Gloria Pires e Antonio Calloni dizem que 'Éramos Seis' discute machismo e família
Quinto remake da novela estreia nesta segunda-feira (30)
No início dos anos 1920, quando começa a história de "Éramos Seis", nova novela das 18h da Globo, era considerado normal que o homem tivesse uma amante. E era também ele que tinha a obrigação de ser o provedor da casa. Para Gloria Pires, 56, e Antonio Calloni, 57, que fazem Lola e Júlio, o casal protagonista da trama, a nova versão joga luz sobre como esse machismo podia ser prejudicial para as relações familiares.
Ao mesmo tempo, a trama escrita por Ângela Chaves, destaca o papel feminino. "As mulheres sempre foram as locomotivas, mas ninguém sabia, porque elas não podiam aparecer", afirma Gloria Pires.
Na história, Júlio sofre com o peso de não conseguir o progresso financeiro que ele tanto almeja para dar conta da educação dos quatro filhos e bancar o financiamento da casa em que eles moram na avenida Angélica, em São Paulo.
Repetindo a mesma educação que recebeu do pai, ele é muito rígido com os três filhos homens, Carlos (Xande Valois /Danilo Mesquita), Alfredo (Pedro Sol/Nicolas Prattes) e Julinho (Davi de Oliveira/André Luiz Frambach), e não consegue demonstrar o amor por eles. É só com Isabel (Maju Lima/Giullia Buscacio), a sua preferida, que ele é carinhoso.
"Às vezes, ele desconta na família as frustrações que ele tem no trabalho (...) Ele não é bom nem é mau, é simplesmente uma pessoa que está em busca da felicidade", diz Calloni.
A partir de todos esses conflitos, Julio adoece e desenvolve uma úlcera grave, já mostrada logo no primeiro capítulo. O alcoolismo, que funciona como uma válvula de escape para ele, agrava essa situação. O personagem tem também na amante Marion (Ellen Rocche) uma confidente para desabafar sobre os seus problemas e inseguranças.
"O Júlio, coitado, é um homem que não dá conta do peso que colocaram nele", diz Gloria. Ela conta que desde que foi fazer o filme "Se Eu Fosse Você" (2006) reflete sobre como o machismo também é maléfico para o homem. "Pode parecer, a grosso modo, que esse lugar [do homem] é confortável e de privilégios, o que é também. Mas, por outro lado, é um peso enorme, sem espaço para esse homem chorar, para dizer: 'olha, eu estou mal, estou precisando de ajuda, não estou dando conta", afirma a atriz.
Para Calloni, nos quase cem anos que separam o início da novela dos dias atuais, muita coisa mudou e comportamentos machistas foram sendo contestados, mas ainda há muito a ser melhorado. "O empoderamento feminino está cada vez mais presente, ainda bem. Mas os homens ainda têm dificuldades de entender e assimilar isso", diz.
Esta é a quinta versão da trama, que já foi adaptada outras quatro vezes por outras emissoras – em 1958 na Record, em 1967 e em 1977, na TV Tupi, e em 1994 no SBT. A versão atual é baseada no texto de 1994, escrito por Silvio de Abreu e Rubens Ewald Filho. Todas são inspiradas no livro de Maria José Dupré, de 1943.
O ator diz esperar que "Éramos Seis" seja sempre remontada ao longo dos anos, por ter como tema a família que, na visão dele, é um assunto "inesgotável e atemporal". "Fora isso, [a novela] tem uma afetividade que está faltando um pouco hoje em dia. Está faltando humanidade. Temos que retomar esses sentimentos que são tão legais. Se relacionar bem com as pessoas é fundamental para a felicidade de todo o mundo", diz.
SORORIDADE
O termo sororidade é novo, mas o que ele representa, a união feminina, é um dos destaques da atual versão de "Éramos Seis", segundo Gloria Pires. "Essa coisa da mão amiga, do ombro, da vizinha, da empregada, que foi criada junto, que está ali para o que der e vier, que segura as pontas, que está junto no sacrifício, na dor. Isso a gente não via e essa versão enaltece essas qualidades que as mulheres sempre tiveram", diz a atriz.
Na novela, Lola tem na vizinha Genu (Kelzy Ecard) a sua amiga mais fiel, e conta com o apoio constante da empregada Durvalina (Virgínia Rosa).
O tempo é outro fator importante na trama, que começa nos anos 1920 e segue até 1940. Com o agravamento da doença de Júlio (Antonio Calloni), o personagem morre no capítulo 48 da trama. A partir daí, Lola tem que seguir sozinha na missão de manter a família unida.
Gloria Pires diz que vê muito da sua avó paterna, Deolinda, em Lola. "Ela ficou viúva e teve de lidar sozinha com a criação dos dois filhos", contou a atriz, que fez questão de usar uma pulseira da avó no evento de lançamento da trama, no dia 16 de setembro, no Rio.
Para a atriz, aliás, estar na novela tem trazido muitas coincidências e memórias afetivas. "No banheiro da Lola, a pia é igual a pia da minha casa. Na casa do Afonso [Cássio Gabus Mendes], que é o dono do armazém, que sempre a ajuda, deixa ela comprar fiado, segura as contas dela, tem um móvel que é igual ao dessa minha avó", conta.
A própria casa de Lola e sua família, que tem uma importância fundamental na trama, é também muito parecida com a da avó de Gloria. "É parecidíssima com a que minha avó tinha, que eu vi na foto e quase não acreditei", diz.
A jornalista viajou a convite da Globo