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Islândia deve interromper prática de caça a baleias a partir de 2024

País é um dos três que mantêm atividade, ao lado de Noruega e Japão

Pescadores abrem baleia morta depois de caçá-la, na Islândia - Halldor Kolbeins - 19.jun.09/AFP
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Reykjavik (Islândia)
AFP

A Islândia pretende pôr fim na atividade de caça a baleias a partir de 2024, em função da queda na demanda, anunciou a ministra da Pesca, Svandis Svavarsdottir, nesta sexta-feira (4). O país é um dos três que ainda mantém a prática comercialmente, ao lado de Noruega e Japão.

Há três verões consecutivos —a temporada de captura habitual— os arpões praticamente pararam nas águas da imensa ilha do Atlântico Norte, apesar das grandes quotas. Isso se deve à retomada da caça comercial no Japão — principal mercado de carne de cetáceos— bem como à entrada em vigor de uma zona costeira na qual a pesca é proibida, o que obriga a ir mais longe no mar.

"A menos que se indique o contrário, há poucas razões para permitir a caça às baleias a partir de 2024", ano em que as atuais cotas de pesca permitidas expiram, declarou a ministra da Pesca Svandis Svavarsdottir, membro do partido ambientalista da Islândia, em um artigo publicado na imprensa local.

"Há poucas evidências de que haja interesse econômico em continuar praticando esta atividade", acrescentou a ministra no jornal Morgunbladid.

A decisão foi comemorada por organizações de proteção ao meio ambiente. "É uma notícia excelente para a Islândia, as baleias que vivem em suas águas e sua indústria de avistamento de baleias com renome mundial", declarou a diretora de conservação marinha do Fundo Internacional para a Proteção dos Animais (IFAW, na sigla em inglês), Sharon Livermore, em um comunicado.

Islândia, Noruega e Japão são os únicos países do mundo que permitem a caça às baleias, apesar das críticas recorrentes de ativistas ambientais e defensores dos animais, alertas sobre a toxicidade da carne e um mercado em retração.

Estabelecidas pela última vez em 2019, as cotas islandesas autorizam a caça de 209 baleias-comuns por ano, o segundo maior mamífero depois da baleia-azul, e de 217 baleia-de-minke, um dos cetáceos menores.

UM ÚNICA CAPTURA EM 3 ANOS

Há três anos, porém, as duas empresas que detêm as licenças na Islândia estão paradas. Uma delas, a IP-Útgerd, anunciou há dois anos que estava encerrando sua atividade. A outra, Hvalur, tinha decidido participar das últimas três campanhas. Durante as três últimas temporadas de verão, apenas uma baleia-de-minke foi caçada, em 2021.

O Japão, maior mercado de carne de baleia, retomou a caça comercial em 2019, após uma pausa de três décadas. Embora o arquipélago vendesse sua própria mercadoria através de capturas "científicas", a caça de baleias —sob cotas— pôde ser retomada após a retirada de Tóquio da Comissão Baleeira Internacional (CBI).

Este organismo proibiu a caça comercial de baleias em 1986, mas a Islândia, que se opôs à moratória, a retomou em 2003. A caça à baleia-azul, proibida pela comissão, também é proibida na Islândia.

Em 2018, o último verão de caça significativa em águas islandesas, 146 baleias-comuns e seis baleias-minke foram mortas.

A Islândia, uma ilha de 370.000 pessoas com sua economia cada vez mais voltada para o turismo, está vendo uma crescente indústria de observação de baleias para visitantes estrangeiros.

Para o biólogo marinho Gisli Vikingsson, a caça de baleias pode ser sustentável se as cotas forem respeitadas, mas a aceitação desta prática vai além das considerações científicas.

"Embora a caça de baleias seja biologicamente sustentável, pode não sê-lo social ou economicamente, e isso está fora do nosso âmbito de competência", disse à AFP o especialista do Instituto de Pesquisa Marinha e de Água Doce.

A situação da caça na Noruega também está estagnada há vários anos. Os baleeiros estão lutando para cobrir as cotas concedidas pelo governo e o número de navios envolvidos nessa atividade controversa continua diminuindo.

Em 2021 foram capturados 575 cetáceos, menos da metade das cotas autorizadas, por parte dos 14 navios que continuam ativos em águas norueguesas.

No Mar do Norte, as ilhas Feroe autorizam a caça ritual de delfinídeos, a chamada "Grind", para consumo local, apesar de sua carne ser contaminada com metais pesados e ser alvo de controvérsia internacional.

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