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Com Lucélia Santos, Matheus Nachtergaele explora faceta libidinosa no filme 'A Serpente'

Baseado em texto de Nelson Rodrigues, longa estreia nesta quinta

Matheus Nachtergaele e Lucélia Santos em cena do filme 'A Serpente'

Matheus Nachtergaele e Lucélia Santos em cena do filme 'A Serpente' Divulgação

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Rio de Janeiro

​Matheus Nachtergaele encara, pela primeira vez na carreira, um personagem de Nelson Rodrigues (1912-1980) nas telonas. No longa “A Serpente”, dirigido por Jura Capela, ele interpreta Paulo, um homem que é oferecido pela esposa, Guida, para passar uma noite com sua irmã, Lígia. O motivo? Impedir o suicídio de Lígia, que permanece virgem mesmo após ter se casado com Décio (Silvio Restiffe). Quem interpreta as irmãs é Lucélia Santos, atriz preferida de Nelson.

Amor, ciúme, relações proibidas e tragédia envolvem as personagens centrais da trama. “Tudo me deu um tesão maluco”, disse Nachtergaele, em entrevista ao F5. "É um texto conciso. Rapidamente as coisas se tumultuam e atingem o ápice. Essa irmã que por bondade perversa oferece o macho dela, que é um menino, para outra irmã... Não ia dar certo. Nunca. E as coisas são precipitadas. É rápido que acontece o ódio no meio do amor. E rapidamente o Paulo vira um menino, perdido entre duas pessoas."

O ator afirma que raramente lhe são propostos personagens que passeiam pela aventura do amor e do sexo, e que protagonizar este filme foi uma experiência intensa e bonita. "Minha tipologia física geralmente me leva para o arlequim ou para o vilão, muito mais do que para esse homem disputado entre duas mulheres. Ao mesmo tempo, me pareceu que eu poderia carregar para o Paulo uma infantilidade que também está presente nos homens do Nelson, mas que é pouco explorada.”

Nachtergaele relembra a primeira experiência com um texto de Nelson Rodrigues, “Paraíso Zona Norte”, aos 19 anos, no Centro de Pesquisa Teatral, comandado pelo diretor Antunes Filho. Na época, ele fazia faculdade de artes plásticas e foi levado por uma amiga ao CPT. Ensaiou a peça durante oito meses, mas não estreou.

"Antunes achou que eu não estava pronto, e eu não estava mesmo”, conta. A experiência, no entanto, serviu para que ele percebesse que “o bicho do teatro havia lhe mordido” e que queria seguir na profissão de ator.

"Meu ponto zero foi com Antunes e com Nelson Rodrigues. E o meu desejo adolescente, infantil, de ser ator, vem junto com Lucélia Santos. Nesse projeto [“A Serpente”], tudo se encontrou. Foi a oportunidade bonita de fazer Nelson, que eu nunca tinha feito, e de contracenar com a atriz preferida dele. Nelson dizia que Lucélia é um animal cênico."

Para o ator, Lucélia Santos reúne as principais características das personagens femininas do dramaturgo e jornalista. "A santa e a puta, o maternal e o sexual... Essas coisas estão sempre misturadas nas mulheres de Nelson Rodrigues, e são misturadas na Lucélia, desde a tipagem física até sua trajetória profissional."

"Ela começa como a escrava Isaura, que é quase uma santa, e a partir daí vai para o cinema protagonizar quase que todo o cinema feito nos anos 1980, e muitos Nelson Rodrigues, com teor sexual muito forte para as adaptações daquela época", completa.

Lucélia Santos declara que foi uma grande alegria ter recebido o convite de Jura e de Nachtergaele para "A Serpente", pois Nelson Rodrigues tem uma presença fundamental em sua carreira. "Esse foi um texto imaginado por Nelson e estruturado, talvez, no início da sua carreira, tendo sido o último texto que ele assinou na vida [em 1978]."

"Há uma dimensão para além de toda sua obra e um poder de síntese ao mesmo tempo, talvez por isso. Todas as noivas de Nelson estão presentes no primeiro plano do filme, cuja ação se passa na destruída cidade de Mariana”, completa a atriz.

“A Serpente” foi filmado logo após o rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, na cidade mineira. O desastre aconteceu em novembro de 2015. "Resolvemos filmar em uma locação onde só teria uma grande casa e o resto era só montanha e natureza. Esta decisão foi por conta de que teríamos que fazer algo novo sobre o Nelson", afirma Capela.

Filmado em preto e branco, ele conta que o filme foi inspirado na estética do cinema noir para conseguir tirar a referência do tempo e da época. "Trabalhamos entre a luz e a sombra. Usamos, em todo o filme, somente duas lentes, com um trabalho artesanal e cuidadoso para narrar a nossa história."

Ganhador do Prêmio do Júri como melhor filme no Festival de Cinema Luso Brasileiro de Santa Maria da Feira, em Portugal, “A Serpente” foi apresentado no Festival do Rio – 20° Rio de Janeiro Int’l Film Festival, em 2016.

O longa-metragem, coproduzido pelo Canal Brasil, chega agora aos cinemas com a distribuição da Livres, de Cavi Borges. Em São Paulo, o filme estreia nesta quinta (15) no Cine Sesc. No dia 23, será exibido no Cinema São Luiz, no Recife.

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