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Ex-'BBB' Adrilles lança livro de poesias e se compara a Jesus Cristo e Hamlet

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Quando o poeta mineiro Adrilles Jorge foi eliminado do "Big Brother Brasil 2015", em março, Pedro Bial evocou ao vivo "aquele príncipe que você tanto ama".

E pôs-se a recitar o Hamlet de William Shakespeare: "Há uma providência especial na queda de um pardal. Se tiver que ser agora, não está para vir; se não estiver para vir, será agora".

Não foi daquela vez que Adrilles caiu nas graças do Brasil. Mas sua participação no "reality show" chamou a atenção de Carlos Andreazza, editor-executivo da Record.

O poeta diz que ser ou não ser ex-"BBB" jamais foi sua questão ao lançar pela editora seu primeiro livro de poesias, com o sugestivo nome "Antijogo".

Crédito: Daniel Magalhães Adrilles Jorge, ex-'BBB', lança o livro de poesias 'Antijogo' pela Record
Adrilles Jorge, ex-'BBB', lança o livro de poesias 'Antijogo' pela Record

"Quando entrei no 'BBB', tinha plena consciência de que embarcava num programa pop. Tem muita gente que renega esse passado, mas eu, não. Queria provar que é possível esta quebra entre alta cultura e cultura popular."

Curioso com o competidor das letras, Andreazza afirma que se sentiu "obrigado a ver do que se tratava, ainda que tivesse uma certeza bem preconceituosa: a de que seria, com sorte, um poeta medíocre".

"Contra todas as probabilidades", porém, diz ter descoberto uma obra "superior a muita coisa badaladinha que se publica por aí".

"Nem todos os poemas deste livro são igualmente bons, mas nenhum é ruim e alguns são realmente muito bons", diz o filósofo Olavo de Carvalho na orelha do livro.

"Antijogo" traz 137 poemas produzidos ao longo dos anos —a maioria, antes do "reality" da Globo.

Alguns poemas versam sobre temas genéricos, como "Amor" ("Lembro-me sempre agora/ De refazer seu desenho/ Em todos os amanhãs").

Outros, como "Os Apetites de Janaína", falam da menina insaciável que "devorava sentimentos líricos com alcaparras" e "comia sonhos estéreis de rapazes utópicos".

Adrilles —que terminou a competição em 4º lugar— lembra que, ao ser descartado por 65% do público, foi questionado por Bial. "Ele perguntou por que eu estava tão alegre, tão leve. É porque a poesia não perde, se alimenta das perdas."

No poema "Um Vencido Quando Vence", o eu lírico "desgosta da vitória por não mais provar o gosto do fruto do triunfo que adoçava sua falta".

CRISTO E HAMLET

O ex-"BBB" se compara a Jesus Cristo e a Hamlet em menos de dez minutos de conversa com a Folha, por telefone.

Sua rejeição na reta final do programa, diz, foi por "excesso de caráter" —teria apoiado um participante visto como vilão, Fernando. Teria agido, portanto, como o messias dos cristãos, "que se sacrificou por amor a quem o odiava".

Na eliminação, ele recorda, disse que "o maior símbolo da cultura ocidental era a imagem de um homem aparentemente derrotado e humilhado numa cruz".


Afirma ter se aproximado do príncipe shakespeariano quando, num dado momento do "BBB", começou a falar sozinho. "Fiquei com medo de me transformar numa espécie de Hamlet. Ele monologava o tempo inteiro, já que desconfiava de todo mundo."

Proferidas para o vento ou não, as frases de Adrilles no "reality" viraram graça na internet.

No vídeo de divulgação do "BBB", ele falou sobre sua sexualidade: "Não sou gay não, viu! Tenho certas idiossincrasias, certas sequelas, por ter sido criado por vó e muitas tias. Fiquei meio esquisito, efeminado, mas até o momento eu gosto de mulher, que eu saiba".

No ar, disse que Vinicius de Moraes, se não fosse poeta, seria considerado "um cafajeste de quinta categoria". Explicou ainda por que não andava pelado pela casa: "Se tivesse o pintinho como o Caio Blat, viveria aqui nu aqui".

Adrilles disse que, fora do "reality", seus contatos com Pedro Bial cessaram. "Mandei o convite formal para o lançamento do livro. Ele não respondeu." O evento será no dia 13, na Bienal do Livro, no Rio.

Leia, na íntegra, dois poemas de Adrilles Jorge:

Nunca, Ainda, Sempre

Às vezes, sempre é muito vago
porque nunca é o bastante
Nunca, ainda, não é raro
mas é sempre mais adiante.

Um Vencido Quando Vence

Um vencido quando vence
desgosta da vitória
por não mais provar o gosto
do fruto do triunfo
que adoçava sua falta

Um vencido quando vence
novamente se derrota
por provar da memória
de saber vindouro
da utopia da vitória

esta que agora apodrece
na colheita de sua insipidez.

ANTIJOGO
Autor Adrilles Jorge
Editora Record (196 págs.)
Quanto R$ 32

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