'Segredos do Miss América' expõe casos de misoginia e racismo nos bastidores do concurso
Programa estreia neste domingo (19) e conta com depoimentos exclusivos de ex-vencedoras
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Uma série de denúncias e de problemas enfrentados por candidatas do concurso de beleza mais antigo dos Estados Unidos são expostos em Segredos do Miss América, que estreia no domingo (22), às 21h45, no canal pago A&E. Os dois primeiros episódios serão exibidos em sequência. Os outros dois —são quatro ao todo— serão lançados no mesmo horário e dia, na semana seguinte.
Realizado desde 1921 e assistido por mais de 80 milhões de pessoas ao ano, o Miss América carrega um passado nebuloso. No palco, as 51 candidatas disputam a atenção dos jurados da vez. Do lado de fora, há uma série de denúncias.
Logo no capítulo de estreia, a minissérie recupera o caso dos emails envolvendo o Conselho de Administração da Organização Miss América e que levaram à renúncia do presidente do concurso, Sam Haskell, em 2017. Os textos foram julgados por seu alto teor de misoginia e racismo.
Para falar sobre a situação, Segredos do Miss América conta com o depoimento de Mallory Hagan, Miss América 2013. Ela afirma que foi alvo frequente do assédio de Haskell, que comentava sobre seu peso e especulava sobre sua vida sexual, e que a intimidava e a envergonhava junto de seus colegas.
Nos episódios seguintes, a minissérie explora questões ainda mais complexas. A eliminação da etapa da exibição das candidatas em maiôs e o racismo são foco do segundo e do terceiro capítulos, respectivamente. Durante a década de 1940, uma das regras do concurso estabelecia que "os concorrentes devem gozar de boa saúde e ser de raça branca".
O assunto é debatido no programa por Caressa Cameron Jackson, a primeira Miss Virgínia afro-americana a vencer o Miss América, em 2010. Em entrevista ao F5, ela diz que essa regra ainda seguiu tendo efeito em muitas edições. Somente em 1983, a primeira negra venceu o concurso.
"Durante meu tempo competindo, ainda tive a sensação de que a regra número sete ainda existia, mas de uma forma muito tácita", avalia ela, que ficou traumatizada por outros motivos que vão bem além do racismo em si.
Caressa conta que a cultura tóxica das dietas, por exemplo, também é algo que precisa ser repensado. "Acredito que essa cultura da alimentação com dietas tóxicas está presente internacionalmente no mundo dos concursos de beleza", afirma.
"O que aconteceu foi a criação de um padrão de beleza que não é natural e não é realista", avalia. "Na verdade, quando parei de competir e voltei a comer algumas coisas, como açúcar e mais carboidratos —e eu agora amo arroz e pão—, foi muito difícil ver meu próprio corpo voltar ao seu peso natural."
O quarto episódio ainda se aprofunda na questão da saúde mental das candidatas. Em 2022, a Miss Estados Unidos 2019, Cheslie Kryst, cometeu suicídio e acendeu um alerta sobre o quanto os concursos pressionam as candidatas.
"Eu tinha 21 anos quando ganhei, já se passaram quase 13 anos, e a saúde mental nem era um assunto de discussão", conta Caressa. "Eu engolia meus sentimentos e pensava: 'Bem, é um ano, vou aguentar por um ano, eu consigo'."
A Miss América 2010 aponta que é preciso observar mais de perto as candidatas para tentar ajudá-las quando for preciso. "Precisamos perceber que há muitas coisas difíceis que podem acontecer com uma pessoa que não está preparada e que não pode se levantar e se recompor todos os dias quando não está se sentindo bem", afirma.
Erramos: o texto foi alterado
A Miss América 2019 é Nia Franklin, não Cheslie Kryst, vencedora do Miss Estados Unidos no mesmo ano, como afirmado anteriormente. O texto já foi corrigido.