Melissa McCarthy vive a 'pessoa mais comum na face da Terra' em 'Superintelligence'
Papel principal tinha sido escrito originalmente para um homem
Papel principal tinha sido escrito originalmente para um homem
Anos atrás, Ben Falcone e Melissa McCarthy começaram a escrever um roteiro que ele esperava ajudasse a destacar o talento da atriz como comediante. E aí veio “Missão Madrinha de Casamento” (2011), de Paul Feig, e McCarthy, como o mais, cóf, excêntrico dos personagens principais, basicamente roubou o filme, com a ajuda do personagem de Falcone, o segurança de aviação Jon, e de alguns sanduíches polpudos de carne e queijo. O que nos faz especular sobre como funciona o casamento entre os dois na vida real.
O triunfo de McCarthy abriu portas, e “Tammy: Fora de Controle”, o roteiro que eles tinham dedicado tanto tempo a aperfeiçoar, terminou produzido. O mesmo vale para três outras colaborações entre eles –ela como estrela e ele como diretor—, em “A Chefa”, “Alma da Festa” e, agora, “Superintelligence”, que estreia quinta-feira na HBO Max.
No novo filme, McCarthy interpreta Carol Peters, a pessoa mais comum na face da Terra, na avaliação de uma inteligência artificial (que fala na voz de James Corden) e está determinando se vai salvar, escravizar ou destruir a humanidade. Em prazo de três dias. Pressão nenhuma: a decisão da inteligência artificial vai depender em boa medida de Carol decidir se vai ou não em busca de George (Bobby Cannavale), seu grande amor que não deu certo.
Quando o roteirista do filme, Steve Mallory, que trabalhou com o casal no roteiro de “A Chefa”, apareceu com a ideia, Falcone imediatamente aderiu. McCarthy só tinha um pedido especial. O papel principal tinha sido escrito originalmente para um homem. “Podemos mudar e o papel ficar para mim?”, ela perguntou. “Porque adorei a ideia”.
McCarthy, Falcone e as duas filhas do casal, Vivian, 13, e Georgette, 10, estão vivendo a pandemia na praia de Byron Bay, na Austrália. Por que a Austrália? Em entrevista via vídeo, o casal –trocando gracejos como aquele casal de pais engraçados de quem todo mundo quer ser amigo nas reuniões de escola – discutiu essa questão, a parceria criativa entre eles, a arte obscura da comédia, e o que é preciso fazer para manter a família unida. Abaixo, trechos editados da conversa.
Até que ponto a família afeta suas escolhas profissionais?
McCarthy - Onde um de nós vai, todos vão. E assim empacotamos a barraca e viajamos todos juntos, e essa costuma ser a solução vitoriosa.
Para a Austrália, por exemplo?
Falcone - Tínhamos acabado de terminar um filme de super-heróis chamado “Thunder Force”. Estávamos de volta em casa, e tínhamos prometido para as meninas que faríamos uma pausa. E aí chegou a Covid.
McCarthy - E eu recebi um telefonema perguntando se toparia viajar para a Austrália para filmar “Nine Perfect Strangers”. [A série, baseado no livro de Liane Moriarty, também tem Nicole Kidman no elenco.] Eu respondi que não podia transferir minha família para o outro lado do planeta. Nós achamos que aquilo era loucura, que era impossível. E nossa filha mais velha saiu do quarto para almoçar, após assistir sua aula via Zoom, e, sem hesitar um segundo, disse que “devíamos ir hoje mesmo”.
Agora que vocês estão a meio mundo de casa, o que tem feito para se divertir?
Falcone -[Elizabeth] Banks me mandou uma mensagem de texto bizarra. E tudo nela parecia gritar, “pandemia”.
McCarthy: Isolamento.
Falcone - A mensagem só tinha uma palavra, “Margarita”? Começamos a conversar via Zoom com Liz e [o marido dela, Max Handelman]. E muitos outros amigos entraram na conversa.
McCarthy -E Ben disse que ia assistir a um filme ganhador do Oscar por semana. Todo mundo acabou decidindo fazer a mesma coisa. Para “Lawrence da Árabia”, Steve Mallory apareceu fantasiado –lençóis, toalhas, fita adesiva, tudo que ele encontrou em casa. Agora estamos na... que semana, mesmo?
Falcone - O último filme foi “Laços de Ternura”, o que quer dizer 1984.
McCarthy - Metade da diversão é ver quem vai aparecer fantasiado, e com que fantasia. Um monte de loucos fantasiados, bebendo coquetéis e conversando via Zoom.
Falcone - E curtindo os grandes filmes da história.
