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Cadela que apreendeu toneladas de drogas na Colômbia é ameaçada por rede de traficantes

A dois anos de se aposentar, Sombra teve que ser realocada

Sombra, a cadela ameaçada pela guerra das drogas na Colômbia
Sombra, a cadela ameaçada pela guerra das drogas na Colômbia - Raul Arboleda/ AFP
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Diego Legrand
Bogotá

Depois de tirar milhões de dólares do tráfico de drogas, Sombra corre grandes riscos. Até a máfia chegou a colocar um preço em seu focinho. A polícia colombiana decidiu então proteger sua cadela-estrela antidrogas, enviando-a para um lugar seguro em Bogotá.

“Não só Sombra tem sido ameaçada, mas muitos cães na polícia, diariamente, estão sofrendo ameaças”, explica Jeison Cardona, instrutor canino da escola de adestramento do município de Facatativa, no centro do país.

No entanto, desta vez, as autoridades optaram por colocá-la em segurança, num incomum caso de um animal forçado ao exílio em razão do tráfico de drogas.

A pastor alemão de seis anos tornou-se o pesadelo do poderoso clã do Golfo, a maior organização de tráfico de drogas da Colômbia, que, segundo o governo, está em processo de rendição, depois de ter recebido duros golpes.

A história da Sombra com este grupo armado remonta a 2016, quando ela descobriu 2,9 toneladas de cocaína no porto de Urabá, no noroeste, escondidas em um “contêiner carregado de banana” com destino a Antuérpia, na Bélgica.

Um feito que repetiu em maio de 2017, quando encontrou 1,1 tonelada de cocaína escondida em polpa de frutas em um depósito na cidade caribenha de Santa Marta.

Furiosos, os homens de Dairo Antonio Úsuga (Otoniel), chefe do clã, tentaram subornar um policial com cerca de US$ 7.000 dólares para entregá-los a cadela.

“Por precaução, decidimos transferi-la, levando em conta os indícios de ameaça do clã do Golfo”, indicou o coronel Tito Castellanos, vice-diretor da polícia antinarcóticos.

Desta forma, a pastor alemão tornou-se alvo de um dos homens mais procurados e temidos da Colômbia, o maior produtor mundial de cocaína consumida nos Estados Unidos.

Até agora, este ano, os 346 cães policiais detectaram cerca de 200 toneladas de todos os tipos de drogas num valor estimado de US$ 5 bilhões, de acordo com a diretoria antinarcóticos. Apenas Sombra detectou nove toneladas em seus cinco anos de atividade.  

UMA BOLA DE PRÊMIO

Por causa das ameaças, a polícia antinarcóticos transferiu Sombra a um canil secreto. Embora seja difícil que ela faça grandes apreensões em seu novo posto, Sombra segue ativa. 

A pastor alemão parece confortável no frio de Bogotá. “Mais do que de trabalho, a relação com o canino é de amizade, de companhia, de dar apoio um ao outro”, diz José Rojas, o oficial responsável por seus cuidados.

O dia de trabalho de Sombra é de oito horas, com um intervalo de duas. De cada 100 cães, apenas cinco possuem habilidades de agente antinarcóticos. Paradoxalmente, não se busca que procriem.

Os escolhidos se especializam na detecção de cocaína ou drogas sintéticas, e alguns até desenvolvem um olfato capaz de atravessar o aço.

Para os cães, “procurar drogas é uma brincadeira”, explica Rojas. Quando Sombra, por exemplo, detecta algo suspeito, recebe como prêmio uma bola. Ela “se sobressai porque desenvolveu um pouco mais o seu olfato” na busca de cocaína, afirma com orgulho seu cuidador. 

Além disso, distingue-se por sua coragem de ir nos locais onde os outros cães não vão. Não foge da selva, nem dos barcos, nem das câmeras de televisão.

RISCO POR EXPLOSIVOS 

Na prolongada e questionável luta antidrogas, os cães se tornaram um valioso aliado das autoridades. Tal é a sua eficácia que os traficantes tentam eliminá-los.

Alguns cães já foram mortos na Colômbia --o número é mantido em segredo-- quando participavam no trabalho de erradicação de plantações de drogas, detectando os explosivos com os quais tentam proteger as plantações.

“Na zona rural de Tumaco (fronteira com o Equador) morreram animais por explosivos e franco-atiradores. Quando o cão senta para apontar que há uma carga explosiva, os criminosos ativam o explosivo”, afirma o coronel Carlos Villarreal, chefe de treinamento canino da polícia.

No segundo país com o maior número de minas antipessoal, atrás do Afeganistão, o combate às drogas traz riscos adicionais para humanos e animais.

Os traficantes de drogas, por sua vez, também recorreram ao olfato dos cães para testar a camuflagem de seus carregamentos. E chegaram ao ponto de “contaminar a droga com urina de leão” para afugentar as fêmeas ou os machos treinados, segundo o coronel Villarreal.

Sombra tem dois anos para se aposentar e ir para uma casa em Guaymaral, uma área rural ao norte de Bogotá, para onde vão os cães aposentados que trabalham com as autoridades. Até lá, a polícia continuará cuidando dela com cuidado.

AFP
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