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Apresentando-se como "francesinho debochado" e dizendo ser "meio parisiense e meio brasileiro", o influenciador digital Paul Cabannes, 31, faz sucesso nas redes sociais ao mostrar, de maneira bem-humorada, as diferenças culturais, linguísticas e de hábitos entre estrangeiros e as pessoas nascidas no Brasil.
Com mais de 750 mil seguidores no TikTok e de 200 mil no Instagram, Paul se juntou a outros influenciadores digitais gringos que estão promovendo um verdadeiro intercâmbio virtual entre países, explorando curiosidades e mostrando de forma cômica como é a adaptação de um estrangeiro no Brasil. Alguns também aproveitam a exposição para vender cursos de idiomas.
Paul mora no Brasil há seis anos. Ele é casado desde 2012 com uma brasileira que conheceu em Paris e veio para cá pela primeira vez em 2013. "Em 2015, viemos de novo e nunca mais voltamos", lembra.
O francês, que também é professor de idiomas, conta que, no começo, teve dificuldade para se adaptar a alguns hábitos bastante frequentes por aqui. "Uma coisa que eu não sabia e que tive que me adaptar é que o brasileiro não sabe falar não." Inicialmente, ele trabalhava na área do comércio e fazia vendas porta a porta. Paul afirma que chegou a voltar oito vezes a procurar uma possível cliente depois do contato inicial.
"Ela sempre falava: ‘volta amanhã que a gente vê’. Mas para mim isso significava literalmente voltar amanhã e a gente veria. Cheguei a pensar que ela fosse uma pessoa indecisa. Até entender que, na verdade, ela não queria fazer a compra."
Outra história engraçada também ocorreu pouco depois de sua chegada ao Brasil. Na época, ele trabalhava em uma escola de idiomas. "Os colegas me ofereciam comida o tempo todo, todos os dias. Na França, se te oferecem comida é porque estão realmente te oferendo comida. E eu aceitava. Até que, em um momento, o chefe falou que eles têm o costume de oferecer, por educação, mas que não é para valer. Imagine a minha vergonha."
Em 2017, o francês criou um perfil no Instagram e começou a contar as experiências inusitadas de sua adaptação ao Brasil. "Minha ideia inicial era ter um canal no YouTube sobre futebol. Mas o primeiro vídeo já foi bloqueado pela Fifa. Vi que essa ideia iria começar e terminar no mesmo dia, então decidi fazer um sobre as diferenças culturais", diz.
Foi durante a pandemia da Covid-19 que Paul começou a estourar. "Ganhei 500 mil seguidores no TikTok em três meses", lembra. Percebendo a boa aceitação de suas histórias, Paul começou a fazer shows de comédia em bares da Grande São Paulo. Para o ano que vem, pretende expandir o projeto e começar a se apresentar em teatros.
CASAL DISTANTE
O casal Drya Alves, 20, e Nick Whincup, 30, se conheceu em uma balada no Rio de Janeiro em 2019. Ela é brasileira, enquanto ele é inglês, da cidade de York. No Carnaval do ano seguinte, ele veio novamente para o Brasil, de surpresa, mas, pouco tempo depois teve de retornar ao seu país por causa da pandemia.
"Ficamos uns nove meses sem nos ver, somente falando por telefone ou por vídeo, até que, em novembro do ano passado, ele resolveu voltar para o Brasil em definitivo", conta Drya, que dá aulas de inglês e estuda direito na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Desde que Nick veio morar aqui, há pouco mais de um ano, a brasileira percebeu que a adaptação dele rendia histórias engraçadas. Em janeiro de 2021, decidiram expor esse processo nas redes sociais. O nome do perfil deles tem relação com a distância que os separava no início do relacionamento: Couple Miles. Trata-se de um trocadilho, já que, em inglês, a palavra "couple" significa casal. Porém, as duas palavras juntas formam a expressão "couple miles", que quer dizer "algumas milhas".
No TikTok, eles têm quase 800 mil seguidores atualmente. Em um dos vídeos de maior sucesso, com 5,9 milhões de visualizações, a jovem faz perguntas ao rapaz sobre expressões e pronúncias de palavras em português, música brasileira e até quais foram os times brasileiros que participaram da copa Libertadores da América deste ano. Nas vezes em que errou, recebeu um jato de água.
