Televisão

SporTV 30 anos: Veteranos lembram choro e narrações; novos talentos falam sonhos

Sinal do canal fica aberto de 10 a 25 de novembro para não assinantes

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São Paulo

Nesse dia 10 de novembro de 2021, o canal SporTV celebra 30 anos de existência. Como presente ao público, a emissora vai abrir o sinal para não assinantes desta data até o dia 25. O canal também ganha uma nova identidade visual.

Veteranos da emissora, os narradores Cléber Machado e Luiz Carlos Jr. ​fazem parte do canal desde a sua fundação, no ano de 1991. Segundo eles, acompanhar a evolução do SporTV é como acompanhar a própria trajetória, já que estão intimamente ligadas.

"São evoluções que marcam uma grande vitória pessoal. Quando começamos lá atrás, há 30 anos, éramos poucos fazendo um canal inteiro, mas muito unidos. Havia uma pureza e um sentimento de que o SporTV seria grande, relevante e importante. Quando isso se confirma e me torno, de certa maneira, um profissional muito conceituado no Brasil, fico muito feliz", define Luiz Carlos Jr.

Outro pioneiro do canal quando ainda se chamava Top Sports, Cléber Machado teve como primeira experiência os Jogos Olímpicos de 1992, em Barcelona, na Espanha. Ele lembra que todas as narrações foram feitas do Brasil e os profissionais foram incansáveis em sua primeira grande cobertura.

"Trinta anos depois, o crescimento vem não só no tamanho, mas na importância, na identidade com o público, no espaço para novos profissionais, nas inovações e nos grandes eventos. Para mim, particularmente, é uma oportunidade de falar diretamente com um público superesportivo", explica o narrador, hoje mais ligado à TV Globo.

"Ter feito por bons anos um programa diário como o Arena SporTV, debatendo o esporte, entrevistando, exercitando diariamente o improviso e a linguagem foi muito enriquecedor. São 30 anos dando um show para quem gosta de esporte", emenda.

Ao longo de três décadas, o jeito de narrar, a infraestrutura e as novidades em cada transmissão foram mudando. Luiz Carlos Jr. é um exemplo. Ele conta que no início do canal suas locuções eram mais "verdes e cruas" e que só a experiência e os anos de carreira puderam levá-lo a um nível interessante e à possibilidade de desvendar atalhos.

"No início me via um narrador que tinha muito potencial, mas ainda muito verde. Na virada dos anos 2000, [me torno] um profissional mais consolidado, que começa a ter espaço na TV aberta, e recentemente um narrador muito mais atento às mudanças frenéticas dos últimos dez anos, como a importância das redes sociais e a interação com esse público", explica.

E por falar em redes sociais, agora tudo o que é falado em uma transmissão pode virar meme ou viralizar. Mas para ele, isso é normal. "Tivemos de nos adequar à linguagem. Ouço minhas narrações nos anos 1990, que a princípio me geravam um certo desconforto. Recentemente fui entender que eram narrações daquela época. Não eram ruins, mas, sim, diferentes por pertencerem a outro espaço de tempo."

Cada transmissão de um evento ao vivo é diferente e única. O narrador lembra o nervosismo e os perrengues da primeira cobertura da Olimpíada de 1992, a mesma transmitida por Machado. Ele revela que as cabeças, ou seja, as introduções gravadas antecipadamente, eram feitas por volta de 5h30. "Não havia camarim e camareira, eu já saía cedo e pronto de casa, como se fosse para um casamento, com blazer, maquiado e cabelo penteado", recorda.

Já na Olimpíada seguinte, em Atlanta 1996, a primeira cobertura in loco do SporTV, Luiz Carlos apresentava o jornal olímpico na época. Ele lembra que assim que encerrou a transmissão do primeiro dia, logo após o "boa noite", caiu aos prantos sozinho em um corredor da produtora.

"Naquele dia me deu um sentimento de realização, de que viemos para os Estados Unidos e fizemos uma bela cobertura olímpica. Foi a minha primeira. E pensar que hoje eu já narrei oito edições olímpicas e sete Copas do Mundo. O sentimento de realização permanece", completa.

