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Descrição de chapéu The New York Times tiktok

Com comédia, desafios e muita dança, TikTok foi a sensação das redes sociais em 2020

Plataforma influenciou desde a moda até a política no último ano

TikTok tornou-se disponível nos EUA em agosto de 2018; em abril de 2020, ele foi baixado mais de 2 bilhões de vezes. - Valerie Macon/AFP

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Taylor Lorenz

The New York Times

Faz mais de dois anos que o TikTok chegou aos Estados Unidos, em agosto de 2018, para desmentir qualquer pessoa que acreditasse que a mídia social tinha perdido o rumo. O app oferecia tudo: comentário social, comédia, artesanato, memes, desafios, aulas de maquiagem e, é claro, dança.

Mesmo as pessoas que não se deixaram convencer totalmente por seus méritos foram incapazes de escapar aos vídeos, que proliferaram em plataformas como o Instagram, YouTube e Twitter. Em abril de 2020, o TikTok já havia sido baixado mais de dois bilhões de vezes; no quarto trimestre do ano, seu total diário de usuários foi estimado em 850 milhões de pessoas.

A despeito do crescimento de seu tamanho e escopo, os desinformados ainda viam o aplicativo como um instrumento para uso por outras pessoas, em geral pessoas muito mais jovens. “O TikTok é um app para vídeos de crianças dançando, no qual crianças sobem vídeos que mostram suas danças, e que adultos e crianças podem curtir”, brincou o comediante Nathan Fielder recentemente.

Embora seja verdade que o TikTok mudou a cultura da dança online, a plataforma, de um ponto de vista mais amplo, se transformou em uma rica rede social e de entretenimento. E em 2020, praticamente não há áreas da sociedade que não tenham sido afetadas por ela.

O ENTRETENIMENTO VIRADO DE CABEÇA PARA BAIXO

O impacto mais evidente do TikTok talvez tenha acontecido no entretenimento. “Mais do que qualquer outra rede social desde o Myspace, ele parece oferecer uma nova experiência, e representa o surgimento de um tipo diferente de tecnologia e de um modo diferente de consumo de mídia”, escreveu o jornalista Kyle Chayka em novembro.

A principal responsável pela singularidade da experiência de assistir ao TikTok talvez seja a página For You, um sistema alimentado por algoritmos que serve aos usuários conteúdo que interessa a eles. Não é preciso seguir qualquer pessoa, ou ser seguido por qualquer pessoa, para ver vídeos que interessem a um usuário ou para que os vídeos subidos pelo usuário sejam encaminhados à audiência pretendida, o que permitiu que muita gente ganhasse fama rapidamente.

Em 2020, os usuários mais conhecidos, como Charli e Dixie D’Amelio e Addison Easterling, conquistaram dezenas de milhões de seguidores, e se tornaram famosos. As irmãs D’Amelio conquistaram até um programa próprio no serviço de streaming Hulu.

O app também revigorou o setor de música e se tornou um recurso para descobrir talentos, divulgar novas canções, produzir música colaborativa e criar mashups musicais.

MUDANDO O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

O TikTok teve efeito inegável sobre o que as pessoas vestem e compram. Em 2020, usuários do TikTok apareceram em campanhas da Louis Vuitton e Prada, assinaram com agências como a IMG Models e determinaram tendências (por exemplo o “cottagecore” e o vestido com estampa de morangos).

A Gucci tirou vantagem de um desafio que ensinava as pessoas a alterar peças que tinham em seus guarda-roupas a fim de torná-las parecidas com as criações de Alessandro Michele para as passarelas. (Se você tem um lenço de cabeça, um suéter de gola alta e alguns acessórios coloridos, já está com meio caminho andado.)

Grifes voltadas ao público de massa também se alinharam com influenciadores; produtos da Hype House, por exemplo, estão à venda na cadeia de supermercados Target. "Isso vai além dos modelos e influencia a expressão criativa”, disse Kudzi Chikumbu, o diretor da comunidade de criadores do TikTok, ao site Vogue.com, em dezembro. "O TikTok é um lugar para alegria, e está dando à indústria da moda toda uma maneira nova de mostrar arte e personalidade."

Enquanto as lojas físicas tinham as portas fechadas, nos meses iniciais da pandemia, novas lojas virtuais e grifes fervilhavam no TikTok, usando a plataforma para conquistar encomendas online. Vendedores de produtos vintage usam o TikTok para divulgar seus produtos e revigorar estilos do passado. Grandes cadeias de varejo, como Sephora, Dunkin’ e GameStop, chegaram a encorajar seus empregados a se tornarem influenciadores no app.

UM RETRATO DA LINHA DE FRENTE

Os trabalhadores do ramo de serviços estiveram entre as primeiras pessoas a adotar o TikTok, em 2018, e em 2020 foi possível ver as vidas deles de novas maneiras. Empregados de armazéns dos serviços de varejo online, de cadeias de fast food e de redes de cafés recorreram ao TikTok para oferecer aos interessados um vislumbre de suas vidas, e alguns deles conquistaram fama inesperada, no meio do caminho.

