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Celebridades
Descrição de chapéu The New York Times

Ariana Grande falar sobre tamanho do meu pênis foi a pior coisa que ela me fez, diz Pete Davidson

Ex da cantora americana 'faz com que o público queira tomar conta dele'

O ator e comediante Pete Davidson

O ator e comediante Pete Davidson Marcus Price/Netflix

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Jason Zinoman
The New York Times

De acordo com Pete Davidson, 26, a pior coisa que sua ex-noiva Ariana Grande poderia ter feito a ele foi revelar ao mundo que ele tem um pênis grande. Agora toda mulher que o vê ficará decepcionada, diz ele em seu recente especial de comédia, lançado na Netflix na última terça-feira (25).

Em “Alive From New York”, um especial que parece mais um trabalho de fim de carreira, Davidson corrige a informação: “As mãos dela é que são pequenas”. O espetáculo parece ter sido montado com má vontade para cumprir um contrato desagradável, mas oferece algumas pistas quanto a um mistério persistente, e cuja solução se tornou urgente: por que Davidson se tornou tão famoso?

"Porque namora outras pessoas famosas", um cínico poderia dizer, mas já havia rumores sobre esse humorista alto e desajeitado mesmo antes de ele se tornar um dos membros mais jovens do elenco de “Saturday Night Live”, e mais tarde um personagem regular na novela diária da mídia online. E sua ascensão estratosférica o colocou à beira do estrelato, com dois papéis principais em filmes importantes que estreiam nos próximos meses, “Big Time Adolescence” e “The King of Staten Island”.

Quando vi seu espetáculo pela primeira vez, em duas ocasiões no ano de 2014, Davidson parecia bem postado para um humorista de 20 anos, mas seu humor era frouxo e sem muito foco. Ele parecia estar se divertindo mais que o público.

O estilo de Davidson não evoluiu muito, mas sua persona pública sim. Ele é esperto o bastante para explorar esse fato em seu espetáculo, que, ao responder a diversas encrencas públicas (controvérsias sobre suas piadas, fofocas de bastidores), oferece muito material à mídia sensacionalista.

Como que devorado por um terno, Davidson não se movimenta muito em seu especial. Mas sua voz é ágil, uma espécie de ronco grave, com sotaque da periferia de Nova York, que fica um ou dois degraus acima de demoníaco –até que ele explode em risinhos que lembram os de uma adolescente. Essas incongruências caracterizam sua persona: um homem com muito de criança. Ele alterna ostentação e sensibilidade. Um olhar indiferente se torna um sorriso franco, em muitos momentos.

Como no caso dos maiores astros da comédia, olhar para ele é engraçado. Mas não se pode fazê-lo por muito tempo sem sentir alguma preocupação. Ele projeta uma fragilidade ao modo Tennessee Williams, no palco e fora dele. Na única entrevista que Davidson concedeu para promover o especial, ele disse que está pronto para sair do “Saturday Night Live” e criticou o programa de uma maneira que membros do elenco raramente fazem.

Falou sobre fazer tatuagens para esconder as cicatrizes de automutilação que tem no peito, e disse que se sente tão inseguro sobre sua aparência que não tem espelhos na casa em que mora –com a mãe. Em uma apresentação recente no Caroline’s, ele brincou de um jeito nervoso sobre reabilitação e tendências suicidas. Davidson tem um talento peculiar em um humorista: faz com que o público queira tomar conta dele.

Em um podcast recente de Conan O’Brien, os atrativos de Davidson foram discutidos. Judd Apatow, que dirigiu “The King of Staten Island”, disse que, além de seu carisma, ele representa uma geração devastada pela ansiedade. É arriscado generalizar, mas o clima entre os humoristas brancos, heterossexuais e jovens parece ter mudado recentemente, e a velha autodepreciação se transformou em algo mais sombrio, até melancólico.

Em especiais recentes, Bo Burnham e Drew Michael têm momentos de tristeza real, falando sobre a solidão de estar no palco e as dores dos relacionamentos. Em “Alive >From New York”, Davidson discute a morte do pai –que era bombeiro e morreu no 11 de setembro. No entanto, seu especial de comédia não é o único a fazê-lo nas últimas semanas.

Whitmer Thomas, 30, outro comediante franzino, cujo “The Golden One” estreou na HBO no final de semana, abraça muitas das tendências dominantes do humor moderno: o uso de material documentário para reforçar as piadas, a alternância entre gracejos e canções, e o uso pleno das tragédias pessoais como material para humor.

Quando era mais jovem, Thomas cantava em uma banda emo, e seu jeito nervoso faz com que ele pareça jamais ter deixado o gênero. Se existe “comédia emo”, a dele é um exemplo. Nascido no Alabama e radicado em Los Angeles, ele é uma figura glamorosa e fantasmagórica, com a pele pálida e os cabelos revoltos de Timothée Chalamet.

Ele transforma em comédia sombria seu distanciamento do pai e o fato de que foi sequestrado quando criança. Mas a história central é a morte prematura de sua mãe, uma cantora, e a forma pela qual ele enfrentou a dor, retornando ao clube no qual ela cantava.

O que realmente distingue Thomas é seu compromisso de incorporar músicas tristes a piadas engraçadas. Não é novidade, e a sátira está incorporada às letras, mas o modo de seu desempenho é profundamente sincero. Quando ele canta que só quer ser “burro e apaixonado”, o público acredita. O humor mais dilacerante de Thomas é dirigido contra ele mesmo.

“Minha identidade é que minha mãe morreu”, geme ele em uma das primeiras canções do espetáculo. “Qualquer coisa para desviar a atenção de que sou hetero e branco”. Há um cinismo posicionado com cuidado ao lado da sinceridade, uma vulnerabilidade curatorial.

Davidson não é tão talentoso como o artista, mas é melhor ao executar essa manobra. Thomas é igualmente carismático, mas não é esperto o bastante para perceber as vantagens de parecer desajeitado.

Os jovens comediantes sempre falaram e sempre falarão de sexo, mas, na era do #MeToo, é mais provável que esse tipo de preocupação seja apresentado em um contexto político. Enquanto alguns humoristas homens mais velhos defenderam Louis C.K., Thomas e Davidson caminham claramente na direção oposta.

Davidson tem toda uma história sobre como Louis C.K. tentou conseguir que ele fosse demitido de “Saturday Night Live”, bem no começo de sua carreira, e Thomas, sem mencionar o humorista mais velho, expressa a esperança de que comediantes como ele vão para o inferno.

Os dois comediantes encerram seus shows prestando homenagem ao pai e à mãe que perderam. Davidson fala de entrevistar os amigos de seu pai, para conhece-lo melhor, e de ter descoberto que ele cheirava cocaína. “Eu sabia que ele era um herói”, disse o humorista, em uma de suas falas mais aguçadas. “Mas não sabia que ele era um super-herói”.

E Thomas canta carinhosamente a canção mais conhecida de sua mãe, “He’s Hot”, acompanhado pela irmã, que tocava em sua banda, dando à canção a exposição televisiva que ela nunca teve.

Davidson e Thomas fazem parecer que o pai e mãe que perderam são mais divertidos e mais despreocupados do que eles. É um tributo estranho, da parte de um humorista, e ninguém sabe se esse era verdadeiramente o caso; mas soa verdadeiro ainda assim.​

Com tradução de Paulo Migliacci

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