Música

Dia Nacional do Forró celebra raiz do gênero que une sanfona, triângulo e zabumba

'O forró está vivo e não só no Brasil', diz cantora Anastácia, que foi casada com Dominguinhos

O cantor e compositor Luiz Gonzaga, durante show - Folhapress
São Paulo

O rei do Baião, Luiz Gonzaga (1913-1989), foi o responsável por popularizar o forró e levar o gênero que nasceu no sertão nordestino para todo o Brasil. Não à toa, a data de nascimento do músico pernambucano, 13 de dezembro, serviu de inspiração para a criação do Dia Nacional do Forró –instituído por uma lei federal pela deputada federal Luiza Erundina (PSOL), em 2005.

Clássicos como “Asa Branca”, “O Xote das Meninas” e “A Vida do Viajante” foi regravado à exaustão por diversos artistas, e Gonzaga deixou seguidores, como o sanfoneiro Dominguinhos, morto em 2013, aos 72 anos. Este, por sua vez, foi parceiro e marido de Anastácia, 79, compositora e cantora, considerada a rainha do Forró, criadora de sucessos como “Só Quero um Xodó”. 

Anastácia também escreveu “Saudade Matadeira” e “Alegria de Pé de Serra”, gravadas por Luiz Gonzaga. Entre 800 composições, 200 delas foram feitas em parceria com Dominguinhos. Prestes a completar 80 anos, em maio de 2020, ela ainda está na ativa e participa, nesta sexta-feira (13), do Festival “Baião in Lisboa” e será homenageada na Europa, no Dia do Forró.

“O forró está vivo e não só no Brasil. A Europa tem mais de 50 festivais do gênero", conta ela. "É muito bom fazer parte, mais uma vez, dessa celebração por ser uma das únicas mulheres ainda vivas que representam o forró. Sou da época de Marinês [1935-2007] e outras cantoras que marcaram época e de outros ícones como Jackson do Pandeiro [1919-1982]”, conta Anastácia.

A pernambucana afirma que fazia letras sempre pensando em levar a vida e a visão do sertanejo nordestino às metrópoles. “Como eu estava em São Paulo, eu queria levar a vida do sertanejo para as músicas, mas urbanizei as letras para que pudesse ser ouvida fora do Nordeste. Uma das formas de fazer isso foi falar de amor, como em ‘Só Quero um Xodó’, que toca até hoje”, explica a artista que tem quase 40 discos gravados. 

No ano que vem, quando completar 80 anos, Anastácia gravará um disco com convidados, entre eles, Zeca Baleiro, Amelinha e Alceu Valença.

EM DEFESA DAS RAÍZES 

O forró tradicional exige uma sanfona, um triângulo e uma zabumba, por isso há muitos trios tradicionais, como Trio Nordestino, Trio Virgulino, entre outros. O gênero é formado por outros subgêneros, como o xote, baião, arrasta-pé e o xaxado, que têm também seus passos de dança típicos.

Com o tempo, músicos e bandas foram incorporando outros instrumentos ao forró, como guitarra e bateria e baixo. Alceu Valença, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho são alguns dos exemplos. 

Já nos anos 1990, nasceu o forró universitário, que tem como principal ícone a banda Falamansa, que fez sucesso com as músicas “Rindo à Toa” e “Xote dos Milagres”. Outros grupos como Bicho de Pé e Rastapé fizeram parte dessa fase.

“O forró genuíno é o gonzaguiano, com bumba, sanfona e triângulo. É claro que com a tecnologia, fomos incluindo outros instrumentos. Eu mesma já gravei com baixo, guitarra e até flauta”, diz a cantora Anástacia. 

Foi anos anos 2000 que o gênero abraçou a modernidade e os sons eletrônicos, com bandas como Aviões do Forró, Calcinha Preta e Garota Safada –essa última é a antiga banda de Wesley Safadão, artista que provoca ainda novas misturas, fazendo parcerias com sertanejos e funkeiros e se afastando cada vez mais da sonoridade original. 

“Esses grupos tinham de ter inventado um novo nome, porque isso não deveria ser chamado de forró. E, olha, os jovens gostam também do forró tradicional”, afirma a artista. Ela conta que, em seus shows, jovens pedem músicas de seus primeiros discos, na década de 1960. “Nem lembro a letra, mas eles pedem e eu faço uma cola para cantar na hora."

E não só pela antiga geração que o forró raiz se mantém na ativa, com festas e casas dedicadas ao gênero. Em São Paulo, a agenda do Canto da Ema, está sempre cheia, e no Rio de Janeiro, um dos exemplos é o Forró da Gávea. O músico Pedro Miranda, 43, se uniu a colegas para fazer noites semanais dedicadas ao gênero.

"Nós nos espelhamos no forró tradicional com sanfona, zabumba e triângulo, mas tem violão e fazemos bastante improviso, tocamos músicas instrumentais de Dominguinhos. Não é só forró para dançar, mas para curtir a banda mesmo", afirma Miranda, que também abre espaço para a nova geração autoral do forró. "Tem muita gente boa como o Thiago da Serrinha."