Em 2020, muitos dos setores em que eles trabalham sofreram com a pandemia, e recorreram ao TikTok a fim de encorajar esforços de arrecadação de fundos e projetos de assistência. E à medida que o coronavírus se espalhava, o TikTok passou a desempenhar um papel importante na saúde pública.

Enfermeiras, médicos e outros trabalhadores de linha de frente recorreram ao TikTok a fim de falar sobre os riscos de contrair a Covid-19 e explicar a importância de usar máscaras, e para combater a desinformação que circulava sobre vacinas. (Muitos deles também recorreram à plataforma para documentar vacinações.)

Pacientes do coronavírus e de outras doenças registraram suas jornadas médicas e se conectaram ao mundo lá fora, de seus leitos hospitalares.

AJUDA NOS ESFORÇOS DE ORGANIZAÇÃO E PROTESTO

O movimento Black Lives Matter começou a ganhar apoio nos Estados Unidos, na metade do ano, e o TikTok se tornou um recurso que jovens ativistas podiam usar para falar sobre brutalidade policial, sobre o que significa ser um aliado, e sobre a reforma da justiça criminal, bem como sobre o relacionamento entre o app e os criadores negros de conteúdo.

O ativismo político também foi frutífero no TikTok. Em junho, usuários do app organizaram uma campanha para inflar as expectativas de comparecimento a um comício de campanha do presidente Donald Trump em Tulsa, Oklahoma. Fotos do evento mostraram baixa presença do público e muitos assentos vazios.

Depois do comício, Steve Schmidt, estrategista do Partido Republicano, escreveu no Twitter que “os adolescentes dos Estados Unidos desferiram um golpe bruto contra Donald Trump”. Críticos forçaram o TikTok a combater a difusão descontrolada de desinformação na plataforma, que incluía a retomada das teorias de conspiração QAnon e Pizzagate.

Com a eleição presidencial se aproximando, jovens comentaristas políticos e coletivos como o "TikTok for Joe Biden" usaram a plataforma a fim de influenciar as convicções e opções de voto dos eleitores jovens. Milhões de adolescentes acompanharam a apuração dos resultados da eleição no TikTok. E a despeito dos muitos esforços de Trump para banir o app, a plataforma perseverou.

AJUDANDO AS PESSOAS A MANTER A CONEXÃO

Depois que muitas escolas americanas transferiram o ensino para a internet, no segundo trimestre, estudantes e professores passaram a usar o TikTok para discutir as dificuldades que os educadores enfrentam. Estudantes transmitiram sessões de estudo em “livestream” e usaram o TikTok para trocar informações sobre tarefas e para aprender com seus colegas.

Em junho, o TikTok lançou uma iniciativa de educação e anunciou que trabalharia com centenas de especialistas a fim de produzir conteúdo educativo para a plataforma. Além de ajudar professores e alunos a se manterem conectados, o app fomentou amizades e relacionamentos remotos, em um ano em que as viagens ficaram seriamente restritas. E ajudou os pais a reclamar sobre as dificuldades de criar filhos e de encontrar um caminho na vida adulta.

DIFUNDINDO TENDÊNCIAS POSITIVAS

Umas das primeiras e mais visíveis tendências a surgir no TikTok em 2020 foi o Renegade, uma forma de dança coreografada por Jalaiah Harmon, 15, ao som de “Lottery”, uma canção de K Camp, um rapper de Atlanta. A dança, popularizada primariamente por influenciadores brancos, gerou um diálogo com criadores negros, e sobre a atribuição correta de créditos.

Em 2020, a cultura viral da alimentação migrou do Instagram para o TikTok. A plataforma popularizou as panquecas de cereais, o café batido e o bacon com cenoura. Também ajudou iniciantes como Eitan Bernath, 18, o queridinho da culinária, a serem descobertos, e ensinou milhões de pessoas presas em casa por conta da pandemia a cozinhar.

As canções e as faixas de áudio do TikTok serviram como trilha sonora de 2020. A plataforma tirou artistas novos da obscuridade em velocidade jamais vista no setor de música. Levou canções como “Dreams”, do Fleetwood Mac, de volta à fama, e apresentou novos trabalhos ao público de massa.

As pessoas que sentem fatigadas com os meses de isolamento e medo recorrem ao TikTok para “manifestar” uma realidade melhor, ou encontrar uma conexão espiritual com membros de comunidades religiosas e com as bruxas do WitchTok.

Surgiram comunidades criativas que encorajam a expressão pessoal. Milhares de adolescentes começaram a fazer “cosplay” usando os nomes de grandes corporações internacionais, e criando fã-clubes absurdos. Outros milhares de usuários iniciaram uma adaptação musical expansiva e colaborativa de “Ratatouille”, da Disney Pixar. Outros ainda criaram histórias e cenas originais complexas, e como parte do TikTok POV (ponto de vista).

A esta altura, quem pode saber o que 2021 trará?

Tradução de Paulo Migliacci