'Falas de Orgulho': enfermeira relata dificuldade de assumir sexualidade à família
Ângela Fontes é uma das oito personagens reais do especial da Globo
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Foi por causa da novela "Babilônia" (Globo, 2015) que a família da enfermeira aposentada Ângela Fontes, 69, descobriu seu relacionamento de mais de 20 anos com Willman. Na época em que a trama foi exibida, as duas participaram de uma reportagem para o site G1 em que falavam sobre o casal formado na trama por Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg).
"A gente achou que não ia dar em nada, mas esse pessoal mais jovem acha tudo! O sobrinho da Willman entrou no G1 e postou a nossa entrevista", diz Ângela. "Graças a Deus, não tive ninguém que fosse contra. Todo mundo me deu apoio. Eu tirei um grande peso das minhas costas", completa.
Ângela é uma das oito personagens reais mostradas no "Falas de Orgulho", especial que a Globo exibe em 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBT. A ideia, segundo a emissora carioca, é levar para a televisão discussões de temas importantes vinculados a datas do calendário, a exemplo do "Falas Negras", exibido em 20 de novembro de 2020, Dia da Consciência Negra, do "Falas Femininas", em 8 de março, Dia da Mulher, e do "Falas da Terra", em 19 de abril.
No programa, Ângela fala sobre o seu relacionamento com Willman, a descoberta da sua sexualidade e as dificuldades que enfrentou para se aceitar e se assumir lésbica.
"Não foi fácil. Quando tinha uns 16 ou 17 anos cheguei a ter uns namoradinhos, mas eu nunca gostava. Mas não me atinava que talvez a minha sexualidade fosse outra. O tempo foi passando e percebi que eu tinha uma atração maior pelas minhas amigas, mas eu não imaginava que seria isso."
A enfermeira aposentada diz que a família sempre foi muito religiosa e, por isso, ela acreditava que estaria em pecado se ficasse com uma menina. "Mas a atração pela outra pessoa acaba falando muito mais alto. Você não consegue tirar isso da sua cabeça e, com o passar do tempo, vai aceitando que você é diferente."
Ela relata que conheceu Willman entre um plantão e outro, em um hospital onde trabalhou em São Paulo. "Eu a achava muito competente como profissional, muito comprometida, e ficava admirando", relembra, apaixonada, os momentos que antecederam uma história de parceria e companheirismo.
Depois que Ângela foi trabalhar em outro hospital, elas ficaram quase 10 anos sem se ver. "Até que um dia uma amiga minha que trabalhava em um pronto-socorro me falou que estava trabalhando com a Willman. Pedi o contato dela e nos encontramos, fomos tomar uma cerveja. No dia seguinte, fomos almoçar. No outro, busquei ela no serviço e ela fez um jantar para mim. E desde esse jantar, nunca mais nos separamos", relata. Agora, as duas planejam oficializar a união.
Por muitos anos, elas mantiveram o relacionamento às escondidas. Com medo da reação dos seus pais, que sempre diziam que a filha só deveria sair de casa após de casar com um homem, Ângela apresentou a namorada para a família como amiga. Foi graças à novela "Babilônia", que o relacionamento passou a ser conhecido e aceito por todos.
Para Ângela, apesar das muitas conquistas conquistadas pela comunidade LGBTQIA+, ainda é preciso avançar em muitas questões, como que os casais homossexuais tenham os mesmos direitos que qualquer outro casal.
"Por exemplo, eu e Willman estávamos planejando nos casar pouco antes de surgir a pandemia. Quero oficializar logo a nossa união não só pelo afeto, mas também porque já estamos com uma certa idade e a questão da divisão de bens pode dar muito trabalho para casais LGBTs sem a oficialização de união estável."