Televisão
Descrição de chapéu jornalismo

Maju Coutinho critica lógica racista de que 'preto parado é suspeito e correndo é culpado'

Afirmação foi feita após reportagem sobre prisão injusta de homem negro

Maju Coutinho - Agostinho Paulo Moura/Globo

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

A jornalista Maju Coutinho, 42, criticou na tarde desta quinta (22), durante o Jornal Hoje, da Globo, o fato de um homem negro ter passado quase três anos preso injustamente. “Tem que mudar a mentalidade de que preto parado é suspeito e correndo é culpado, isso tem que mudar”, afirmou ela, ao final de reportagem sobre o assunto. O jovem de 26 anos foi solto na madrugada desta quinta.

A frase gerou grande repercussão nas redes sociais, e alçou o nome de Maju Coutinho aos assuntos mais comentados no Twitter. Muitos internautas elogiaram o posicionamento da jornalista. "Maju Coutinho simples e objetiva", comentou um deles na rede social.

"Eu vejo o Jornal Hoje não para me martirizar com as notícias sempre péssimas, mas sim para observar a grandeza de Maju Coutinho e seus comentários sempre sensacionais", disse outra internauta.

Segundo reportagem do telejornal, Lucas Moreira de Souza chegou a ser condenado a quase 80 anos de prisão por uma série de assaltos. Depois de quase três anos preso, nesta semana, a Justiça do Distrito Federal reverteu a condenação contra ele após policiais do caso procurarem a Defensoria Pública para dizer que havia inconsistências nas provas.

PEDIDO DE DESCULPAS

No início de outubro, o Fantástico pediu desculpas à jornalista por ter dado espaço em uma reportagem apresentada no domingo (4) ao empresário Rodrigo Branco. Famoso guia de turismo de celebridades em Orlando, Branco provocou polêmica em março deste ano ao fazer comentários que ele mesmo mais tarde classificaria de racistas contra Maju.

Segundo a colunista Fábia Oliveira, do jornal O Dia, a participação do empresário em uma reportagem sobre turismo durante a pandemia não pegou bem dentro da produção do programa e no jornalismo da Globo e gerou o pedido de desculpas.

"O Fantástico lamenta não ter se dado conta de que era a mesma pessoa. E já se desculpou com Maria Júlia Coutinho", informou em nota a comunicação da Globo, na ocasião.

No programa, Branco foi apresentado como um brasileiro que mora há seis anos em Orlando e tem uma empresa especializada em receber celebridades na cidade. Foram exibidas fotos do guia ao lado de artistas como Xuxa e Ivete Sangalo. Ele também comentou que era triste ver a Disney com poucos visitantes.

Em março, durante uma live de Instagram, Branco fez comentários sobre Maju e a médica Thelma, que viria a ser a campeã do Big Brother Brasil 20.

Na ocasião, ele afirmou que a torcida por Thelma no reality existia apenas porque "ela é negra coitada". "É a mesma coisa que falo da Maju Coutinho. Ela é péssima, é horrível. Eu assisti hoje e ela fala tudo errado. Ela só está lá por causa da cor", disse. "Ela não tem uma carreira, ela nunca foi repórter de campo, ela fala tudo errado e eu como diretor de TV, vou te falar, ela lê o TP errado."

A repercussão das falas foi negativa, e momentos depois, o empresário se desculpou. "Falei um monte de merda. [sic] Não falei nada como eu penso, queria explicar o que queria falar. Queria falar uma coisa e falei totalmente outra coisa, fui totalmente racista", disse. "Recebi ligações de amigos meus, principalmente. Por isso é bom ter amigos. [...] Eu sei escutar". ​

PROCESSO

Também neste mês, um dos quatro homens acusados de promover ataques racistas contra Maju Coutinho abriu processo contra a emissora e a sua profissional por danos morais e materiais.

Na ação, Kaique Batista, que foi absolvido no processo por insuficiência de provas, pede R$ 782.210,51 como reparação pela exposição de sua imagem no caso.

O processo cita reportagem apresentada no Jornal Nacional em dezembro de 2015. A filmagem acompanhou uma operação da polícia e da promotoria na casa de Kaique, na qual foram apreendidos computadores e celulares —ele foi levado para depor no Ministério Público.

"Com essa barbárie, a Rede Globo e a corré Maria Julia destruíram a vida de um ser humano", afirma a ação, assinada pelo advogado Angelo Carbone. "[Os acusados] fizeram com que ele fosse execrado pela opinião pública, sua casa foi apedrejada, para não morrer teve que mudar de casa, e pagar aluguel, desempregado, e com problemas psicológicos, sofreu tudo o que não devia ter ocorrido, e diante disso, se espera que seja feita justiça".

O departamento de comunicação da Globo afirmou que não comenta "assuntos sub judice [em julgamento]".

Em março deste ano, a Justiça condenou dois dos réus pelos crimes de racismo e injúria racial contra Maju Coutinho.

Utilizando perfis falsos em redes sociais, eles acessaram a página da emissora e proferiram injúrias contra a jornalista, referindo-se a sua raça e cor. Eles também foram condenados por corrupção de menores por terem induzido três adolescentes à prática do mesmo crime. ​