Vitória de Emmanuel Macron também foi uma vitória para a Louis Vuitton
Looks de Brigitte Macron mostram posição do marido em relação à moda francesa
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A vitória de Emmanuel Macron na eleição presidencial francesa, no último domingo (24), não foi só uma vitória para a visão do jovem presidente quanto à França e seu papel no mundo, ou do centrismo contra a extrema-direita política, embora essas duas coisas sejam verdade.
Foi também uma vitória da moda, especialmente da alta moda, e para o papel que esta representa quanto a refletir a cultura e a herança francesa em todo o mundo.
Se ainda resta alguma dúvida, basta conferir a roupa escolhida por Brigitte Macron para a noite da eleição, um conjunto feito sob medida pela Louis Vuitton, com um blazer azul marinho e detalhes prateados em estilo militar, acompanhado por calças de estilo semelhante, tudo isso perfeitamente coordenado com o terno azul marinho usado por seu marido. Foi uma escolha que refletiu a frente unida do casal bem como o campo de batalha ideológico em que a eleição se transformou. E agiu como um sinal sutil, vindo de um governo que favorece as grandes empresas e o livre mercado, de que essas inclinações continuarão a florescer no segundo mandato do presidente.
O setor de bens de luxo francês, afinal, vem demonstrando sua simpatia por Emmanuel Macron desde sua primeira campanha presidencial, em 2017, e a Louis Vuitton vem sendo a grife preferencial de sua mulher desde que ela se tornou primeira-dama.
Embora ela tenha usado outras grandes marcas francesas, entre as quais Balmain (cujo estilista, Olivier Rousteing, publicou uma declaração no Instagram elogiando a reeleição de Macron) e Alexandre Vauthier, nenhuma esteve presente em seu figurino com tanta frequência quanto a Louis Vuitton. Brigitte Macron usou peças da grife durante muitos de seus momentos mais performativos –as ocasiões que têm maior probabilidade de serem preservadas visualmente para a história, nas quais ela serve como representante não só de si mesma e de seu cônjuge mas do país como um todo.
Ela usou um conjunto Vuitton na primeira posse de seu marido, em 2017 (um conjunto azul-bebê com saia curta, e mais uma jaqueta de inspiração militar). Nas cerimônias do Dia da Bastilha (14 de julho) em 2017, 2018, 2019 e 2020, sua escolha foi Vuitton. E o mesmo vale para jantares de Estado no país e no exterior, como o jantar de gala oferecido pelo presidente Donald Trump em honra dos Macron em 2018. O número total de vezes que ela optou por modelos Vuitton pode ser acompanhado em uma conta de Instagram dedicada à moda preferida da primeira-dama, @thebrigittestyle.
Embora primeiras-damas francesas anteriores também se tenham associado a grifes clássicas da moda da França, como Carla Bruni-Sarkozy, que optava frequentemente por Dior e Hermès, e Bernadette Chirac, que era fã da Chanel, e embora o casal Macron tenha demonstrado apoio amplo a moda francesa, recebendo estilistas para dois jantares no Palácio do Élysée durante a Fashion Week de Paris, Brigitte Macron é a primeira a trabalhar de modo tão estreito com a Louis Vuitton.
É uma aliança entre o poder político e o poder dos negócios que serve aos dois lados muito bem. A moda, afinal, é parte das fundações da economia francesa e do patrimônio nacional, e a Louis Vuitton desempenha papel muito específico nas duas coisas. O setor responde por um milhão de empregos no país, por 2,7% de seu Produto Interno Bruto (PIB) e por 150 bilhões de euros (cerca de R$ 790 bilhões) em vendas diretas a cada ano, de acordo com a Fédération de la Haute Couture et de la Mode, a organização setorial das companhias de moda francesas.
E dentro da moda francesa, a Louis Vuitton –que no momento está celebrando o bicentenário do homem que deu seu nome à marca– é um polo central, a peça fundamental do LVMH, maior grupo mundial de produtos de luxo. E, não por coincidência, o LVMH é comandado por Bernard Arnault, o terceiro homem mais rico do planeta e partidário entusiástico de Emmanuel Macron
Louis Vuitton também é o nome de um dos mais novos museus de Paris, a Fundação Louis Vuitton, inaugurada em 2014. A instituição, concebida por Arnaud como um "presente" para a cidade e instalada em um edifício projetado pelo arquiteto Frank Gehry, será transferida ao controle do município em 2070.
No final de 2021, Macron ajudou a inaugurar no novo museu a exposição da Coleção Morozov, a primeira vez que essa célebre coleção russa foi exibida na Europa. (Embora o empréstimo tenha necessitado da aprovação do presidente russo Vladimir Putin, o LVMH declarou seu apoio a todos os afetados "pela trágica situação na Ucrânia.) Também no ano passado, Macron posou em companhia de Arnault na inauguração da loja de departamentos Samaritaine, que foi remodelada. Trata-se de mais uma das propriedades do LVMH, e o presidente declarou que a reabertura servia como metáfora para a reabertura de Paris depois do isolamento causado pela Covid-19.
É um relacionamento que não deixa de envolver riscos simbólicos, dadas as associações com elitismo, riqueza e classe contidas no termo "luxo". Nos protestos dos coletes amarelos em 2018, contra a alta nos preços dos combustíveis, muitas das butiques de luxo em ruas comerciais refinadas como o Faubourg Saint-Honoré foram alvo de manifestações, por simbolizarem aquilo que os ativistas viam como isolamento ao modo Maria Antonieta do presidente –uma crítica que foi retomada por seus oponentes na recente campanha eleitoral. (Marine Le Pen se esforçou resolutamente para evitar o uso de qualquer grife, durante sua campanha presidencial.)
Ao voltar a escolher um modelo Louis Vuitton para a celebração na noite da vitória, Brigitte Macron parece estar dando a entender que seu marido redobrará os esforços quanto ao relacionamento especial que o casal mantém com o mundo da moda. Ainda que ela mesma evite se pronunciar quanto a esse assunto.
Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci