não tem o treinamento tradicional como ator que alguém como Don Cheadle tem?
Na verdade, não. LeBron está diante das câmeras desde que tinha 18 anos. Alguém pode dizer que eram só entrevistas, mas um atleta tem de responder às mesmas perguntas inúmeras vezes. E com certeza ele tem algumas respostas ensaiadas. Além de ser um cara muito engraçado. E de querer ser um bom ator. Trabalhou bem em “Descompensada”. Existem atores que fazem algumas cenas e dizem “OK, agora vocês podem montar alguma coisa com isso”, e outros que são naturais. Acho que LeBron tem muita habilidade natural.
Não estou pedindo “spoilers”, mas existe uma cena em que LeBron precisa transmitir determinada emoção com relação ao seu filho. Houve alguma preparação especial que você ou ele tenham feito para a cena? Porque aquilo certamente estava fora da zona de conforto dele.
Com certeza. Veja, a primeira coisa que procuro construir com qualquer ator é a confiança, certo? Tem de existir confiança. Eles precisam confiar em mim porque vou lhes pedir para ir a alguns lugares nos quais eles podem não se sentir muito confortáveis. Por isso, sim, conversamos sobre alguma coisa antes de ele dizer aquelas linhas. Depois fizemos um par de tomadas–só para esquentar. Se não consigo o que estou querendo, eu proponho: “Por que você não pensa em tal coisa? E não se preocupe tanto assim com o diálogo. Guarde na cabeça e diga”.
O cinema é uma mídia na qual quem manda é o diretor, e o basquete é comandado pelos jogadores, já que jogadores podem conseguir a demissão de um treinador ou desconsiderar o que um técnico pede. Essa dinâmica surgiu alguma vez durante o filme?
Não. Não acho que tenha aparecido nenhum momento de “quero fazer isso assim e não me importa o que você diga”. Acho que LeBron gosta de ser treinado. Ele é mestre de sua arte. Mas ao mesmo tempo há pessoas na lateral cujo trabalho é dizer “não se esqueça de fazer isso, pense naquilo, estou vendo tal coisa na quadra e você não, blábláblá”. E acho que ele incorpora essas informações. Atuar é a mesma coisa.
Durante a filmagem do “Space Jam” original, Michael Jordan recebeu outros jogadores da NBA para jogos de improviso. Aconteceu coisa parecida desta vez?
Uma quadra foi construída para [James] no estúdio da Warner. Eu fui a um jogo e foi emocionante para mim, porque sou muito fã de basquete. Chris Paul estava lá, Ben Simmons, Anthony Davis, JaVale McGee, Draymond Green.
Você não pediu para jogar?
De jeito nenhum.
Mas que oportunidade desperdiçada, cara!
Você está brincando? A oportunidade de passar vergonha. Muitos desses caras entram na quadra sem saber que sou o diretor do filme. Vão perguntar: “Quem é esse cara?” Eu não posso ficar lá me apresentando, dizendo que joguei torneios internos da universidade em Georgetown. Não vai impressionar qualquer um desses caras.
Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci
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