Música

'Não é só ostentação, sou um mensageiro do povo pobre', diz MC Livinho

Sem abandonar estilo que o consagrou, cantor abraça também o funk 'do bem'

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São Paulo

Não que ele renegue o passado, mas Oliver Decesary Santos, o MC Livinho, 27, legítimo representante do funk ostentação, caiu em si. "O mundo não é só alegria, festa, rolê, balada e bebida… O mundo é triste, por falta de oportunidade e falhas no sistema", diz o funkeiro. Livinho decidiu botar em prática toda a sua vivência e teoria.

Ele acaba de lançar o single "Pare de Chorar, Mãe", em que busca usar da emoção para conscientizar os jovens sobre o mal que fazem a si mesmos e, principalmente, às suas mães, ao entrar para o crime. "Se eu deixo me levar só pelo o que o público quer que eu cante, fica um vazio", afirma. "Fiz essa letra na intenção de fazer pessoas refletirem e se sensibilizarem".

Na divulgação do trabalho, lançado nesta quinta-feira (2), o artista postou vídeos com depoimentos de mães contando suas tristezas e sofrimentos ao lidar com situações semelhantes às que ele canta em sua música. Essa nova fase, no entanto, não significa que Livinho tenha virado um funkeiro 100% dedicado a hits com letras socialmente engajadas.

Tanto que há poucos dias anunciou o pré-lançamento de "Pras Novinhas do TikTok" e viu a canção se tornar um sucesso nas redes sociais antes mesmo de elas estarem oficialmente em todas as plataformas. "Gosto muito de fazer esse tipo de funk também, foi o que me trouxe até aqui", admite.

É nessa batida que ele vai levando a bem sucedida carreira, com direito a remixes de grandes sucessos do início de sua trajetória, como "Na Ponta do Pé" e "Ela é Espetacular", lançados em 2020. "Quando se escuta Livinho, já dá para ver que é outra parada", diz o cantor, em entrevista ao F5.

Como surgiu a ideia de retratar histórias de mães que perdem seus filhos para o universo dos crimes, como na música "Pare de Chorar, Mãe"?
Sempre em algum momento do ano eu compartilho alguma música consciente. O mundo não é só alegria, festa, rolê, balada e bebida… O mundo é triste, por falta de oportunidade e falhas no sistema. Fiz essa letra na intenção de fazer pessoas refletirem e se sensibilizarem. Até mesmo para as pessoas no mundo do crime ou que pensam em entrar repensar [a decisão] e ver o outro lado.

Em entrevistas e nas redes sociais você costuma comentar sobre sua origem e trajetória. Por quê?
Mostro que também vim de baixo. Meu pai é analfabeto e minha mãe é preta. É muito mais difícil, não podemos maquiar a situação. Minha mãe foi vítima de preconceito muitas vezes, até hoje passa por isso. Meu pai não teve oportunidades. Importante falar disso.

Lançar uma música sobre desigualdade social e falta de oportunidades em ano eleitoral foi proposital?
A intenção é que atraia outros olhares, não apenas do funk. Gostaria que atraísse olhares também da parte governamental. Quero que o governo olhe para as periferias, para o pobre. Querendo ou não, é o povo pobre que movimenta o mundo. Eu venho de ostentação, superação, que estourou, mas também tenho letras conscientes, mesmo depois da transição para o romantismo erótico.

Por que apresentar para o público letras mais densas?
[Quero] que público olhe para mim e pense: ‘O Livinho canta isso aqui, mas ele não se classifica só nisso. Ele tem uma mensagem para passar’. Em ‘Sonho de Liberdade’ eu recebi muitas mensagens de pessoas e amigos que estavam presos. Foi em uma época que eu lancei também ‘Hoje Eu Vou Parar na Gaiola’, e outras músicas relacionadas ao baile de rua. Mas esse momento teve aceitação. Não posso deixar de fazer isso. Sou nada mais que um mensageiro que expressa a vivência da quebrada e do povo pobre.