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'Um Lugar ao Sol': Pandemia garantiu tempo e finais alternativos à novela

Trama das 21h da Globo estreia nessa segunda, após série de reprises

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São Paulo

"Um Lugar ao Sol" tinha acabado de iniciar suas gravações quando a pandemia trouxe a primeira paralisação da produção, no início de 2020. Depois veio mais uma, além de uma porção de protocolos sanitários que eram criados e aperfeiçoados continuamente. O resultado foi uma trama gravada em ritmo lento, diferente de outras novelas.

Segundo o ator Cauã Reymond, 41, que interpreta os gêmeos Christian e Renato na trama, a pandemia deixou as gravações mais dramáticas, mas também beneficiou a equipe. "Com menos gravações por dia alcançamos uma qualidade que não conseguiríamos numa novela normal, não por falta de mérito da equipe, mas pelo ritmo que as novelas costumam ter", afirmou ele em conversa com a imprensa.

"Um dos irmãos está sempre reagindo a depender do núcleo em que está. É diferente de outros personagens protagonistas, que costumam falar muito. Ele só reage, e eu pude construir esse silêncio com a ajuda da direção porque o arco dramático é bem definido", completou ele, que classificou o trabalho como o mais complexo de sua carreira, além de marcar seu retorno às novelas após seis anos.

O folhetim, que marca a estreia da autora Lícia Manzo na faixa das 21h da Globo, conta a história de dois irmãos gêmeos separados ainda bebês, sendo um adotado por uma família rica do Rio de Janeiro, enquanto o outro cresce em um abrigo de Goiânia. Já adultos, eles se reencontram e, após a morte de Renato, Christian assume a identidade do irmão para aproveitar as oportunidades que nunca teve na vida.

A trama tinha apenas algumas cenas gravadas no exterior quando teve a primeira paralisação. A retomada aconteceu pouco depois, mas as incertezas logo tornaram "Um Lugar ao Sol" um exemplo de inovação na dramaturgia. Além do ritmo mais lento, que lhe garantiu dois anos de produção e uma qualidade de série, a novela estreia já toda gravada, sem possibilidade de mudanças a gosto do público.

A prática não é inédita, mas pouco usada na história Globo. Com a pandemia, foi o recurso encontrado para "Um Lugar ao Sol" e também "Nos Tempos do Imperador", atual trama das 18h. A segunda, no entanto, tem passado por regravações e ajustes inesperados, o que não deve ocorrer com "Um Lugar ao Sol". A saída da equipe foi criar finais alternativos, que deixam até o elenco incerto quanto aos desfechos.

Sem a pressa para a entrega diária de capítulos, o diretor Maurício Farias conta que eram muitas as cenas gravadas simultaneamente, sem sequência cronológica. "Isso, geralmente acontece com os dez primeiros capítulos e depois começa a seguir uma cronologia, mas nós fazíamos 30, 40 capítulos totalmente misturados", afirma ele, que completa em elogios ao protagonista: "Cauã fez isso de uma forma brilhante."

"Gosto de acreditar que quando a gente topa fazer um projeto está escolhendo doar parte da sua vida. Eu entrego determinação, vontade, parte de quem eu sou. Realmente me entrego de cabeça. Gostaria de trazer a primeira novela das 21h inédita desde o começo da pandemia, mas além disso queria que o nosso trabalho gerasse muita reflexão, principalmente nesse Brasil em que estamos vivendo", diz o ator.

"107 capítulos produzidas em uma pandemia. A gente está falando de uma espécie de heroísmo de toda equipe e da empresa que se prontificou a dar espaço seguro para isso", completa a atriz Andréia Horta, 38, que dá vida a Lara, namorada de Christian na trama. "O ônus é não ver os episódios saindo, mas também trouxe mais tempo para a feitura de cada episódio. O tempo para mim é a matéria-prima."

OBRAS ABERTAS OU FECHADAS

A adoção do modelo de obras fechadas nas novelas foi uma saída usada pela Globo durante a pandemia, mas tem dividido a opinião dos especialistas. A escritora Glória Perez, responsável por sucessos como "O Clone" (2001-2002), reprisada hoje no Vale a Pena Ver de Novo, e "A Força do Querer" (2017), chegou a dizer recentemente que "novela fechada não é novela".

"A característica básica [da novela] é ser obra aberta, esse grande diálogo com o público. Se você tirar isso, não é mais novela. Eu acredito que isso [a adoção de obras fechadas] foi por causa do vírus e é compreensível que tenha mudado, mas não acredito que isso permaneça", disse ela em uma live com o jornalista Luis Erlanger.

Maurício Farias, que dirige "Um Lugar ao Sol", também afirma torcer pelo retorno dos folhetins como costumavam ser. "Acho que temos uma obra nova, feita de uma forma diferente, provavelmente fará parte de uma galeria pequena de obras, mas esperamos que as obras grandes possam voltar a esse formato. É só um habito quebrado pela pandemia", disse em conversa com a imprensa, realizado na semana passada.

Já Lícia Manzo vê essa mudança como parte de uma renovação. "A gente está vivendo uma grande revolução. Agora tudo caminha para novelas no streaming, provavelmente menores, fechadas, e continuam sendo novelas. Se nos abrirmos a essa experiência pode ser emocionante. Acho que a gente podia se apegar menos, coisas estão em cursos, revoluções por segundo, então vamos conversar com elas."