Celebridades

Ex-Wolverine interpreta em novo filme senador envolvido em escândalo eleitoral nos anos 1980

Ator Hugh Jackman será Gary Hart na produção 'The Front Runner'

Hugh Jackman
Hugh Jackman - Fred Thornhill/ AP
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Kathryn Shatuckk

Algumas celebridades gostam de estar sob os holofotes; outras nem tanto. Hugh Jackman faz parte da primeira categoria, o que ficou claro em uma recente conversa em um restaurante do West Village, para a qual ele se posicionou diante da audiência em uma mesa muito bem escolhida, preparado para desarmar e deslumbrar.

Mas seu mais recente personagem no cinema —Gary Hart, que foi senador pelo Colorado na década de 1980— claramente não gostava da ribalta. Em “The Front Runner”, que estreia em 6 de novembro, o dia da eleição legislativa americana, o diretor Jason Reitman acompanha as três semanas de 1987 em que a candidatura presidencial de Hart, até então visto como favorito, implodiu, quando jornalistas farejaram indicações de um suposto caso extraconjugal com Donna Rice. Não demorou muito para que a infame foto que mostrava Rice sentada no colo de Hart, perto de um iate chamado Monkey Business, ocupasse a primeira página da revista de fofocas National Enquirer.

(Hart e Rice negam o caso. E no mês passado, a revista The Atlantic noticiou que Lee Atwater —o diretor da campanha presidencial de George Bush pai, que estava em desvantagem nas pesquisas— admitiu em seu leito de morte que havia criado a notícia falsa sobre Hart.)

“Gary é um cara muito reservado por natureza, e além disso acredita que deva haver uma separação” entre a vida privada e a vida pública de um político, disse Jackman. “O que eu amo sobre o filme é que ele não propõe respostas fáceis sobre isso. Somos todos humanos, todos temos defeitos, mas que nível de defeito é aceitável? Foi Gary mesmo que disse melhor: ‘Na vida pública, algumas coisas são interessantes; não quer dizer que sejam importantes’”. 

A personalidade de Jackman fora das telas é a de um homem casado —com a atriz australiana Deborra-lee —Furness e feliz, pai amoroso de um par de adolescentes, Oscar e Ava, que gosta de cantar no chuveiro e toma suas melhores decisões enquanto sapateia.

No dia anterior ao seu 50º aniversário —que ele celebraria com um bolo quente de ricota feito por sua mulher, antes de sair para o estúdio onde está filmando “Bad Education”, sobre um escândalo de desfalque em um distrito escolar em Long —Island, Jackman falou sobre política e privacidade, o que virá a seguir para “O Rei do Show” e por que sua vida não para de melhorar.

Excertos editados dessa conversa:
 
Kathryn Shatuckk - Como foi ser escalado para o papel de Gary Hart?
Hugh Jackman - Causou alguma ansiedade, mas do tipo certo. Foi bem assustador, por muitos motivos - (Gary) é misterioso, difícil de definir, um sujeito fechado. Ele mesmo disse que “as pessoas me chamam de frio e distante, mas se começo a ganhar o termo muda para ‘enigmático’”. E além disso eu nunca tinha feito o papel de alguém que ainda é vivo. Mas acredito honestamente que nossas histórias são uma das coisas mais valiosas para as pessoas. Como somos vistos no mundo, e talvez como seremos lembrados. E eu queria que ele estivesse ciente de que levo tudo isso muito a sério.
 
Antes de Hart, presidentes tinham casos mas a mídia em geral os deixava em paz. O que mudou?
Aquele foi realmente um ponto de inflexão, especialmente para o relacionamento entre a imprensa e os políticos, mas também para a relação entre política e a personalidade. Quando a vida privada se tornou um indicador importante de caráter, algo a que os eleitores e a imprensa se apegariam para decidir se um político era digno de nos liderar, a porteira se escancarou. É o posto mais importante do mundo, possivelmente, e você está tomando uma decisão sobre alguém com base no que essa pessoa diz que fará. Para mim, a maneira pela qual essa pessoa conduz seu casamento não importa tanto assim.
 
Em 2017, com “Logan”, você recolheu as garras do Wolverine depois de 17 anos interpretando o personagem, e atribuiu a decisão a Jerry Seinfeld.
Perguntei a ele sobre o fim de “Seinfeld” e ele disse que “acredito firmemente que você precisa evitar que seu lado criativo se descarregue de vez. Melhor sair antes que você esteja completamente desgastado, porque isso o arremessa para a próxima coisa”. E quando ele me disse isso, percebi na hora que o momento havia chegado.
 
Depois disso você realizou um projeto pessoal, “O Rei do Show”, sobre o empresário circense P.T. Barnum, e o filme foi grande sucesso de bilheteria. Haverá uma versão para a Broadway?
Não sei. Não temos resposta definitiva. Algumas pessoas estão desenvolvendo uma possível versão de palco. Mas para o West End ou para Vegas? Ou um espetáculo viajante, em uma tenda de circo? Um projeto para arenas? Só sei que quando conversamos durante aquelas oficinas, há uma sensação firme de que o projeto funcionaria no teatro. Sei disso. Sei a força daquela ideia. Já vi Keala (Settle) em pé no meio de uma sala cantando “This is Me”, e todo mundo tinha lágrimas nos olhos.
 
Ou uma continuação no cinema?
Tenho certeza de que existem propostas nesse sentido, mas não sei o que está rolando.
 
Como é chegar aos 50?
Para mim, a vida parece cada vez melhor. As pessoas falam muito sobre a arrogância da juventude, e de como o mundo está a seus pés, mas eu nunca me senti assim. Eu era mais inseguro do que sou hoje. Mas um pouco de insegurança faz bem. Faz com que você trabalhe mais.
 
Existe alguma coisa que você gostaria de fazer mas para a qual sente não estar preparado ainda? 
Hmmm, não. Talvez eu seja arrogante. Porque estou divulgando este filme, as pessoas perguntam se vou me candidatar a primeiro-ministro  da Austrália. (Risos) E eu respondo que não, isso não vai acontecer. Qualquer emprego que leva 60% de um país a te odiar no dia em que você começa, não sei se eu saberia lidar com isso.
 
É difícil imaginar 60% das pessoas de qualquer país odiando você. Afinal, 20,8 milhões de seguidores se divertem vendo você fazer piadas à sua própria custa no Instagram.
Eu tento manter aquele jeito descontraído e coloquial dos australianos, de não levar as coisas a sério demais. Sei que isso deve ser uma violação das regras para os astros de cinema, sob as quais você tem de ser misterioso e nunca mostrar quem é, mas não ligo muito pra isso. Prefiro fingir só quando estou no estúdio ou no palco.
 
 

The New York Times

Tradução de Paulo Migliacci 

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