Estilo

Como a boneca Barbie ficou mais versátil e ganhou importância na luta pela inclusão

Linha Fashionista, lançada há quatro anos, conta com mais de 170 modelos

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São Paulo

Por cerca de seis décadas, a boneca Barbie, fabricada pela companhia de brinquedos Mattel, ditou tendências de moda e foi reflexo de um padrão de beleza ocidental. Loira, magra e com olhos azuis, a invenção de Ruth Handler tem se tornado mais versátil e inclusiva.

Em 2019, os executivos da Mattel declararam que 55% das bonecas vendidas no mundo não eram loiras e de olhos azuis.

Apesar de a marca ter tentado ressignificar o que é "ser uma Barbie" ao longo de toda sua trajetória, como com o lançamento da primeira boneca negra ainda na década de 1960, foi somente em 2016 que ela incorporou novas silhuetas, abraçou a diversidade em diferentes tons e aderiu a etnias e estilos diversos com a ideia de promover a representatividade.

“Nosso compromisso com a inclusão é um componente essencial de nosso processo de design e estamos orgulhosos por saber que as crianças de hoje conhecerão uma imagem diferente da marca”, diz Kim Culmore, vice-presidente de design da Barbie.

A linha Fashionistas da boneca conta com mais de 170 modelos, entre eles bonecas carecas, com vitiligo, negras, deficientes físicas, asiáticas, entre outras. “Queremos representar melhor as pessoas e o mundo que as crianças veem ao seu redor”, ressalta Culmore.

Apaixonada pela marca desde a infância, Priscila Fernandes, 17, não hesitou em aderir à nova coleção assim que foi lançada. Com cabelos cacheados, ela conta que desde os 12 anos optava por alisar os fios através de procedimentos químicos, isso porque não se via nas bonecas.

“Se uma criança ver desde pequena que está tudo certo ser do jeito que ela é, seja ela branca, negra, cacheada, albina, deficiente, a sua autoaceitação é mais fácil”, conta a jovem, que já possui dez bonecas Fashionistas.

A importância de estratégias de inclusão nas organizações e marcas não acontece apenas nos dias de hoje. Há 19 anos, a ONU (Organização das Nações Unidas) aprovou a declaração universal da Unesco para o Dia Mundial da Diversidade Cultural e Desenvolvimento, celebrado em 21 de maio, com o objetivo de fomentar o diálogo sobre respeito e compreensão da preservação das diferenças.

“É preciso compreender que por questões éticas e financeiras, vivemos num mundo plural, composto por vários tipos de consumidores que são influenciados por questões sociais, raciais, econômicas, de gênero, psicologias e etc”, afirma Soraya Camargo, 40, figurinista e líder do Comitê de Diversidade do SBT.

Apesar de achar exagero dizer que a Barbie deixou de reforçar certos estereótipos de gênero e padrões de beleza, já que sua antiga imagem é presente no imaginário popular, Camargo ressalta o grande passo da Mattel iniciado há cinco anos. “Confesso que quando vi a negra careca, eu surtei. Pela primeira vez em 40 anos, vi uma boneca que se parecia comigo. Foi emocionante!

A psicopedagoga Sueli Conte, 69, afirma, no entanto, que não é apenas a fabricação de bonecas diferentes que vai interromper o processo histórico de discriminação e preconceito, e conta ter visto, em uma loja, um pai se recusar a comprar uma boneca negra para a filha. “Fiquei muito assustada com isso.”

Ela, que além de psicopedagoga, é especialista em educação infantil, afirma que as relações da primeira infância com a diversidade são necessárias para o desenvolvimento. “É uma fase em que elas [as crianças] estão construindo uma série de interpretações sobre o mundo e elas mesmas”, afirma.

“A mudança no brincar, em que vive toda a subjetividade e identidade infantil, é de extrema importância”, diz a especialista, que faz questão de citar os adultos como o principal público a ser atingido com a nova perspectiva.

“O adulto carrega consigo diversos preconceitos, que foram passados pelos pais, avós, lá atrás. A criança tem um olhar diferenciado, não vê maldade na maioria das vezes, e nunca com julgamentos, eles são ensinados.”

Soraya Camargo reitera que, infelizmente, estamos longe de tornar o diferente do padrão de beleza imposto até hoje em “algo natural”, e destaca que mesmo as “Barbies ‘diversidade’ não são encontradas com facilidade. É um produto ainda tratado como uma série especial e não como algo, normal. Os estereótipos ainda continuam, com outras nuances.”