Fadas transam com demônios que transam com anjos que transam com guerreiros
Saiba mais sobre os romances eróticos que se passam em um mundo de fantasia
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Sabe aquela moça sentada no metrô absorta lendo um livro cuja capa ela esconde? Aquela moça que todos os dias dirige muito concentrada escutando algo que não é música no rádio do carro? ELAS PODEM TER SIDO PICADAS PELO MOSQUITO DO ROMANCE HOT.
Caso você não saiba, romances eróticos escritos por mulheres estão sempre na parada de sucesso da Amazon, por exemplo. É só conferir: digite CEO, virgem, mafioso ou secretária na busca do site e se surpreenda com a quantidade de ficção que tem essas figuras como protagonistas. Mas nem só de mocinhas e homens dominadores que vive o gênero. Uma leitora me contou sobre sua obsessão com a categoria monster fuck, que ela traduz como PORNÔ DE FADAS.
Gisele, vamos chamá-la assim, diz que o melhor momento do seu dia é quando ela vai até a academia andar trinta minutinhos na esteira escutando audiobooks de putaria. Ela teme que as outras pessoas notem suas expressões faciais de desejo.
Ela descobriu o nicho em 2020 e, desde então, leu (ou escutou) mais de duzentos. Um dos seus favoritos é a série "Corte de Espinhos e Rosas", da autora Sarah J. Maas. Com quatro livros, a trama se passa em um mundo dividido por uma muralha mágica entre humanos e seres féericos. Sempre tem alguma guerra ou intriga política rolando. E sempre tem muita cena explícita entre seres de diferentes espécies. Abaixo, um trecho do quarto livro da série, chamado "Corte de Chamas Prateadas", envolvendo dois séries feéricos (palavra que designa o que pertence ao mundo da fantasia, mágico):
Nestha soluçou, e ele brincou com a língua. O soluço dela se transformou em um grito, e Cassian riu contra a pele dela, brincando com a língua de novo. O clímax se tornou um véu translúcido logo além do alcance dela, chegando mais perto.
— Tão molhada — sussurrou ele, e chupou a entrada de Nestha, como se determinado a consumir cada gota dela. – Você está sempre molhada assim pra mim, Nestha?
É o meu tipo de romance? Não. Sou da escrita mais crua. Mas muita mina gosta justamente dos floreios safados e mil sinônimos para vagina, pênis, clitóris, meteção e chupada que essas narrativas trazem. E admiro demais as escritoras do meio –elas são prolíficas e lançam um atrás do outro, às vezes vários por ano, satisfazendo a ânsia da fanbase faminta por membros sempre rijos e grutas ensopadas.
"Eu amo que, mesmo durante a guerra, a galera transa na barraca. Essa é uma das grandes mágicas dos romances escritos por mulheres. Os personagens pensam: ‘O que é a guerra diante da grande gostosa que está na minha tenda?’", diz. Alguns romances são histórias com toques eróticos, outros são mais focados na tensão sexual e nas cenas quentes.
Não é errado chamar esse tipo de livro de "pornô de mulher", já que cada página é um estímulo a imaginação. Gisele disse que a leitura melhorou sua vida sexual porque as descrições detalhadas de como as mãos se movem, das texturas dos toques, dos movimentos das línguas, dos encaixes dos corpos etc, fizeram ela prestar mais atenção nessas coisas na hora de transar. Ela ficou mais exigente, sim, mas as trepadas ficaram mais gostosas. "Às vezes estou transando e imagino uma narrativa na minha cabeça, é muito louco, mas é bom." De tão fã, ela fez amizade com autoras brasileiras e virou "leitora beta", que é a pessoa que lê o teto antes de ele ser publicado e dá feedback ao escritor.
Esses livros são diferentes dos filmes pornográficos focados na penetração e no prazer masculino, feitos para uma punheta rápida. Eles criam a foda de uma maneira mais complexa e delicada –aqui, delicada tem o sentido de cuidadosamente construído, e não necessariamente de sexo "amorzinho", até porque muitos deles envolvem sexo selvagem ou fantasias de dominação e submissão.
Os caras, inclusive, se quiserem melhorar a qualidade do sexo, poderiam se beneficiar se parassem de obcecar em livros sobre como ficar rico escritos por charlatões pobres ou em histórias muito chatas sobre professores universitários de meia-idade que estão em crise existencial e começam um caso com a aluna de vinte e poucos anos (um tema recorrente na literatura masculina).
"Nos pornôs de fada eles são humanoides, alguns têm asas, rabo. Os caras estão sempre muito dispostos, sempre prontos para romance e para sexo. E às vezes muito dispostos a conversar". Quem diria que iríamos gostar de conexão emocional, intelectual e sexual, tudo ao mesmo tempo, não é mesmo? E, nesse caso, ainda rola a aventura de uma batalha logo na sequência.