X de Sexo Por Bruna Maia
Descrição de chapéu Todas Alalaô Rio

Millennials seguem a tradição de lamber até corrimão no Carnaval de rua do Rio de Janeiro

Se lombar e tornozelos permitirem, geração seguirá perseguindo baterias e beijando na boca

Foliões do bloco Boi Tolo, no centro do Rio, durante o Carnaval 2024 - Eduardo Anizelli - 11.fev.2024/Folhapress

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Me perdoem os outros carnavais do Brasil, se possível quero conhecer todos, mas irei me ater àquele em que tenho mais experiência e conhecimento de causa: o do Rio de Janeiro. Já acumulo alguns quilômetros caminhados (ou corridos) atrás de blocos do centro, da Lapa, do Flamengo, de Santa Teresa e adjacências e posso falar com alguma propriedade desse evento glorioso. É a festa da carne fluindo. Você fica bêbado se quiser, e é fácil ficar bêbado; você fica drogado se quiser, e é fácil ficar drogado; e você beija na boca se quiser, e é MUITO FÁCIL beijar na boca.

Transar? Se você tiver local, é facílimo. Felizmente, o Rio é uma cidade bem servida de motéis cujos funcionários não acharão estranho se você e sua dupla (ou trio, ou grupo) entrarem a pé. Não dá para garantir, contudo, a salubridade de vários deles. Eu mesma fui parar em um com o colchão furadíssimo, acompanhada de um moço que carregava um trombone (ou trompete). Em outras ocasiões, eu jamais entraria nesse lugar, mas no meio dessa bagunça, eu entro com alegria. Até porque o rapaz, não tenho certeza do seu nome, era eficiente e dedicado.

Neste ano de 2024, dias antes da festa, eu não estava lá muito empolgada e animada, andava sorumbática, melancólica. Mas foi só descer do ônibus leito em uma avenida qualquer e ter que correr atrás de um táxi sob o sol escaldante, puxando minha mala cheia de glitter e lantejoulas, que eu comecei a liberar a endorfina que 14 anos morando em São Paulo tiraram de mim. Daí para a frente, foi só alegria.

Carnaval no Rio, honestamente, não é uma experiência para se viver sozinho. O ideal é ter um grupo de amigos sempre por perto. Uns cuidam dos outros, uns se divertem com os outros. E, quando encontrei minha turminha, fiquei muito feliz de perceber que eles seguem fiéis ao espírito carnavalesco. A maioria deles é, como eu, millenial, e tem de 35 anos para cima. Capricham nas fantasias, exageram nos brilhos e na cerveja, pulam, correm, cantam e beijam bastante –ora entre si, ora com belos desconhecidos (*).

É verdade, sim, que alguns fazem uso de MDMA, droga sintética que provoca sensação de bem-estar e aumenta a vontade de beijar na boca. Já fiz uso durante um tempo e jamais mentiria: o bicho é gostoso mesmo. Desde que fui diagnosticada com transtorno afetivo bipolar, não posso entrar nesse bonde. Ainda que as drogas adicionem um toque de psicodelia, leveza, tesão e fogo no rabo, ainda dá para curtir bastante sem elas.

Se você, jovem, acha que a vida acaba aos 30, lamento informar que ela continua por muito tempo e, por isso, é importante fortalecer a lombar, os joelhos, os tornozelos e estar com o cárdio em dia. Sua vida pode estar acabada, você pode ter perdido o emprego, levado um pé na bunda e seu cachorro ter morrido, mas pelo menos você vai conseguir encarar um bloco e suar toda sua miséria existencial nas ruas do Rio de Janeiro –com sorte, vai parar em um motel limpo e tem uma transa gostosa.

(*) Falando em desconhecido, beijei um menino de Niterói pouco antes de beijar o moço do trombone e queria parabenizar a cidade, pois nunca conheci niteroiense que beijasse mal. Aliás, o do trombone também era de Niterói!