Letícia Colin vive médica viciada em crack em série: 'Muito comovida'
'Onde Está Meu Coração' mostra drama familiar gerado pelas drogas
'Onde Está Meu Coração' mostra drama familiar gerado pelas drogas
A dependência química é o mote de "Onde Está Meu Coração", série que estará disponível no Globoplay a partir de terça-feira (4) —nesta segunda-feira (3), o primeiro episódio será exibido na Tela Quente, da Globo.
A trama acompanha uma jovem médica que acaba viciada em crack, além de como isso afeta a toda a família. Amanda, interpretada por Letícia Colin, está bem longe do estereótipo que acostumou-se ver em produções nacionais sobre o tema das drogas.
A escolha dos autores George Moura e Sergio Goldenberg se deu para trazer à luz situações que ainda são pouco exploradas. "De fato, é um tema tão antigo quanto a humanidade, mas ainda é tabu", diz Moura em evento com a imprensa para apresentar o projeto. "Você diz que tem diabetes, pressão alta, mas não que tem dependência química."
"Sobretudo nas classes médias e altas se esconde a questão da dependência química", completa Goldenberg. "Sentimos nos grupos que conhecemos, nas clínicas, como isso está presente. Essa pessoa deixa de existir, é internada em uma clínica e, talvez por isso, não seja a face mais aparente do problema."
Moura também considera que a profissão de médica trouxe ainda mais dramaticidade à trajetória da personagem. "A escolha da protagonista foi deliberada, porque ela tem capacidade de compreender os efeitos nocivos, mas não tem como se livrar da dependência", afirma.
Os dois autores, assim como parte do elenco, participaram de reuniões dos NA (Narcóticos Anônimos) para compreender melhor do que estavam falando. Conversaram com muitos especialistas para mostrar tudo da forma mais real possível.
Porém, Goldenberg afirma que todas as informações estarão de forma sutil na tela. "Existem diversos aspectos que são estudados pelos psiquiatras e psicanalistas que aparecem, mas não de forma didática", diz. "A gente não quer explicar nada."
Nada nos dez episódios de cerca de 40 minutos foi gravado em estúdio. Em vez disso, a produção optou por usar locações em São Paulo e no interior do estado. Para a diretora artística Luísa Lima, isso trouxe a possibilidade de explorar ambientes que combinavam com o sentimento dos personagens.
"Tentamos trabalhar as locações dando muito sentido ao que aquilo representava para os personagens", explica. Entre eles, estão o apartamento modernista que Amanda divide com o marido, Miguel (Daniel de Oliveira), e o hospital gigantesco em que ela trabalha, cheio de rampas e elevadores (que, na verdade, era o Centro de Treinamento Paraolímpico).
Os três criadores afirmam que este é um bom momento para a estreia (que estava prevista para 2020, mas foi adiada por causa da pandemia) de uma série tão dramática. Mesmo em um momento em que o público vem demonstrando certa saturação com o excesso de notícias negativas nos telejornais.
"Tenho essa mesma saturação da situação da pandemia", admite Moura. "Mas como espectador adoro ser capturado por uma história que me leve para outro lugar. Não precisa ser necessariamente uma comédia boba. Quando um drama me faz sair do lugar, eu passo a relativizar mais o que está acontecendo."
Lima também lembra que a série trata de um assunto duro, mas propício. "Está todo mundo vendo a necessidade de se ressignificar diante da vida", avalia. "A série aprofunda muitas camadas do sofrimento humano para justamente tentar iluminar caminhos de cura, de esperança e de valores humanos como empatia e amor."
Moura lembrou que o crack, especificamente, sempre foi muito associado à miserabilidade, tanto por causa do preço, da facilidade para se conseguir e, também, pelas imagens da cracolândia. Nas pesquisas, porém, descobriu também a existência de "cracolândias privê", apartamentos onde pessoas de classe média e alta vão para usar a droga sem serem importunados pela polícia.
