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Fernanda Montenegro diz que trabalhar em família em 'Amor e Sorte' a deixou mais completa

Atriz contracena com Fernanda Torres e abre nova série da Globo

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São Paulo

Quem disse que trabalhar em família é uma coisa desagradável? Essa percepção passa longe da mente da atriz Fernanda Montenegro, 90, que gravou durante quatro meses, em plena pandemia, a nova série da Globo, "Amor e Sorte", com uma equipe bem próxima. Na verdade, apenas de familiares.

A atriz é quem abre, nesta terça-feira (8), a lista de quatro episódios da produção, que reúne artistas que estão cumprindo juntos a quarentena do novo coronavírus. No caso de Fernanda Montenegro, a parceira de cena será sua filha, Fernanda Torres, 54, numa história de união tardia entre mãe e filha, de mundos bastante diferentes.

“Esse especial cravou para sempre o momento de realização artística e de aceitação de novas possibilidades em meio a uma tragédia. Tivemos um momento especial. Isso foi consumado nesse projeto. Nós nos envolvemos novamente. De uma forma muito amorosa e essencial, muito humana. Saímos mais completos diante da vida”, diz Fernanda Montenegro.

Além de Fernanda Torres, que contracena diretamente com a mãe, a direção artística fica nas mãos de Andrucha Waddington, marido de Fernanda Torres; Pedro Waddington, filho de Andrucha e enteado de Fernanda Torres, que participa da direção ao lado do pai; e Joaquim Waddington, 20, filho do casal, que ajuda no som. Com isso, eles puderam gravar presencialmente, sem auxílio remoto.

“Legal ver nossos filhos e netos com essa veia artística. É tão acolhedor. Você vê que tem um encanto desse nosso dever profissional. Continuamos sendo uma família circense, do mais arcaico ao mais recém-nascido”, afirma Montenegro, que já fez uma porção de trabalhos ao lado da filha.

“Estamos todos representados, nossa família inteira naquele lugar que nos salvou. Ao acabar de gravar rolou um vazio grande. A mamãe dizia que a natureza deveria mudar os personagens e foi isso o que aconteceu conosco. A natureza ajudou a gente a acalmar. Eu comi peito de galinha com a minha mãe”, recorda Fernanda Torres, se referindo ao sítio da família, no Rio, onde ocorreram as gravações.

Sobre ver o enteado Pedro trabalhando na direção, Torres também se mostra fã: “É incrível porque eu e o Andrucha começamos a namorar ele tinha um ano. E, de repente, você vê aquele sujeito bonito com outra relação com você. Muito emocionante. Importante que eles gostem de você para que te chamem no futuro”, ri Torres.

EPISÓDIO 'LÚCIA E GILDA'

Fernanda Montenegro e Fernanda Torres fazem o único episódio de "Amor e Sorte" feito por mãe e filha, e não por um casal. Intitulado “Lúcia e Gilda”, ele terá as duas atrizes representando a mesma relação que têm na vida real, de mãe e filha.

Personagens antagônicas, Lúcia (Torres) leva Gilda (Montenegro) para a Serra, onde precisarão passar a quarentena juntas. Na convivência forçada, o relacionamento conflituoso, em que as diferenças se destacam, passa por uma transformação. O texto é assinado por Antônio Prata, pelo idealizador do projeto, Jorge Furtado, por Chico Mattoso e pela própria Fernanda Torres.

“Embora o episódio seja o único que não tenha um casal não deixa de ser um casamento. Tanto que a Nanda [Fernanda Torres] voltou a fazer análise”, diverte-se Montenegro cuja personagem, aos 90 anos, gosta de curtir a vida enquanto a filha é mais careta.

E essa relação vai mudar drasticamente: “Pensamos em uma ideia de uma mãe que esconde da filha que a vacina saiu porque ela gostou de ficar quarentenada com a sua cria. É uma pessoa de 90 anos ativa, que gosta de caipirinha na praia. E em contraste tem a filha, uma home office por excelência. E esse conflito é o que dá o caldo”, adianta Torres.

Rir é o melhor remédio e nesse episódio o que não vai faltar é humor, como adianta Montenegro. “Rir traz o raciocínio em cima da dor. Não que paremos de sentir dor, mas isso te leva a sair da toca e ir adiante. Estamos num momento muito difícil e sem humor. Comédia não é só uma defesa, mas uma arma sadia.”

REFLEXÕES DA QUARENTENA

As atrizes Fernanda Montenegro e Fernanda Torres têm usado a pandemia e a quarentena para refletir e para tentar desligar da rotina de ação e resultados. Segundo elas, tem sido bom para colocar a cabeça no lugar e também para adquirir novos hábitos.

“Quando você vai para o meio do mato vê que pode viver sem aquilo tudo do cotidiano corrido. Quando a vida te dá uma reserva e você vê que dá para sobreviver sem aquela ansiedade, é bom. E em mim bateu isso”, analisa Montenegro, que começou a andar no sol e ficar mais perto da natureza com a gravação de “Amor e Sorte”.

A atriz conta que o primeiro mês de quarentena foi difícil, mas no segundo acabou se aquietando com mais natureza e leitura, antes da série. "Comecei a consertar coisas em casa, é terapia ocupacional. A consciência dos meus 90 anos me veio forte. De repente, já que me aprisionaram, passei a pensar na minha própria grade.”

Já para Fernanda Torres, a pandemia foi, principalmente, de preocupação com a mãe. "Ela é viciada em trabalho e quando veio a pandemia eu imediatamente senti mamãe bem mais pensativa. Ao longo dos últimos quatro meses fui vendo ela se acalmando. Enquanto ela pensava nas gravações eu ficava fazendo colher de pau com canivete, fazendo uma horta, minhas preocupações eram outras”.

OUTROS EPISÓDIOS

Após o episódio das Fernandas, "Amor e Sorte" terá outras três duplas de artistas quarentenados juntos, recrutados como forma de manter alguma programação inédita durante esse período de suspensão das gravações. Os casais são: Lázaro Ramos e Taís Araújo, Emilio Dantas e Fabiula Nascimento e Caio Blat e Luisa Arraes.

“A ideia surgiu da necessidade de inventar. Lembrei que têm vários atores que estavam quarentenados juntos por serem casados ou por serem família. É um jeito de enfrentar esse momento com mensagem positiva de histórias que falam desse momento triste, mas ao mesmo tempo com esperança”, afirma o supervisor de texto da série, Jorge Furtado.

No caso de Lázaro Ramos e Taís Araújo, a história mostrará um casal confinado que, ao divergir sobre uma questão ideológica, chega a uma grande discussão matrimonial turbinada pelos nervos à flor da pele. O episódio vai ao ar no dia 15 de setembro.

Em outro episódio, Emilio Dantas e Fabiula Nascimento protagonizam a história de um casal que caminha para o divórcio quando o isolamento começa. O texto é assinado pelas autoras Jô Abdu e Adriana Falcão, que têm em comum séries de sucesso no currículo como "A Grande Família". Vai ao ar dia 22 de setembro.

Caio Blat e Luisa Arraes protagonizam outro episódio com texto deles próprios e de Jorge Furtado que fala sobre um relacionamento que começa exatamente quando as pessoas precisam entrar em confinamento. A história do casal vai encerar a série, no dia 29 de setembro.