Alguns dizem que Lana Del Rey é apenas um personagem encarnado por Elizabeth Grant (nome de nascimento da cantora). Sua languidez, o visual de diva hollywoodiana com charme decadentista, a voz e as composições que te transportam para a beira de uma radiante piscina de lágrimas em filtro vintage, tudo teria sido pensado milimetricamente para criar um ícone da escassez de serotonina. Pois eu sempre discordei frontalmente, Lana me parece totalmente autêntica em estética, poesia e capacidade de ver beleza em situações inusitadas.

Surpreendendo muitos, a diva de 39 anos se casou no último dia 26 com Jeremy Dufrene, 56. A diferença de idade entre os dois não foi motivo de choque. Muitas músicas de Lana Del Rey exalam a essência de daddy issues. Para quem não sabe, essa expressão designa o desejo ou a obsessão da mulher que busca nos homens com quem se relaciona uma figura paterna –seja porque tiveram um pai ausente que querem substituir ou um pai presente que querem replicar, entre outras explicações psicanalíticas mais ou menos absurdas.

É comum que mulheres com daddy issues aflorados busquem homens vários anos mais velhos para se relacionar. Essas figuras são suspostamente confiantes, bem resolvidas, poderosas, protetoras e acolhedoras. E é apenas supostamente mesmo, porque qualquer uma que já conviveu tempo suficiente com um homem de meia-idade sabe o quanto eles são inseguros, carentes e bastante demandantes. Mas até as moças se darem conta dessa grande farsa, leva um tempo e às vezes uma juventude é desperdiçada em paus meia bomba e abusos de poder que eles cometem para compensar a flacidez peniana (nem todo homem de meia-idade).

Mas tergiverso. As pessoas se chocaram com o relacionamento de Lana e Jeremy porque ele é feio e muito simples. Afinal, ela é uma diva de lábios avantajados e conta bancária farta nascida em uma família endinheirada e ele é um guia turístico de um parque cheio de crocodilos que está longe de ser um galã. Quando ela cantava seu desejo por homens mais velhos, os fãs imaginavam que ela falava de um belo grisalho em terno de grife, relógio Patek Philippe e um Corvette anos 60 na garagem ou de algum chefão do crime organizado vindo direto da década de 40, e não de um cara comum.

Pois veja, eu acho mesmo é que Lana mandou bem e provou que encontra arte no inesperado. Talvez Jeremy tenha boas histórias para contar (vai lá saber o que fazem os crocodilos) e se interesse pelas narrativas dela. Quem sabe ele consegue fornecer aquela segurança tão almejada por mulheres que costumam cair de amores por caras mais velhos? Não sabemos qual será o desfecho, mas fato é que ela tem tempo, rede de apoio e recursos para experimentar.

Dinheiro? Isso ela já tem em grande quantidade, está longe de ser a mesma situação da funcionária pública que sustenta um eterno concurseiro que só dá despesa e ainda a trai com a vizinha. Só espero que ela tenha feito um bom contrato pré-nupcial com separação de bens.

Faço votos de que dê certo, até porque eu não quero ver um monte de gente nem tão bonita assim dizendo que também já sofreu por um feio, caso Lana se decepcione. Além disso, sempre tem a chance de o verdadeiro sofredor ser o homem rústico forçado a conviver com um monte de artistas. Felicidades ao casal.