Televisão

Regina Duarte sobre fim de 'Malu Mulher': 'Ela estava muito feminista, aquilo que eu nunca quis ser'

Criador da série disse que personagem de Duarte não votaria em Bolsonaro

Regina Duarte participa do programa "Conversa com Bial" - Divulgação/TV Globo

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São Paulo

Regina Duarte, 72, ainda é lembrada por muitos brasileiros como Maria Lúcia Fonseca, protagonista da série "Malu Mulher", criada por Daniel Filho no final dos anos 1970. A personagem, que tecia críticas às estruturas da sociedade conservadora brasileira, foi lembrada por sua intérprete na madrugada desta quinta-feira (30) no Conversa com Bial, na Globo.

Para Duarte, "Malu Mulher" tinha a intenção de criar identificação com outras mulheres. O seriado da Globo, que foi ao ar de 1979 a 1980, marcou a televisão brasileira por abordar temas do universo feminino até então considerados tabus, como separação, sexo, orgasmo, violência doméstica, menstruação, aborto, virgindade, entre outros. ​

“Os desquites tinham triplicado em 1977. Isso chamou a atenção de Boni e Daniel: existia uma nova mulher na sociedade e era necessário falar dela", disse a atriz em entrevista a Pedro Bial.

No entanto, a questão feminista era algo puramente da personagem –Duarte diz que não concordava com o posicionamento dela.  “Eu nunca me declarei feminista, mesmo fazendo Malu. Eu achava que não era por aí, que tinha caminhos intermediários, que tinha que negociar mais, que não podia se afastar do homem", diz. “Eu estava achando ela muito chata, muito autoritária, muito dona da verdade, muito feminista. Aquilo que eu nunca quis ser.”

Regina Duarte é, declaradamente, uma apoiadora do atual presidente Jair Bolsonaro (PSL) e afirmou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que o político era "um cara doce, um homem dos anos 50, um jeito masculino, machão".  

Questionada sobre política por Bial, ela disse que “embora tenha tido atitudes de vanguarda, sempre fui e continuo conservadora". “Em 2002, fui chamada de terrorista e hoje sou chamada de fascista. Olha que intolerância. E eu achando que estava vivendo em uma democracia, onde tenho direito de pensar de acordo com o quero, onde respeito quem pensa diferente de mim, não xingo ninguém.”

Crítico ao atual governo, que "acha péssimo", Daniel Filho, que na época de "Malu Mulher" era casado com Regina Duarte, diz que não consegue entender a mudança de viés político da atriz. "Regina e eu fomos juntos para Cuba, e fomos recebidos pelo próprio Fidel Castro [...]", relatou à Folha.

"Simplesmente não entendo. Compreendo que não tem o porquê de as pessoas serem firmes para sempre, mas não entendo essa mudança dela para a direita, assim dessa forma. Ela era de esquerda mesmo, eu continuo [sendo de esquerda]", afirma.

Questionado sobre a personagem dela votar ou não no atual presidente, ele foi categórico: “É claro que não. Malu Mulher não votaria em Bolsonaro”.