Emílio Dantas afirma não fazer arte para ser bonita ou certa: 'É para dar confusão'
Ator diz que 'Todas As Mulheres do Mundo' pode levar à discussão sobre machismo
Ator diz que 'Todas As Mulheres do Mundo' pode levar à discussão sobre machismo
"'Todas as Mulheres do Mundo' fala de amor", afirma esta repórter em entrevista com o ator Emílio Dantas, 38. Ele discorda. "É uma série mais gatilho. O tempo todo mostra a galera se pegando. Não tem a ver com muito romantismo não, pelo contrário."
De fato, os 12 episódios que homenageiam obras do cineasta e dramaturgo Domingos de Oliveira (1936-2019) não economizam nas cenas de beijos, abraços e sexo do protagonista Paulo, vivido por ele, com as 12 mulheres com quem se envolve, uma por capítulo. Para quem ainda cumpre o isolamento social, Dantas tem lá a sua razão: pode não ser fácil mesmo ver a produção em tempos de máscara, álcool gel e cumprimentos em que só os cotovelos podem se tocar.
Ainda que seja carregada de símbolos românticos, afirma o ator, como a fotografia que "foge um pouco da realidade" e é "mais etérea" –e a trilha sonora, acrescenta esta repórter– a série "não é solar". "É sempre ali, tudo muito pé no chão", diz.
"Ela tem um lado fantasioso, mas não tão distante da gente", completa. A começar pelo protagonista Paulo, "um cara que não quer parar [afetivamente] com ninguém", define. E os amigos dele: Laura (Martha Nowill), uma mulher solteira perto dos 40 anos e que deseja ter filho de qualquer jeito, e Cabral (Matheus Nachtergaele), um solteirão.
"A forma como eles lidam com todos esses relacionamentos é totalmente voltada para o lugar da poesia, e também da crueza real, de você dar liberdade para o outro, do entendimento que o que você entende é seu, e não tem a ver com o outro", afirma.
De Jorge Furtado e Janaína Fischer, a partir de uma ideia do próprio Domingos [antes de sua morte] e da atriz e escritora Maria Ribeiro, "Todas as Mulheres do Mundo" estreou em abril no Globoplay. Agora, a série será exibida na Globo, a partir desta terça-feira (2), após o Big Brother Brasil 21.
Emílio Dantas se diz "empolgado" com a chegada da produção à TV aberta. "Eu estou a fim de ver o que o pessoal vai achar, [o que] as senhorinhas do interior [vão achar]. Queria que essa série chegasse também às pessoas que não têm tanto contato com a internet", afirma.
Ele conta que diariamente vê alguém falando da produção, e até pessoas dizendo que estão maratonando os episódios mais de uma vez. Para ele, o texto fácil, "a coisa meio crua" e o fato de abordar assuntos recorrentes como relacionamentos, atração e paixão explicam o sucesso.
Mas não são só elogios que Emílio Dantas afirma escutar sobre "Todas as Mulheres do Mundo". Também relata já ter ouvido críticas, principalmente de pessoas que só viram o primeiro episódio, o único até então transmitido pela Globo, em abril.
Para ele, esse capítulo é justamente o mais datado, porque concentra a história do filme que dá nome à produção, "Todas as Mulheres do Mundo", de 1966. No enredo da série do Globoplay, Paulo se apaixona por Maria Alice (Sophie Charlotte) e não mede esforços para conquistá-la. O problema é que essas ações podem esbarrar em comportamentos que hoje são considerados machistas ou resvalam no assédio.
"Tem muita coisa ali que já é ultrapassada, é antiga." Na visão do ator, o formato da série começa a surgir melhor a partir do segundo episódio. Jorge Furtado afirmou em entrevistas anteriores que pouco foi mexido no texto de Domingos, de 50 anos atrás.
Dantas diz que foi retirado aquilo que realmente não tinha mais cabimento, "que o próprio Domingos" tiraria, se estivesse vivo. Por outro lado, o ator afirma que muita coisa foi deixada justamente para propor a reflexão. "Erro bom para debater", diz.
"Um cara seguir uma mulher até onde ela trabalha para dizer o quanto está apaixonado não é mais legal? É legal para alguns? Não é legal para ninguém? Então, esse comportamento, de o cara pegar no braço de uma mulher...A série vira esse objeto de estudo", diz. "Um dos papéis da produção é trazer essas discussões. Vamos botar e ver qual é a resposta, e deixar também as pessoas refletirem sobre cada comportamento", defende
Dantas afirma não se incomodar com as críticas ou com as reações das pessoas. "Não dá para saber, e é ótimo. Isso é arte. Eu gosto de fazer as coisas para isso, para dar confusão, não para ficarem bonitas ou certas."
Além do filme "Todas as Mulheres do Mundo", vários outros textos originais do dramaturgo foram usados para compor a série. De acordo com Dantas, o seu maior desafio foi encontrar esse Paulo, que pudesse funcionar nas 12 histórias da série, muitas originais de pensamentos e momentos distintos da carreira de Domingos. Ele diz, por exemplo, que buscou o seu Paulo muito mais em "Edu Coração de Ouro", de 1968, que no longa "Todas As Mulheres do Mundo" –em ambos, o protagonista foi interpretado por Paulo José.
Emílio Dantas completa que se colocou no papel, com todos os seus "erros e acertos". "Sempre gosto de doar alguma coisa do meu momento para o personagem. É uma credibilidade instantânea que você cria. Eu doei a minha visão, com todos os méritos e deméritos, eu falei não vou ter medo de ser um homem infantil, não vou ter medo de homem feminino, vou entregar tudo que eu imagino."
Em isolamento social com a mulher, a atriz Fabíola Nascimento, Emílio Dantas diz que mantém uma rotina agitada, o que não lhe permite ver com frequência a reprise de "A Força do Querer" (2017), em que interpreta o traficante Rubinho. Mas conta estar divertido com os Stories frequentemente publicados por Jonathan Azevedo, o Sabiá, vendo a trama. "Está muito engraçado acompanhar ele descobrindo a novela, o que ele fez e porquê", diz.
Quando não está cuidando da horta, resolvendo algum "quiprocó" dos cachorros ou solucionando algum problema doméstico –o ator revela que ele e a mulher já até consertaram uma máquina de lavar– uma das suas atividades é se dedicar ao estudo de teoria musical no piano.
"Estou estudando música que nem louco, sabe." Ele, que começou a carreira artística como vocalista e compositor de uma banda, se diz muito "curioso, acelerado e empolgado" com o assunto. "Já tive gaita, sax, violão", enumera. A dedicação seria para algum papel? "Sempre é", responde, aos risos, sem detalhar o que seria este novo projeto.
Durante o confinamento, ele e Fabíola protagonizaram um dos episódios da série "Amor e Sorte", também criação de Jorge Furtado. "Foi muito bom, porque deu um alívio no meio da quarentena: 'ah trabalhei, graças a Deus.' Tipo, fiz algo de útil."
Agora, ele segue em compasso de espera para retomar às grava ções de "Fim", série baseada no romance homônimo de Fernanda Torres, colunista da Folha, em que vai interpretar um salva-vidas.
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