Cléber Machado também vê uma clara evolução tecnológica que hoje exige mais do narrador, que não pode perder a atenção com todas as imagens geradas em diversas câmeras ao mesmo tempo. "Hoje temos uma variedade de vozes e estilos e um novo perfil de público, mais participativo, com muita opinião. Não acho que as narrações tenham mudado, mas talvez o público tenha se renovado", avalia.

E toda essa experiência fez de ambos referências no canal para a nova geração de talentos. Dentre essa nova leva de comunicadores está Sérgio Arenillas, que entrou no SporTV em 2015 e já realizava um sonho de criança com 19 anos por meio do projeto Talentos da Narração.

"Fico muito honrado de poder ser parte das mudanças e agora também das celebrações. Isso acaba sendo um lembrete da responsabilidade. O canal tem mais anos de história do que eu tenho de vida. E isso me exige humildade", relata.

Para ele, trocar experiências com os veteranos é fundamental para a sua própria evolução. "É uma relação de muito respeito e troca. Acabamos nos encontrando em grandes coberturas como nos Jogos Olímpicos. No fim, os novos se espelham nessas feras, olhando onde queremos e podemos chegar", diz.

No canal, Arenillas destaca o título do Brasil no revezamento 4x100m no Mundial de Revezamentos em 2019 no Japão como uma de suas narrações mais lendárias por conta da grandeza e da repercussão. Era um domingo de Dia das Mães.

Mas o que logo vem em sua mente com destaque é ser a voz que vem contando um pouco da história da skatista mirim e medalhista olímpica Rayssa Leal. "Narrei todas as vitórias dela no circuito mundial. Talvez por isso tenha me emocionado durante a medalha olímpica. Naquele momento lembrei de toda essa jornada que compartilhamos, cada um de um lado. Pensei na evolução dela e na minha própria."

Mesmo não sendo veterano, Arenillas já possui bons anos de casa e gosta de sonhar alto. Seu maior desejo é estar sempre presente onde o esporte acontecer e atuar com pluralidade esportiva.

NARRADORA SONHA EM ABRIR MAIS ESPAÇO PARA MULHERES

A narradora Natália Lara tem 27 anos e há seis meses é contratada pelo Grupo Globo. Ela é uma das primeiras mulheres a fazer locuções esportivas no canal (a pioneira foi Renata Silveira) e tem o desejo de abrir mais portas para uma nova geração de meninas no esporte.

"Tenho a certeza de que estamos abrindo e que em breve seremos uma equipe ainda maior e mais forte, com mais narradoras, comentaristas e repórteres em todos os lugares", afirma.

A narradora já passou por canais como ESPN, Fox Sports, TV Cultura e o canal de streaming DAZN. Porém, foi no SporTV que ela pôde realizar um de seus maiores sonhos: cobrir uma Paralimpíada.

"Nesses poucos meses de casa que tenho já fiz algumas transmissões muito marcantes. A primeira durante as Paralimpíadas 2020, quando narrei goalball e fiz a minha descrição na abertura para os espectadores deficientes visuais. Além da emocionante conquista da medalha de ouro do futebol de 5, também nas Paralimpíadas", relembra.

Outras transmissões inesquecíveis para ela foram o seu primeiro jogo da basquete da NBA, assim como a sua estreia na Superliga de vôlei e os jogos da seleção brasileira feminina da modalidade nos Jogos Olímpicos de 2020 (cuja transmissão aconteceu em 2021).

"Fazer parte desse time do SporTV representa a realização de um sonho e de uma grande meta profissional, além da responsabilidade grande de empunhar esse microfone. A cada semana sinto que estou crescendo, evoluindo e me desenvolvendo mais", conta.

E as narrações não seriam tão boas não fosse sempre uma boa dose de humor. Segundo ela, algo que a diverte é ter de subir em caixotes para diminuir a diferença de altura em relação aos comentaristas de vôlei e de basquete. "Eu com o meu 1,60 m e eles com mais de 1,90 m, então é sempre gritante o quanto eu fico baixinha do lado", diverte-se.