DJ Rennan da Penha assina contrato para gravar DVD menos de um mês após deixar a prisão
Prisão do artista por associação com o tráfico causou comoção nas redes sociais
O DJ Rennan da Penha, 25, um dos protagonistas da cena funkeira atual, assinou com a gravadora Sony Music e gravará um DVD em janeiro de 2020. O contrato foi firmado menos de um mês após o DJ deixar o presídio Bangu 9, no Rio de Janeiro, onde passou sete meses detido, após ser condenado a seis anos e oito meses de prisão por associação para o tráfico de drogas.
"Ver minha música entrando em diferentes horizontes, tocando em outros países, eu nunca achei que isso ia acontecer na minha vida. Sempre achei que eu ia ser só o Rennan do complexo da Penha e que minhas músicas fossem ficar apenas nas comunidades do Rio de Janeiro”, afirmou o DJ, durante a assinatura do contrato.
Rennan da Penha havia sido inocentado a princípio, mas a decisão foi revertida na segunda instância, e ele foi preso em abril. Em novembro, recebeu um alvará de soltura da Vara de Execuções Penais do Rio, beneficiado pela mesma decisão do Supremo Tribunal Federal que beneficiou o ex-presidente Lula —a de que um condenado só pode ser encarcerado quando se esgotam todos os recursos (o chamado trânsito em julgado).
A prisão do jovem de 25 anos mobilizou a campanha #DJNãoÉBandido. A Promotoria, ao contestar a inocência garantida a Rennan em primeira instância, sustentou que, segundo testemunhas, ele era olheiro de traficantes e "divulgava música para o tráfico local".
Na época, Rennan afirmou que era comum, numa comunidade, que moradores se falassem caso avistassem uma operação policial. A polícia teria entendido erroneamente que fazia isso a serviço do tráfico, disse.
Uma foto que o DJ postou em redes sociais, com uma arma na mão, também foi usada contra ele. Sua defesa rebateu: era de brinquedo, produzida para o Carnaval e feita de madeira e fita isolante.
A investigação também apresentou um vídeo em que o DJ conversa com traficantes armados e chega a beijar a mão de um deles. Amigos questionaram. Quem cresce em favela, disseram, conhece bandidos e pode, inclusive, ter crescido com pessoas que depois enveredaram para o crime. Mas isso não faz de alguém um deles.
Na ocasião, a Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro (OAB-RJ) repudiou a decisão da Justiça, dizendo que se tratava de uma tentativa de “criminalização da arte popular”.
O pedido por sua liberdade foi endossado por artistas, ativistas e políticos, entre eles a deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ), para quem um "sistema racista e elitista" vitimou o criador do Baile da Gaiola —festa no Complexo da Penha que virou referência entre funkeiros e ponto de encontro de famosos como o jogador Adriano Imperador, que lá tomava uísque com guaraná.
Diversos nomes do funk e da música também manifestaram pedidos de liberdade para o DJ. Um deles aconteceu no Prêmio Multishow, do qual ele ganhou a categoria canção do ano, com a música “Hoje Eu Vou Parar na Gaiola”, uma parceria com o MC Livinho.
Um dos precursores do funk 150 BPM (mais acelerado) —nacionalmente conhecido pelas músicas “da Gaiola”, na voz do MC Kevin O Chris—, o funkeiro também concorreu a um prêmio de melhor videoclipe no último Grammy Latino. Ele foi indicado à categoria com o vídeo de “Me Solta”, parceria com Nego do Borel.