Morte de Elizângela provoca guerra da narrativas nas redes sociais
Atriz nunca se vacinou contra a Covid-19, e teria morrido de sequelas da doença
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Em dezembro de 2020, quando as vacinas contra a Covid-19 ainda nem haviam chegado ao Brasil, Elizângela postou a imagem de uma seringa com a legenda "penetração forçada sem consentimento... é estupro". Ainda acrescentou o slogan "meu corpo, minhas regras", como se o coronavírus fosse respeitá-las.
Em janeiro de 2022, Elizângela foi internada em estado grave na UTI do Hospital Municipal José Rabello de Melo, em Guapimirim, cidade do litoral fluminense onde já morava há alguns anos. Tinha sequelas da Covid-19.
Mesmo depois de se recuperar, a atriz se recusou a tomar qualquer dose de qualquer imunizante contra a doença. "Não sou contra vacinas, mas também não sou cobaia", dizia ela, sem se render à evidência de que a vacinação em massa reduzia drasticamente o número de infectados no mundo inteiro. Tamanha teimosia custou a Elizângela um papel na novela "Travessia", de Glória Perez, pois a Globo exige que todos seus colaboradores sejam imunizados.
Elizângela morreu na sexta (3), de parada cardiorrespiratória, no mesmo hospital onde esteve internada no ano passado. Sua morte comoveu o país: várias gerações de brasileiros cresceram vendo a atriz na TV, onde estreou ainda criança. Seu talento e carisma eram irresistíveis, e praticamente todo mundo gostava dela.
Por respeito à família, boa parte da imprensa não foi fundo nas causas da morte de Elizângela. Muitas matérias lembraram que ela era negacionista das vacinas e ardorosa defensora do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas evitaram fazer uma ligação direta entre o negacionismo e seu falecimento.
Lauro Santana, empresário da atriz, negou que ela enfrentasse sequelas da Covid-19, a chamada "Covid longa" – sintomas graves que persistem mesmo depois que o vírus é eliminado do organismo. A explicação "oficial" é a de que Elizângela lutava contra um enfisema pulmonar.
Isto não impediu, é claro, que mais uma discussão calorosa explodisse nas redes sociais. Defensores da vacinação lamentaram que a campanha de desinformação promovida por Bolsonaro continue fazendo vítimas. Já os apoiadores do ex-presidente negaram a própria existência da Covid longa.
Acontece que ela existe, apesar de ainda ser um fenômeno pouco falado no Brasil. Mas, no exterior, atingiu estrelas como Gwyneth Paltrow, Colin Farrell, Tilda Swinton, Salma Hayek e Billie Eilish. Algumas delas sofrem complicações até hoje.
É natural que a família de Elizângela não confirme que a atriz padecia de sequelas da Covid, a causa mais provável de sua morte precoce. A atriz recebeu uma avalanche de mensagens de ódio quando comparou a vacinação "forçada" (algo que não existe no Brasil) ao estupro, e não precisa receber outra justamente agora. Mas o estabelecimento da verdade seria um grande serviço à população.
Eu tinha a esperança de que Elizângela mudasse de ideia e deixasse de ser negacionista quando se recuperasse das complicações que enfrentou em janeiro de 2022. Não foi o que aconteceu. Ela preferiu perder um papel numa novela a se vacinar, e manteve o apoio a Bolsonaro mesmo depois da eclosão de inúmeros escândalos. Pagou caríssimo por suas convicções. Que sua morte, quase uma tragédia anunciada, pelo menos sirva de alerta aos incautos.