Televisão

Record aposta em reprise da fraca 'Apocalipse' para substituir 'Amor Sem Igual'

Novela teve audiência ruim, mas pode dialogar com momento atual

Cena da novela 'Apocalipse' - Munir Chatack/TV Record
São Paulo

Com a pandemia do novo coronavírus e a pausa nas gravações da dramaturgia, as emissoras têm apostado em reprisar novelas antigas. Depois da Globo, a Record vai exibir "Apocalipse" (2017-2018), em versão resumida, a partir desta terça-feria (21), no mesmo horário de "Amor Sem Igual", que para nesta segunda-feira (20) sem prazo de retorno.

Intérprete da vilã Ariela, Leona Cavalli, 50, afirma que foi oportuna a escolha da Record em reprisar "Apocalipse". "Não estamos vivendo nada tão fatalista como a trama, mas passamos pelo fim de um mundo. Se a quarentena acabar amanhã, todos nós já sairíamos diferentes dela."

"A trama fala muito de revelações e estamos passando por momentos assim. Estamos passando por uma revisão geral das nossas vidas", diz a atriz, que também pode ser vista na reprise de "Totalmente Demais", na Globo.

A escolha da Record é curiosa já que a trama de Vivian de Oliveira tem fraco desempenho de audiência e foi encurtada. Ter audiência não deve ser a intenção da emissora com a reprise dessa novela, afirma Claudino Mayer, doutor em comunicação da Universidade de São Paulo (USP). "Acredito que a escolha pode estar baseada em criar uma discussão sobre o tema, provocar reflexão sobre a fé, sobre o comportamento da humanidade em meio a crise do coronavírus."

"Mas a escolha vai na contramão das outras emissoras, que apostam em tramas leves. 'Apocalipse' já começa com um tsunami, tem cenas relacionadas ao ataque de 11 de Setembro. É bem pesado para o momento", completa.

A novela terminou com média de audiência de 10 pontos na Grande São Paulo sem atingir a meta esperada pela emissora, que era de pelo menos 15 pontos. Na época, cada ponto no Kantar Ibope equivalia a 201.061 espectadores. "A expectativa era que ela tivesse o mesmo sucesso de ‘Os Dez Mandamentos’, e isso não aconteceu”, lembra Mayer. A trama bíblica fechou com média de 16 pontos.

Ao longo de sua curta trajetória, a trama sofreu alguns revezes. A autora, Vivian de Oliveira, que hoje não trabalha mais para a Record, teve de fazer mudanças no roteiro a pedido de Cristina Cardoso, filha de Edir Macedo, dono da emissora. Passou a ser comum que diálogos fossem refeitos no set, sem consulta prévia à autora oficial, que em determinado momento adoeceu, atrasando seu trabalho, e foi afastada.

"Apocalipse" foi encurtada para apenas 60 capítulos. A sua antecessora “Dez Mandamentos”, que teve bom desempenho de audiência, teve mais de 240 episódios. "Ficou clara a mudança na qualidade da novela quando a Record passou a terceirizar a produção. A Vivian só teve novelas de sucesso em seu currículo, mas ela não tinha mais autonomia para escrever", avalia Mayer.

Procurada pela reportagem, Vivian de Oliveira não se manifestou até a publicação deste texto.

RELEMBRE A TRAMA

Primeiro ato do apocalipse propriamente dito é quando Deus leva para os céus as pessoas que acreditam nele de verdade e todas as crianças de até 12 anos. Há uma Terceira Guerra Mundial e focos de fome e pestes ao redor do planeta. Os primeiros capítulos, mostraram um tsunami devastando um resort na Indonésia e seguiu com cenas de carros se chocando nas ruas e caos nas cidades.

Todo o caos promoverá mortes e a humanidade ficará perdida com o sumiço de pessoas queridas e com o surgimento de teorias da conspiração e seitas oportunistas. Quem sobrevive, é pego por arrependimentos por seus maus atos. Ateus lutam para ter alguma resposta sobre o ocorrido.

No meio disso, o Anticristo aparece na figura do personagem Ricardo Montana (Sergio Marone). Ele tira proveito da carência humana para começar o plano de conquistar o mundo. A saída dos atores fará parte do arrebatamento, evento bíblico que diz que as pessoas de bem partirão para o céu sete anos antes do fim do mundo, dando a chance dos remanescentes se arrependerem.

O Anticristo conta um falso profeta para dominar o mundo. O sacerdote Stefano Nicolazi (Flávio Galvão) será um dos responsáveis por transmitir ao mundo a falsa imagem de que Montana é um salvador. O grande vilão atua até na destruição de romances, e vai tentar separar o casal Zoe (Juliana Knust) e Benjamin (Igor Rickli).