Durante a pesquisa para a personagem, Letícia Colin visitou a região do centro de São Paulo com muito tráfico e usuários de drogas, bem como conversou com viciados. "É um lugar de muito afeto, de família, diferentemente do que todo o mundo diz", conta emocionada.
"As pessoas pensam que é um espaço de medo e assombro, mas lá as pessoas se protegem, elas têm sonhos e não queriam estar ali", diz. "São filhos de alguém, irmãos de alguém, são pais, irmãos. Fiquei muito comovida com as pessoas com que conversei ali."
Ela afirma que a experiência mudou sua forma de enxergar o outro. "Temos essa mania de apontar de um jeito muito cômodo, por vários motivos", diz. "Você olhar no olho e saber que essa pessoa existe, isso é muito potente e transformador. A cracolândia é um espaço de resistência e envolve discussões muito complexas."
"Respeito profundamente cada um que me deu um minuto de atenção e sentou ali ao meu lado para conversar", continua. "Olho essas pessoas hoje em dia como meus filhos. Ainda mais depois de ter sido mãe. O mundo seria melhor se a gente entendesse que são filhos do Brasil, são cidadãos. Não conseguir entender isso é cruel. Nós deveríamos cuidar uns dos outros. A cracolândia me ensinou."
Já Fabio Assunção interpreta David, o pai de Amanda. Mesmo sendo médico, ele se vê completamente atordoado a descobrir o vício da filha. "Fazendo um pai de uma dependente química me fez poder ver de fora."
"Ali é o trabalho de ator, acima de tudo, um trabalho. Esse trabalho tinha um assunto mais próximo, mas também não era, estava em outra posição dessa associação", diz. "Trabalhei menos a questão da dependência química e mais como as pessoas veem esse assunto."
O ator, que travou uma longa batalha pessoal contra as drogas, afirma que teve uma longa conversa com Colin sobre o assunto, com quem também participou de uma reunião dos NA. "Esse assunto para mim está tão bem resolvido na minha cabeça, vejo isso com distanciamento e compreensão", diz. "A sociedade não discute esse tema, e quando acontece na casa todo mundo tem que se virar para encontrar um caminho."
Mariana Lima vive a mãe de Amanda, Sofia. A executiva se joga em uma jornada para tentar ajudar a filha. "Quase não teve cena em que a gente não se impactou", conta. "Todas as cenas eram arriscadas emocionalmente e fisicamente. Foi uma série gravada em alta intensidade."
A atriz, que tem filhos adolescentes, diz como trata o tema em casa. "Sempre espero os assuntos brotarem, seja sobre drogas, sexo, tento não me precipitar", afirma. "Tento falar com máximo de franqueza possível e me tenho como exemplo sobre o que não fazer na adolescência. Fui uma adolescente da pá virada, mas eu conversava muito com minha mãe."
Por sua vez, Daniel de Oliveira afirma que se prepara para falar sobre o tema com os filhos, mesmo que ainda sejam crianças. "Até porque hoje em dia tem internet, né? Os assuntos estão aí, eles estão conectados também, mexem no computador, então a gente tem que chegar junto, né?", diz. "Tenho que ser responsável por isso também, para alertar."
O ator, cujo personagem é arquiteto, afirma que esteve com o premiado Paulo Mendes da Rocha, para pegar algumas dicas. "Tive uma conversa muito bacana com ele", comemora. "Essa nossa profissão nos leva a encontrar pessoas maravilhosas no meio do nosso caminho. É muito gratificante."
Ele também lembra que Letícia Colin engravidou logo no começo do projeto, e diz que chorou quando recebeu a notícia. "Tinha uma cena em que tinha que jogar ela no chão, mas não conseguia mais fazer isso, fizemos de outra forma com todo cuidado", revela.
Mesmo assim, a performance da atriz não foi prejudicada de forma alguma. "Já tinha trabalhado com ela em outras coisas, vi um amadurecimento muito grande", elogia. "Essa mulher emburacou no personagem, foi muito importante e muito emocionante."
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