McCarthy - Para tentar lembrar qual é a sensação de estar na companhia de amigos.
Tendo em conta suas agendas lotadas, como vocês conseguem inventar histórias?
McCarthy - Nós sempre estamos em algum estágio do processo criativo. Em volta da mesa de jantar com as crianças, ou fazendo o café da manhã. É sobre essas coisas que conversamos, e não parece trabalho. Há muita coisa fervendo ao mesmo tempo, uma empreitada criativa alimenta a outra.
E como é escrever juntos?
McCarthy - Ele escreve alguma coisa, eu escrevo alguma coisa. É um vai e vem constante. Sempre descrevo explicando que, se ele diz azul e eu digo verde, nós logo concordamos em “ótimo, púrpura, vamos com isso”.
Falcone: É complicado encontrar três horas por dia para escrever. Na época de “Tammy”, a gente escrevia no carro.
McCarthy: Não tínhamos escritório, e as meninas eram tão pequenas que às vezes sentávamos no carro, na entrada de casa ou logo adiante em nossa rua, e escrevíamos, porque eram os únicos momentos calmos que a gente tinha. Mas aposto que quem nos via achava que estávamos de campana para roubar a casa de alguém.
Vocês mergulharam fundo em “Superintelligence”.
McCarthy: A combinação entre nossa dependência quanto à tecnologia, e amor e humanidade –acho que Steve encontrou um equilíbrio lindo.
Falcone -Parecia um filme muito à moda antiga, muito engraçado e com uma ideia arrojada, mas ao mesmo tempo charme e conteúdo sério. Você sabe como é, antes que os filmes dissessem “você só pode ser isso”.
McCarthy - Eu não concordo em seguir essa linha. Em algum momento dos últimos 15 anos, as coisas se transformaram de forma que, se você está fazendo uma comédia, é só uma comédia. Mas penso em filmes como “Antes Só do que Mal Acompanhado”. Eu gargalho, choro, meu coração fica partido, é uma delícia. Queremos contar mais histórias que sejam complicadas, como a vida.
Melissa, você trabalha com toda a gama de emoções em “Superintelligence”, com Brian Tyree Henry e Bobby Cannavale. Como é que Ben dirigiu isso?
McCarthy - Ben e eu temos uma forma de comunicação muito telegráfica. Nós escrevemos e trabalhamos juntos há 25 anos, começando no Groundlings Theater, em Los Angeles. E quando você estabelece esse tipo de confiança, sabe que pode tentar qualquer coisa e que não vai correr o risco de ser considerado tolo. Ben se preocupa sempre em manter a linha da história. Eu às vezes me prendo demais às minúcias de cada cena.
A maneira de dirigir de Ben é dizer se devo empurrar as coisas para o lado do humor ou do sentimento. Mas é preciso sempre manter a realidade, porque se você sai dessa linha, fica difícil consertar o estrago depois.
Falcone - Temos uma frase que começou em “Superintelligence”, e é “agora vamos fazer aquela tomada que machuca o coração”. Uma versão diferente, só para garantir. O roteiro – nós realmente nos preocupamos com ele, trabalhamos com afinco nele, e é uma coisa viva, ativa. Se sentimos que existe necessidade de refilmar alguma coisa, não quero que seja por uma tolice como não termos protegido o filme como deveríamos.
Ou seja, a comédia pode intimidar, mesmo no caso de pessoas como vocês.
Falcone - Nenhuma outra coisa prova o quanto você é falível, e o faz tão rápido, quanto uma comédia. Qualquer pessoa que tenha imaginado que tinha algo de muito engraçado para dizer em uma festa, e se preparou para isso, mas errou o timing, sabe como é –uma coisa frágil.
McCarthy - É frágil, é passageiro, é maravilhoso, é a pior coisa. Não dá para fazer frescura demais. Você precisa dizer que acha que teve uma boa ideia. Aí tente da melhor maneira que puder. Trabalhamos e reescrevemos até que chega a hora de editar o filme. Mas só sabemos que a cena está certa quando a vemos.
Vocês provavelmente respondem a essa pergunta a cada entrevista. Qual dos dois é mais engraçado
[McCarthy e Falcone apontam um na direção do outro.]
McCarthy - Ele é.
Falcone - Ela é mais engraçada, 100%.
McCarthy - É ele, pode acreditar. Ele é mais esquisito.
Falcone - Você é que é uma esquisita.
McCarthy - Você ainda me surpreende. Sempre sabe o que vou dizer. Eu repito sempre as mesmas coisas, mas Ben, a gente nem sempre sabe o que ele fará.
Falcone - Bom, nem eu sei.
Tradução de Paulo Migliacci
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