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Pai ausente: Manifestar seus sentimentos pode ajudar a desfazer mágoas

A lembrança paterna traz algum tipo de dor para você?

Muitos pais estão descobrindo o quanto é bom ser responsável pela formação de um filho - Personare

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Celia Lima

São muitos os momentos em que pode ser sentida a ausência paterna. Desde os pais que já se foram aos que nunca estiveram presentes mesmo estando vivos, a proximidade de algumas datas, como do Dia dos Pais, traz, para algumas pessoas, sentimentos de nostalgia, saudade, mágoa, tristeza e até mesmo raiva.

Vivemos uma transformação radical em nossa sociedade nos dias de hoje e muitos pais estão descobrindo o quanto é bom ser responsável pela formação de um filho, o quanto é bom receber abraços e beijos de amor e gratidão, o quanto é importante transmitir valores e acompanhar a evolução e o desenvolvimento da prole. Mas esses mesmos pais nem sempre tiveram a sorte de ter pais para amar e respeitar, com quem puderam aprender e em quem puderam confiar.

Não há realidade mais fácil ou mais difícil ao lidar com a ausência do pai. Cada pessoa lida com essa ausência, quando ela ocorre, de uma forma muito particular. E os motivos da ausência paterna são diversos, da mesma forma que são diversas as formas de entender a figura do pai.

A LEMBRANÇA PATERNA TRAZ ALGUM TIPO DE DOR PARA VOCÊ?

Para muitas crianças, adolescentes ou mesmo adultos, o pai representa a punição, o medo, a dor. O pai que se faz presente através da surra, do grito, de exigências, de palavras duras e até mesmo vulgares deixa na pessoa uma sensação de desamparo, de incapacidade, uma impressão de não haver nada que possa satisfazê-lo para ser merecedora de sua atenção amorosa.

Muitos adultos ainda tremem como quando eram crianças diante de sua presença austera e perturbadora. O sentimento é de que o pai amoroso existe, mas… Onde é que ele está? Trancado dentro daquela figura ameaçadora sem que se possa acessá-lo?

Outras pessoas conhecem seus pais, mas não convivem com eles. Esses pais muitas vezes não assumem a paternidade do filho, impossibilitando criar um vínculo de intimidade e afeto. Muitas pessoas, depois de uma certa idade, buscam esses pais na tentativa de compreender a razão dessa indiferença, dessa ausência deliberada. E são muitos os que crescem acreditando serem os culpados pelo distanciamento do pai, imaginando que não são merecedores do afeto dele. Quando o encontro acontece, nem sempre eles são esclarecedores e são raras as vezes em que, num esforço mútuo, consegue-se desenvolver e cultivar um relacionamento paterno e filial, já que será preciso alguma maturidade e compreensão para superar uma ausência de tanto tempo.

Outras pessoas, ainda, jamais viram seus pais. Ou porque eles sumiram da vida de suas mães sem deixar rastro ou mesmo porque sequer sabem que têm um filho, ou ainda por irresponsabilidade ou incompetência para lidar com essa realidade. Esses filhos não sabem por onde começar a procurá-lo e acabam por idealizar o pai perfeito ou, por informações recebidas, dependendo do caso, a vê-lo como o maior dos monstros. Essa situação provoca um imenso vazio porque não há uma figura nem para amar, nem para odiar e nem para compreender.

Por fim, existe o pai apático. Aquele que, não importa se mora ou não na mesma casa, não vocifera, mas também não participa de nada, não se envolve, não demonstra interesse, é uma pessoa para quem tudo tanto faz. Uma figura decorativa a quem chamar de pai é igualmente um pai ausente, inexpressivo, que dá a sensação de viver apenas em seu mundo particular, no qual os filhos não existem. Essa situação causa uma grande ansiedade nos jovens e crianças que acabam muitas vezes agindo de forma a exigir nem que seja o que chamamos de “carícia negativa”: vale fazer tudo de errado para chamar a atenção daquela criatura que parece não ter sentimentos. E muitas vezes nem assim conseguem alguma reação.

É claro que para cada tipo de pai existe uma mãe que participa dessa realidade, que é cúmplice ou omissa, vítima de sua própria história, mas não é o caso, agora, de nos aprofundarmos nesse tema.

DESFAZENDO AS MÁGOAS COM O PAI

Para quem se identifica com essas situações de ausência paterna, é bom saber que nem os pais, nem ninguém, muda seu jeito de ser para satisfazer nossas necessidades ou desejos. Eles são como são. E na maior parte das vezes existe uma qualidade de amor nesses filhos que fica represada, com receio de se manifestar, por medo de enfrentar uma possível rejeição.

Mas por que deixar que esses temperamentos difíceis impeçam esses filhos de manifestar seus sentimentos? Costumo dizer que muitas vezes amamos “porque” e outras vezes “apesar de”, mas nem por isso deixa de ser amor. Assim, é muito saudável manifestar esse amor – não necessariamente para fazer o outro se sentir bem, mas para que esse amor não fique aí dentro de você, sem voz. É quase como fazer um carinho em si mesmo, é respeitar os próprios sentimentos e dar vazão a eles.

Os que conseguirem falar pessoalmente uma frase, uma palavra ou até mesmo um discurso inteiro para esse pai ausente experimentarão o alívio e a satisfação de se manifestar. Amar “apesar de” também é amar. E todo amor vale a pena. Declare-se, ainda que não vá resolver todas as mágoas. Declare-se sem esperar nada, a não ser sua satisfação em poder fazê-lo.

Se não puder ser pessoalmente ou se você ficar mais confortável escrevendo, faça isso! Escreva uma carta ou um cartão. Mesmo que você não conheça seu pai, também vale escrever essa carta ao pai desconhecido, colocar ali seu coração, envelopar e botar numa caixa de correio. Simbolicamente essa carta chegará ao seu destino, ou seja, ao seu próprio coração.

A raiva é um subproduto da mágoa. Não há raiva onde antes a mágoa não tiver sido instalada. Claro que é legítimo sentir raiva em muitas situações, mas ela consome uma quantidade imensa de energia. Ao menos por alguns momentos, se você conseguir dar mais atenção ao amor que tem dentro de si, ao amor que gostaria de manifestar “apesar de”, certamente vai experimentar uma onda quente e doce percorrendo seu corpo.

Escrever ou conversar também pode ser feito por quem perdeu seu pai, seja através de um diálogo imaginário em casa, no lugar onde ele costumava ficar, numa visita ao cemitério ou em algum local que vocês costumavam ir. Fechar os olhos por uns momentos e recordar, abraçar e sentir-se abraçado, matar a saudade revivendo boas recordações ou mesmo tendo aquela conversa que nunca conseguiram ter enquanto ele estava presente, revelando seus sentimentos, suas possíveis chateações e tentando trazer algum humor a essa conversa silenciosa, certamente trará um conforto bom de sentir.

Nas datas especiais em que a efetiva ausência de um pai mexe mais profundamente com nossos sentidos, não há nada que impeça uma comemoração junto de um avô, de um tio, do pai de um amigo ou de um professor querido. Deixe essa qualidade especial de amor de filho para pai se manifestar. Não se prive de exercer esse sentimento, encontrando a melhor forma de extravasá-lo, seja com o próprio pai ou com quem você julgar que possa representá-lo.

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