No mesmo vídeo, Nick é desafiado a continuar a cantar um trecho da música "Evidências", que ficou famosa na voz da dupla Chitãozinho e Xororó, e cumpre a tarefa com sucesso. "Tem gente que diz que sou mais brasileiro que algumas pessoas que moram aqui", diverte-se.
Embora soubesse que que a adaptação ao Brasil gere histórias engraçadas, Drya diz que não imaginava, no início, que o perfil deles fosse viralizar. "Não criamos com nenhuma intenção maior. Mas a gente sabia que tínhamos nossas diferenças culturais e que as pessoas acabariam se conectando com a nossa história", diz.
Além das brincadeiras, a estudante acredita que esse tipo de conteúdo nas redes sociais pode ajudar a melhorar a imagem do Brasil no exterior. "O brasileiro tem sempre essa visão de se colocar para baixo. Claro que temos nossas crises, mas moramos em um país maravilhoso. Isso me fez abrir os olhos e ter mais carinho pelo Brasil."
Para o futuro, o casal planeja abrir um canal também no YouTube e postar vídeos de outros lugares do Brasil para os quais pretendem viajar.
CONEXÃO BRASIL-RÚSSIA
Morando no Brasil há quase oito anos, a professora de idiomas Valeria Fomina, 32, nasceu na Rússia e atualmente vive na cidade do Rio de Janeiro. Quando chegou aqui, às vésperas da Copa do Mundo, tinha somente uma passagem de ida e não sabia nem como iria fazer para se manter por aqui.
"Eu não sabia nada sobre o Brasil. Para mim, tudo era novidade. Eu não imaginava como era a vida no Brasil, nem falava português. Eu sabia 5 frases e 20 palavras soltas", lembra. Segundo ela, o interesse pelo Brasil surgiu quando morou em Londres, na Inglaterra, e fez amigos brasileiros. "Me apaixonei pelo idioma", diz.
"Eu acho que a diferença principal que eu vi desde que cheguei no Brasil é aquela alegria, aquela vontade de conversar com todo mundo, de fazer amizade com todo mundo dos brasileiros, que os russos realmente não têm. Todo mundo fala que os russos são frios, sérios, fechados. Mas, comparado com os brasileiros, qualquer nacionalidade é fechada, séria, fria. Porque vocês são exemplo de abertura total, de hospitalidade, de alegria, de vontade de fazer amigos", comenta.
Valeria criou um perfil no Instagram em 2018 justamente para mostrar como era o Brasil sob o ponto de vista de uma russa e para mostrar aos brasileiros como os russos vivem e como veem o mundo. "Fiz umas seis ou sete postagens e meio que abandonei, porque eu estava desenvolvendo minha escola e precisava de muito tempo, muita energia e muito esforço para captar os alunos e para fazer divulgação. Aí fiquei sem tempo e sem forças para continuar esse trabalho", afirma.
Em 2020, por causa da pandemia, tudo mudou. Ao ter de migrar suas aulas para o ambiente remoto, percebeu a oportunidade de voltar a postar conteúdo no seu perfil, que ganhou o nome de "Uma Russa no Brasil". "Eu vi que realmente existia muito interesse por parte dos brasileiros. Vi que as pessoas começaram a mandar um monte de mensagens para mim perguntando as coisas, falando que estavam gostando de acompanhar." Em fevereiro deste ano, ela criou um canal no YouTube.
"Eu acho que eu, com minhas redes sociais, consigo aproximar essas duas culturas e hoje eu sinto que tenho essa missão de fazer essa aproximação, mostrar as diferenças culturais, mostrar como que a vida pode ser diferente. Porque realmente Brasil e Rússia são países bem distantes e temos muitas diferenças. Brasileiros não sabem muita coisa sobre a Rússia e os russos não sabem muita coisa sobre o Brasil", diz Valeria.
Nesta época de fim de ano, por exemplo, ela tem feito postagens mostrando como são as ceias em seu país de origem, além de mostrar as diferenças entre o Natal e o Ano-Novo. "O Ano-Novo, para a gente, é mais importante que o Natal. E aí, presente, Papai Noel e árvore é tudo para o Ano-Novo. Isso para a gente é tão óbvio que a gente nem pensa que para as outras pessoas não é."
E, no caso de Valeria, os estereótipos a respeito dos russos não podiam deixar de ser tratados. Em um de seus vídeos, ela mostra que tipo de perguntas costuma escutar quando diz que veio da Rússia. Entre elas, estão: "você é comunista?", "vamos beber vodca?" e "você tem um tanque [de guerra] na garagem?"