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Cinema e Séries
Descrição de chapéu The New York Times Cinema

'Young Rock', série de Dwayne Johnson mostra períodos difíceis na vida do ator

'Minha mãe foi minha conselheira sobre absolutamente tudo', diz The Rock

Dwayne Johnson Instagram/__.therock_

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The New York Times

É difícil imaginar Dwayne Johnson como algo diferente do sujeito gigantesco e musculoso que se tornou astro de franquias de cinema como "Jumanji" e "Velozes e Furiosos", séries de TV como "Ballers", e nos ringues de luta livre, onde ele primeiro ganhou fama com o pseudônimo The Rock. Mas ele um dia foi menor –pelo menos em termos de idade.

A história de Johnson agora serve como base para a nova sitcom "Young Rock", que estreou recentemente na rede americana de televisão NBC. A série o acompanha em três estágios da vida: pré-adolescente, quando ainda era conhecido pelo apelido Dewey (interpretado por Adrian Groulx); adolescente desajeitado (Bradley Constant); e aspirante a jogador de futebol americano universitário (Uli Latukefu).

"Young Rock" tem Stacey Leilua como Ata, a mãe de Johnson, e Joseph Lee Anderson como seu pai, o famoso campeão de luta livre Rocky Johnson. Dwayne Johnson aparece interpretando a si mesmo na série, criada por Nahnatchka Khan e Jeff Chiang (de “Fresh Off the Boat”).

E embora ele não seja conhecido por ser derrubado facilmente, Johnson, 48, disse em uma entrevista por vídeo recente que o processo de criar “Young Rock” foi tão “incrivelmente surreal” que “me nocauteou”.

“Foi diferente de qualquer coisa em que eu tenha participado, e exigiu especificidade, honestidade e muita atenção a detalhes”, diz Johnson. "E às nuanças, para encontrar o humor e garantir que algumas das lições que aprendi do jeito mais duro pudessem ajudar as audiências jovens."

Johnson falou sobre aproveitar as histórias de sua vida como material para a série "Young Rock", e sobre o fato de a série o forçar a se reavaliar e a reavaliar seu pai, que morreu em 2020.

Confira trechos editados da conversa.

Para começar, ainda existe alguém na sua vida que o chama de Dewey?
Sim, minha mãe me chama de Dewey o tempo todo. E, infelizmente, ela faz isso em público. Eu odiava esse apelido quando era garoto –odiava sempre que meus pais me chamavam assim na frente das garotas, dos professores e dos meus amigos. E o apelido pegou.

Como é que você decidiu em que estágios de sua vida a série concentraria as atenções?
Tive de passar horas conversando com Nahnatchka, contando histórias e falando de minhas lembranças. Depois, quando eu voltava para casa, escrevia sobre as coisas de que tinha lembrado, e dias depois fazíamos uma nova reunião, e eu contava mais histórias. Assim que dissecamos um bom número de anos, Nahnatchka e a equipe dela começaram a avaliar tudo que tínhamos anotado. E foram eles que propuseram a ideia de três linhas do tempo, com o personagem aos 10, 15 e 18 anos, que foram três momentos de definição em minha vida.

Você fez algo especial para ajudar essas velhas histórias a virem à tona, e gerar matéria-prima para os roteiros?
Eu bebi muitas doses de tequila, e isso reavivou minha memória. Eu deixava mensagens de voz para Nahnatchka, depois da segunda ou terceira dose, e dizia 'olha, você nem vai acreditar nisso, mas vou contar mesmo assim'. E aí conversávamos no dia seguinte.

Você quis se envolver na seleção dos atores que fariam seu papel na série?
Sim, na escalação de cada um deles. E pude passar algum tempo com eles, antes das filmagens, para lhes contar sobre como eu era naquele período. Quais eram as prioridades que eu achava ter. E, o mais importante, sobre os momentos em que caí de bunda no chão e tive de me reerguer. Isso já foi suficientemente surreal. Mas o que realmente mexeu com meu coração, por mais escuro e gelado que ele seja, foi encontrar atores para interpretar minha mãe, meu pai e minha avó, e passar algum tempo com eles. Nós conversávamos e eles começavam a falar sobre o que sabiam a respeito de minha mãe, minha avó, meu pai, e em questão de segundos [ele estala os dedos] meus olhos se enchiam de lágrimas.

