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Quem era Issam Abdallah, 37, jornalista da Reuters morto em bombardeio no sul do Líbano

Experiente e apaixonado por motos e gastronomia, correspondente fazia transmissão ao vivo quando foi atingido, na tarde desta sexta (13), na fronteira com Israel

Issam costumava filmar e fotografar suas viagens de moto - Instagram @issamabdallah

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São Paulo

Jornalista da agência de notícia Reuters morto aos 37 anos nesta sexta-feira (13) em um bombardeio no sul do Líbano, Issam Abdallah era um profissional experiente e apaixonado pelo seu trabalho —e também por motos e gastronomia. "Motocicleta, comida e notícias", é como ele se descreve no X (antigo Twitter).

Ele era integrante de um motoclube libanês e fazia longas viagens em sua moto BMW pelo país e por regiões vizinhas. Numa delas, chegou a percorrer 320 quilômetros em quase sete horas pilotando. Também gostava muito de gatos e postou em suas redes vídeos de resgate de alguns bichanos em situação de perigo, além de publicar com frequência imagens de gatinhos aleatórios.

Fã do cantor sírio-libanes George Wassouf, uma das estrelas da música árabe contemporânea, Issam se orgulhava da cultura e da gastronomia de seu país. Fotógrafo e cinegrafista, não economizava em imagens de pratos típicos libaneses, chegando a publicar pequenos vídeos em que prepara iguarias locais. Em outros, aparece comendo e brindando, feliz, junto a amigos em bares e restaurantes do Líbano, e em festivais de gastronomia de outros países.

Algumas horas antes de sua morte, às 11h42, o jornalista gravou um vídeo de uma das explosões no Sul do Líbano, na divisa com Israel. Às 15h57, a Reuters anunciou sua morte. Esse foi só um dos registros do profissional nesta região, que ele conhecia tão bem.

Issam era profissional da Reuters desde 2007 e cobriu eventos marcantes, como o terremoto na Turquia, em fevereiro passado, e a Guerra da Ucrânia. O Líbano era a sua verdadeira base, onde nasceu, estudou e também morreu. No momento do ataque, ele fazia uma transmissão ao vivo para a agência de notícias em um comboio ao lado de jornalistas da rede qatari Al Jazeera e da AFP. Ele não tinha filhos e deixa a mãe, uma irmã e dois irmãos.

Salon Beyrouth, gastrobar frequentado por Issam e um de seus restaurantes preferidos na cidade, declarou luto de três dias e ficará fechado até a próxima segunda-feira, reabrindo no dia seguinte.

Colegas de profissão exaltam a experiência profissional de Abadallah, e também o prazer com que fazia seu trabalho. "Você não conhecia o Issam, mas conhecia o trabalho dele. O link dele da explosão de Beirute há 3 anos foi usado por mais de 600 TVs. Ele levou a você informação rigorosa em dezenas de coberturas na maior agência de notícias do mundo", postou o jornalista brasileiro Fernando Kallás.

Ueslei Marcelino, fotógrafo da mesma agência, postou uma homenagem a Issam. Eles se conheceram em 2022 e cobriram a guerra da Ucrânia juntos.

"Nos encontramos em Odesa, o clima era tenso, mas ele me acolheu de uma forma muito profissional, respeitosa e carinhosa. Ele foi sempre cordial comigo. O cara era bem humorado demais, sorriamos sempre que era possível", começou, e deu detalhes da última conversa com o amigo por meio de uma chamada de vídeo.

"Começamos a conversa e ele foi logo fazendo questão de mostrar o adesivo da bandeira do Brasil que colou no seu computador ainda na Ucrânia. Falamos sobre o trabalho, a empresa e amenidades. Sorrimos e nos despedimos. Uns dias depois me mandou um áudio me dando parabéns por meu aniversário. Eu não sabia que essa era a nossa última conversa. A guerra é cruel para todos, mas é mais ainda para quem morre nela."

Na Globonews, o correspondente Guga Chacra ressaltou a surpresa que colegas tiveram com a morte de Issam: "Ele estava acostumado, então é muito surpreendente que tenha sido alvo deste ataque". "Ele conhece muito. Já deve ter ido dezenas, talvez centenas de vezes ao Sul do Líbano fazer reportagens".