Fim das novelas? 'Nem a pau', diz Tony Ramos; ator e Antonio Fagundes falam sobre o tema
Para Fagundes, é preciso cuidado para não cair na 'superficialidade' das novas mídias
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Quando alguém sugere que as novelas possam estar com os dias contados, Tony Ramos, 71, é categórico: "Nem a pau". Com 55 anos de televisão e mais de 50 novelas no currículo, o ator afirma que escuta sobre uma possível crise da teledramaturgia brasileira desde os anos 1960, quando começou a sua carreira na extinta TV Tupi.
"Apesar de tudo isso, do avanço da tecnologia, o que manda é uma boa história. Não tem saída. Sem uma boa história, não tem nada", afirma Ramos, em entrevista ao F5. Para provar o seu ponto de vista, o ator citou novelas atuais que registram bons índices de audiência como "A Dona do Pedaço" e "Bom Sucesso", ambas da Globo.
"Falei para o Fagundes [Antonio Fagundes, o protagonista Alberto de 'Bom Sucesso'], estou encantado com essa novela. Você vê o elenco todo contando uma história às 19h, que tem limitações de temas, mas que fala de algumas realidades, como, por exemplo, sobre o mercado livreiro, que sofre, mas que é resistente e é forte. É isso que a novela faz e é essa identificação nacional que ela tem", afirma.
De fato, a Globo passa por um período de boas audiências em suas produções. Além das tramas citadas por Tony Ramos, a reprise de "Por Amor", que foi ao ar de abril até o último dia 11 de outubro, bateu recorde de público no Vale a Pena Ver de Novo.
E o mais curioso. A novela de Manoel Carlos de 1997 não apresenta características que, para muitos especialistas em TV, seriam fundamentais para fazer sucesso nos dias de hoje, especialmente o ritmo ágil semelhante ao de séries, em que cada capítulo termina com um gancho para o seguinte.
Ao contrário, na história do amor incondicional de mãe e filha, vividas por Regina Duarte e Gabriela Duarte, os diálogos entre os personagens são longos e não há pressa para desenvolver os diversos enredos.
E não é que a produção seja monótona. Há histórias bem rocambolescas: troca de bebês, pai alcoólatra, mãe fazendo mil armações para impedir o amor entre a filha rica com o rapaz pobre, amor, traições e muito mais. O que acontece é que o espectador tem tempo para se colocar no lugar dos personagens. Pelo menos é o que afirmou Antonio Fagundes, 70, que deu vida ao protagonista Atílio na história.
Em entrevista recente, o ator disse que o sucesso recente de "Por Amor" é a prova de que não é preciso entrar "nessa neura de novas mídias, todas muito rápidas, em que acham que o público vai perder o interesse se a cena durar mais de dois segundos".
Ele citou como exemplo uma cena da novela, em que contracena com Regina Duarte, a Helena na história, e que teve duração de 15 minutos. "Éramos só nós dois, deitados na cama, conversando. Eu duvido que alguém tenha desligado a televisão nesse meio tempo. Eram cenas boas, em que dava tempo de refletir junto com os personagens, de entrar na problemática do personagem. Você se coloca lá", disse.
Fagundes vai ainda mais longe em sua reflexão. Para ele, essa agilidade cria um outro tempo de pensamento, mais veloz e que, segundo ele, ainda não dá para dizer se isso é bom ou ruim. Por outro lado, ele afirmou que essa possibilidade de a partir de um movimento do dedo no celular já passar para outra imagem, outra informação, outra cena porque acha que anterior está muito demorada, mesmo que ela tenha durado só alguns segundos, é um sintoma ruim, de perda de foco.
"Você está perdendo o interesse por coisas que não sejam superficiais. E quando você só quer coisas superficiais, você está perdendo alguma coisa da sua vida, porque as coisas da vida não são superficiais", disse.
A própria novela em que Fagundes atua, "Bom Sucesso" vai, de de certa forma, na contramão desse movimento ao falar sobre um tema que não faz parte dessa agilidade dos tempos modernos: a literatura. E tem conquistado o público.