Você chegou a pensar em uma abordagem estilo “PEN15” para a série, com você mesmo fazendo seu papel em idades diferentes?
Nós conversamos sobre todas as possibilidades que conseguimos imaginar. Eu mesmo poderia interpretar os três personagens? Será que poderíamos recorrer à tecnologia e determinar o que dava para realizar daquele jeito? Uma das questões era minha agenda, e a necessidade de acomodar todas as outras coisas que preciso fazer, e elas são muitas. Uma das propostas originais era a de que eu ficaria nas sombras –eu trabalharia na promoção da série, mas, com exceção disso, deixaria que ela funcionasse, ou não, por conta própria. Mas voltamos atrás quanto a isso e percebi que eu podia fazer uma participação em cada episódio, falando, rememorando. E essa é provavelmente a melhor maneira de fazer o que propusemos.

Vemos, em "Young Rock", que para os lutadores da era de seu pai, a vida nos ringues era glamorosa e empolgante, mas em casa eles levavam vidas mais simples, e até um tanto precárias. Isso se aplica às suas experiências, quando criança?
Oh, sim, estamos mostrando a verdade daquela geração, do pessoal das décadas de 1970 e 1980. Os astros de luta livre eram adorados, e eram celebrados. Lutavam em arenas para 5.000 espectadores, ou em ginásios de escolas de segundo grau. E quando iam embora, sempre o faziam em um Cadillac ou Lincoln. Sempre. Todos eles. Em qualquer lugar onde estacionassem, você via aquela frota de Cadillacs e Lincolns. Porque isso era parte do personagem e do trabalho. E era importante que os fãs os vissem dirigindo carros caros. Mas se você os acompanha pela estrada até onde eles moravam, em muitos casos as casas eram apartamentos pequenos, como o da minha família. E nós vivíamos no aperto, não tínhamos dinheiro guardado. Achei que mostrar isso teria valor. Era o compromisso que aqueles homens tinham para com o negócio. Em resumo, o que eles faziam era o que colocava comida na mesa para as famílias.

Algumas pessoas já tiveram um vislumbre de como você era desajeitado nos seus anos de segundo grau, graças a uma famosa foto daquela época que o mostra usando um suéter de gola alta, uma corrente de ouro e uma pochete na cintura. Vamos descobrir a origem da pochete em algum episódio futuro?
A pochete certamente terá uma vida a viver. É um objeto muito, muito importante. Mas todos nós passamos por isso em nossa época de segundo grau, em alguma medida. Eu tinha 14 anos quando saí do Havaí e tive de me mudar para Nashville. E todo mundo lá achava que eu fosse um policial infiltrado, porque na época a série “Anjos da Lei” estava em cartaz. E três meses depois, saímos de Nashville e nos mudamos para Bethlehem, Pensilvânia, e minha sensação era a de que eu não era bom o bastante. Eu não queria ser Dwayne, queria ser Tomás. Acreditava que as meninas achariam Tomás um nome mais cool. Elas tinham de pensar que eu tinha dinheiro, e por isso eu roubava roupas caras. Fui preso duas vezes por furto, depois de me mudar para Bethlehem –o que não está no piloto da série, mas vai aparecer em algum momento.

O retrato que a série apresenta sobre seu pai é complicado, porque primeiro o vemos como um lutador popular e, mais tarde, quando sua carreira nos ringues acaba, o vemos trabalhando em empregos mais humildes, só para bancar as contas. Foi difícil para você pensar sobre ele nesses termos?
Quando a NBC me propôs uma parceria (para realizar "Young Rock"), foi uma grande notícia. Telefonei para minha mãe e pai e conversei com os dois. Dias mais tarde, meu pai morreu, repentinamente. Mas acredito que ele gostaria que o que aconteceu fosse mostrado. Ele gostaria de oferecer esse exemplo para ajudar outros atletas, quando deixam o mundo do esporte, a fazer a transição de maneira um pouco mais graciosa do que ele. Ele teve muitas dificuldades, e muitas vezes tinha que aceitar qualquer emprego. Foi motorista de caminhão, e fazia tudo que lhe ofereciam para ganhar algum dinheiro. É uma mudança de realidade bem complicada. Tivemos um relacionamento complicado, meu pai e eu –havia amor, mas era um amor exigente e severo. Eu decidi que devíamos mostrar as falhas, mas, agora que as pessoas já não estão entre nós, também posso mostrar o lado bom.

Sua mãe já assistiu à série?
Minha mãe foi minha conselheira sobre absolutamente tudo, em "Young Rock". Ela acreditava que pudéssemos mostrar o lado mais duro e mais sofrido das coisas, porque passamos por tudo isso. A lição é essa. Com sorte, pessoas que também estejam passando por períodos difíceis na vida vão poder ver que existe saída. É possível sobreviver e superar os problemas.

Tradução de Paulo Migliacci

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