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"Carcereiros - A Noite Sem Fim" (2019) é a cara do Brasil, afirma o diretor José Eduardo Belmonte ao falar sobre o filme que será dividido em quatro partes e exibido em formato de minissérie na Globo a partir desta segunda-feira (18), exceto na quarta, quando a emissora exibe o futebol.
"Quando li o roteiro pensei que o personagem Adriano (Rodrigo Lombardi), um cidadão comum que fica impotente diante de batalhas que parecem não ter fim e de absurdos crescentes. Seria uma boa alegoria para o país. Infelizmente, isso se tornou ainda mais intenso", diz Belmonte.
Inspirada no livro "Carcereiros", de Drauzio Varella, colunista da Ilustrada, o filme é derivado da série homônima da Globo, exibida entre 2017 e 2019, que se tornou um grande sucesso na TV, porém, com muito mais cenas de ação. Há ainda mais dois filmes.
Na visão do diretor, cada uma dessas partes do projeto tinha o objetivo de falar do tema para públicos diferentes. "No cinema, a ideia dos roteiristas Marçal Aquino e Fernando Bonassi era falar com o público mais jovem, mais familiarizado com o gênero de aventura e de ação. Então, o filme caminhou nessa direção, enquanto a série, ainda que tenha cenas intensas, é mais direcionada ao suspense e ao drama."
"O que vamos ver agora na minissérie adaptada à Globo é um ponto de equilíbrio entre os dois", acrescenta Belmonte, que espera que o trabalho emocione e leve a reflexões. Na trama, o agente penitenciário Adriano e seus colegas vivem um dia de cão no trabalho com a chegada de um perigoso terrorista internacional, Abdel (Kaysar Dadour), que ficará no presídio antes de ser levado pela Interpol. Suas artimanhas mudarão o estilo da prisão e uma rebelião será instaurada no presídio.
Avesso a violência, Adriano terá de lidar com todos os demônios que vão nortear sua vida em uma noite que parece não acabar. "A construção desse personagem foi um trabalho muito bonito. Também criei uma amizade muito forte com os carcereiros que davam assessoria para a gente", diz Lombardi.
"Eu os observava trabalhando e descobria um pouquinho da história desse ser humano e me alimentava. O que era aquele carcereiro dentro daquela humanidade e o que se destacava nele", acrescenta o ator, que conta ainda ter recebido mensagens de carcereiros da vida real. “Se sentiam representados.”
Rodrigo Lombardi afirma que se surpreendeu com o convite para participar do projeto. Na época, em setembro de 2016, o ator Domingos Montagner, o então titular do papel, morreu afogado. "Ele morreu três semanas antes de iniciarmos as filmagens. Tivemos três dias de ensaio, Lombardi viu nossas pesquisas e teve ajuda dos agentes penitenciários que acompanhavam as gravações", relembra Belmonte.
GUERRAS DA SÍRIA ‘AJUDARAM’ KAYSAR
Toda o terror vivido por Kaysar Dadour, 31, quando morava na Síria, o ajudou a compor o seu primeiro personagem na dramaturgia: o perigoso terrorista internacional Abdel no filme “Carcereiros”. “Lembrei de muita coisa do passado, das dificuldades, das guerras, das bombas, mas isso tudo me ajudou a construir esse personagem, pois ele é do mal. Não queria lembrar do passado, mas tive que lembrar da guerra para trazer essa bagagem ao personagem”, afirma o ator, que passou a viver no Brasil em 2014 como refugiado da guerra da Síria.
Esse foi a estreia de Dadour na atuação. Ele não era ator e acabou repercutindo bastante com o papel. Mas não foi fácil. "Estava com medo, inseguro um pouco, pois tinha grandes pessoas, mas tive muito apoio deles. Queria enfrentar esse desafio. Todo mundo gostou, mas lógico que eu poderia ter feito melhor, agora eu estou melhorando a cada dia", reflete.
O diretor José Eduardo Belmonte diz que se surpreendeu com o teste de Kaysar Dadour. A ideia era acompanhar a atuação de não atores para ver como se sairiam. E deu certo. "Quando vi o teste do Kaysar fiquei bastante impressionado. Adoro o BBB, mas não consegui acompanhar a edição que ele participou [foi segundo lugar no BBB 18]. Uma amiga tinha me falado dele, do seu carisma. Tinha muita verdade, era intenso e me emocionou. Tivemos um tempo curto de preparação, mas foi acolhido pelo elenco."
Lombardi assina embaixo. “É impressionante a disponibilidade de Kaysar. Ele se doou muito e percebeu muito rápido que quanto mais simples, melhor. Ele fez um grande trabalho e nem precisei ajudar.”
Não bastasse a insegurança de um primeiro papel ao lado de renomados atores como Rodrigo Lombardi, Dadour ainda teve de lidar com outra questão: o medo. Isso porque a equipe gravou numa prisão de verdade. O ator relembra o que sentiu ao ficar aprisionado.
"O clima estava pesado, pois o sistema do presídio não perdoa ninguém. Ficava muito tempo na cela, sentia o cheiro do medo. Sentia a energia do lugar para captar o personagem. Lembrava do meu passado e de todas as dificuldades pelas quais passei. Lembrava das pessoas que se machucaram na guerra”, diz.
A atuação, porém, foi lhe deu oportunidades para novos projetos. Na sequeência, ele foi convidado para integrar o elenco de “Órfãos da Terra” (Globo, 2019). Com o personagem de “Carcereiros”, Dadour diz ter aprendido a escutar conselhos e a ouvir os mais experientes. “Hoje eu amo ainda mais a atuação, porque é um sonho de criança que consegui realizar no Brasil.”