X de Sexo Por Bruna Maia

Pentelhas e respondonas: Conheça as brats, mulheres que têm prazer em irritar seus parceiros

Nesse fetiche não existe submissão sem provocações, rebeldia e algumas travessuras

Ilustração 'Lysistrata Defending the Acropolis', de 1896 - Aubrey Beardsley/Reprodução

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Não é todo mundo que tem talento para ser dominador no sexo. Algumas pessoas ficam muito patéticas tentando sustentar esse papel. Uma moça que se apresentou como Srta. Lovelace me contou que, quando estava se descobrindo no mundo da dominação e submissão (BDSM), com frequência achava os homens que tentavam dominá-la ridículos. Mas ela ainda assim gostava de ser submissa. E agora? Como ela iria se submeter sem respeito? Ainda bem que o BDSM é amplo o suficiente para conter um fetiche que é exatamente isso: submissão sem respeito. É a dinâmica brat/brat tamer (o pentelho e seu domador, em tradução livre). Vale quase tudo para irritar o parceiro, levá-lo ao limite e então receber algum tipo de punição.

"Via os dominadores e ficava debochando internamente da masculinidade e da performance, e aí percebi que eu queria zoar aqueles caras, não simplesmente me ajoelhar para uma performance meia-boca", diz Srta. Lovelace.

Nessa brincadeira, o parceiro brat faz travessuras para deixar o seu domador indignado. Andrea conta que seu marido trabalha em meio aos livros, que estão sempre organizados. Um dia ela foi até a estante e virou a lombada de todos eles para trás. Ele não conseguia mais encontrar os títulos de que precisava. Possesso, ele deu algumas cintadas em sua bunda, e ela garante que foi muito legal. É importante deixar claro que foi consentido, como tudo no BDSM.

As punições nem sempre são físicas. Às vezes o tamer diz para seu brat escrever linhas e mais linhas, como o Bart na abertura de Os Simpsons. Mas, até quando estão sendo punidos, os brats dão um jeitinho de desobedecer. "Ele pediu para eu escrever no mínimo 50 linhas sobre como eu achava que estavam as coisas, o que tinha de positivo e o que poderia melhorar. E disse ‘não vem com tá tudo certo’. Tudo bem, eu abri o bloco de notas e escrevi várias formas diferentes de falar ‘tá tudo certo’, até completar 50 linhas. Eu fiz o que ele mandou!", conta Agatha, outra adepta da prática. Em outra ocasião, o tamer disse para ela ficar uma semana esperando o café esfriar antes de tomá-lo (essa eu achei extremamente cruel). O tamer também pode lançar mão de uma das mais doloridas retaliações: a completa indiferença diante das pentelhações.

E na cama, como funciona? Srta. Lovelace diz que gosta de fazer sexo oral no parceiro e então parar quando ele está quase gozando. Como resposta, ele dá tapas na bunda e faz o mesmo com ela: a estimula com sexo oral e vibradores e para antes que ela goze. Mas como alguém pode ter prazer nisso, você se pergunta. É que o BDSM tem um aspecto bastante ritualístico. Em vários fetiches existe um longo preâmbulo até chegar na estimulação genital, que nem sempre precisa ocorrer. O sexo não gira apenas em torno do gozo, e muitas vezes o prazer está em retardar o orgasmo.

Para a Agatha, a coisa mais atraente nessa dinâmica é o permanente tensionamento do controle. Afinal, quem está controlando quem? Brats tocam o terror em busca de uma reprimenda. Quando elas recebem, elas conseguiram o que queriam, certo? Será que não é o tamer, no fim das contas, que está sendo submetido?

As duas entrevistadas têm parceiros fixos e eu não poderia deixar de perguntar sobre como evitar que o jogo descambe para o abuso. A resposta foi a que eu esperava: os casais conversam muito e estabelecem palavras de segurança. A dominação fica restrita a esse espaço. "Em outras áreas da vida, eu sou bem mais assertiva do que ele", diz Srta. Lovelace.