Diversão

Julia Lemmertz faz sua 1ª peça de humor e fala da pressão das redes sociais: 'Dava taquicardia'

'Simples Assim' faz piada do mundo caótico e da armadilha da tecnologia

Julia Lemmertz na peça "Simples Assim" - Victor Hugo Secatto/Divulgação
São Paulo

Julia Lemmertz, 56, está de volta aos palcos. E, pela primeira vez, em uma peça de humor –embora, como explica a atriz, "Simples Assim" não seja uma comédia escrachada. É, na verdade, uma coletânea de crônicas do cotidiano que falam "da loucura da vida" de um jeito leve e engraçado, mas que também quer fazer o público refletir. 

"Tenho certeza, que todo mundo que vê a peça sai por um momento pensando: Caramba, o que a gente está fazendo da vida, do mundo, de nós mesmos? Qual é a qualidade das nossas relações?", diz. 

A peça estreou no Rio em junho e faz agora temporada em São Paulo a partir desta sexta-feira (6). Depois, segue em turnê por cinco capitais brasileiras. 

O espetáculo é composto por dez cenas, baseadas em textos de dois livros da autora Martha Medeiros, "Quem Diria que Viver Iria Dar Nisso" e "Simples Assim". No palco, Julia e os atores Georgiana Góes e Pedroca Monteiro se dividem em dez personagens para retratar os dilemas do ser humano no mundo atual. 

Tem um casal que apenas interage pelo celular; uma mulher, que é tão ocupada que contrata uma dublê de si mesma para dar conta de tudo; e uma jovem que decide ir para Marte e abandonar o amante.

"Essa peça reflete muito a perda da qualidade de presença que você tem na vida, presença com os outros, com você mesmo, porque você está toda hora aqui [aponta para o celular]...Você não larga isso aqui, porque isso virou um apêndice das pessoas", diz. 

"Você acumula coisas que não precisa, você fala coisas que não precisava ter falado, você se expõe pro mundo, porque você se sente menos sozinha se você tiver uma quantidade de likes", complementa.

E como é a relação da atriz Julia Lemmertz com toda essa tecnologia? Para ela, o celular com internet (smartphone) é de fato uma "mão na roda", embora também lhe cause uma certa apreensão. "Você resolve banco, manda mensagem, emails. Mas eu fico um pouco aflita."

Quanto às redes sociais, ela diz ser mais ativa apenas no Instagram, onde tem 418 mil seguidores. No entanto, desde as eleições presidenciais do ano passado, não gostou do rumo que o seu perfil estava tomando.

Crítica ao então candidato e hoje presidente Jair Bolsonaro (PSL), ela viu seu Instagram, que antes era ocupado por imagens de “flores, paisagens e trabalhos legais", se transformar em um espaço violento de uma forma "muito angustiante". Para ela, a principal explicação disso é pelo fato de a internet ser "terra de ninguém".

"Se você não é uma pessoa pública, a sua identidade ali está de alguma forma preservada e aí você pode entrar na página de alguém e achincalhar aquela pessoa por pura ignorância ou por pura convicção. E eu fico querendo responder, mas não brigar, e sim explicar, dialogar...Só que do jeito que a coisa está não dá", afirma.

Julia revela que começou a ter taquicardias diante dessa situação. "Comecei a ficar doente por causa disso, ia me fazendo mal, eu estava com ódio da pessoa. Mas gente, eu não conheço essa pessoa, não sei nem se essa pessoa existe de verdade", desabafa. 

Ela decidiu, então, que não iria mais passar por isso. Era hora de se acalmar e recuar. Entre a temporada de "Simples Assim" no Rio e em São Paulo, a atriz conseguiu três semanas para descansar e ficar longe da loucura das redes. Durante o período, conta que leu cinco livros e conseguiu ver várias séries e filmes.

"Agora, estou voltando aos pouquinhos [ao Instagram], colocando umas flores, umas paisagens, fotos de divulgação da peça. E estou vivendo mais pessoalmente", diz. 

HUMOR 

Para Julia Lemmertz, no momento atual tão polarizado, a comédia é uma forma de conseguir dialogar com o outro e transmitir mensagens que não seriam alcançadas de outra forma. "Com o humor você consegue 'desarmar', você relaxa e tira o escudo", diz. 

A atriz diz que a peça "Simples Assim" consegue falar de política, de amor, da loucura do mundo tecnológico entre outros assuntos em um ritmo ágil e engraçado, e sem ser agressivo ou panfletário.

Ela cita como exemplo a história da jovem que quer ir para Marte, que pode ser interpretada como uma indagação sobre os rumos do país e do mundo. "Olha o país, está tudo desmoronando, só sobrou Marte para mim, tem que sair daqui, porque as pessoas estão morrendo, as pessoas estão passando fome, sim, jovens negros estão sendo mortos, professores e artistas estão sendo perseguidos."

Mas Julia pondera que a peça não quer impor uma ideia única. "Ninguém está ali dando uma cartilha para o outro, que fale vamos pensar assim. É uma crônica, é um pensamento da vida cotidiana", conclui.

Com direção de Ernesto Piccolo e texto de Martha Medeiros e Rosane Lima, "Simples Assim" fica em cartaz no teatro Frei Caneca até 29 de setembro. Depois segue para Belo Horizonte (5 e 6/10), Palmas (11 a 13/10), Fortaleza (18 e 19/10), Porto Alegre (25 a 27/10) e Brasília (1 e 2/11).

'Simples Assim'

Avaliação:
  • Quando: Sextas, às 21h30; sábados, às 21h; e domingos, às 18h. Até 29/9
  • Onde: Teatro Frei Caneca (r. Frei Caneca, 569, Consolação, dentro do Shopping Frei Caneca, tel. (11) 3472-2229)
  • Preço: De R$ 50 a R$ 120 (há meia-entrada)
  • Classificação: 12 anos