Gozar em sexo ruim é ambíguo pra mim porque sinto prazer e ódio ao mesmo tempo
É muito bom conseguir alcançar o orgasmo facilmente, mas até nisso o patriarcado me faz espumar de raiva
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Demorei alguns anos para ter controle sobre meu orgasmo, para conseguir alcança-lo quando quisesse. Meninos têm mil estímulos para tocar punheta. Meninas não. Mas fato é que hoje em dia não é difícil, consigo gozar sozinha e acompanhada. Contei com a sorte de começar minha vida sexual com homens que podiam ter 329 defeitos, mas trepar mal não era um deles. Consigo gozar com penetração em sexo casual com desconhecidos muito ruins de cama. Realidade de pouquíssimas.
Não estou falando essas coisas para afirmar que sou empoderada e transuda e gozante. Penso que ser radicalmente honesta, sem eufemismos e melindres, é a melhor contribuição que tenho a dar nesse assunto. Estou admitindo o sentimento que me vem à mente toda vez que um inapto chupa minha uretra achando que manda benzão e esquece que dedos são extremamente úteis na hora de transar. A sensação é "como assim esse mané pode aproveitar isso aqui e achar que essa foda merda foi boa e enquanto eu não extraí nenhum prazer disso?"
Nesses casos, em que qualquer habilidade clitoridiana do sujeito é nula, prefiro partir para a penetração, com certas técnicas. Ou fico por cima e gozo no cara (e não com o cara), roçando o clitóris nele durante o processo, ou fico de quatro tocando uma siririca. Ou pego meu vibrador e dou um jeito ali, na frente dele. É doido, a maioria não se sente humilhado, acha que é uma performance muito legal. Não entendem que não se trata de agrada-los, mas sim de reivindicar o que me é de direito.
Se não for pra gozar nem tiro a roupa, não tem essa de "ah, não gozei mas o sexo foi legal". Exijo simetria absoluta, e como um homem jamais diria essa frase com a naturalidade que muitas de nós dizemos, nego-me a pensar desse jeito.
Nesses casos não daria pra se comunicar, ensinar e conversar? Às vezes até dá, mas com frequência a capacidade dele é tão inexistente quanto minha vontade de vê-lo outra vez. Então acabo concluindo que não vale a pena ser um GPS de buceta. E comunicar eu comunico. Digo "mais pra cima" ou "me deda" ou "mais devagar" ou "mais rápido". Mas tem horas que é impossível conversar com quem não fala a mesma língua (perdão o trocadilho).
Está se sentindo objetificado e desprezado nesta coluna? Se sentiu usado para o prazer de uma mulher? Como é essa sensação?
Contudo, a minha relativa facilidade de gozar mesmo quando o cara é ruim de cama, carrega consigo coisas que me deixam um tanto infeliz. Uma delas, menos grave, é o fato de o bobão achar que mandou bem porque eu gozei, sendo que um poste teria a mesma serventia, principalmente se eu estiver no furor ovulatório.
Confesso que, em uma circunstância inusitada, o rapaz era tão inapto que fingi que não gozei – ele não merecia essa satisfação. E só o fato de ter pensado e agido assim me deixa iracunda. Sexo não deveria ser sobre metas e merecimentos e sim sobre prazer. Não me culpo nem me arrependo disso. Se existe algum culpado é o falocentrismo desses egoístas com autoestima delirante.
Mas o que me deixa triste mesmo é saber que muitas mulheres nunca chegariam ao orgasmo com esse tipo de parceiro tosco do qual consigo espremer algum gozo. De acordo com uma pesquisa do instituo Prazerela divulgada em 2018, apenas 36% das 1370 entrevistadas sentiam prazer durante a relação sexual, enquanto na masturbação 74% gozavam sempre. Apenas 16% relataram sentir prazer durante a penetração. E esse bando de incompetente nos come mal e depois têm a pachorra de nos chamar de mal-comidas, como se a culpa fosse nossa!
Compreenderam que a desigualdade de gênero acontece até na hora de ter prazer sexual?
Sacou por que sua esposa às vezes prefere um sugador de clitóris ou um amante talentoso em vez de você?
E mulheres, entenderam que gozar é um direito?