Tony Goes

Mesmo depois de pedir desculpas, Fábio Porchat continua sendo atacado na internet

Humorista admite que vacilou no caso Léo Lins, mas segue cancelado

Fábio Porchat assumiu erro mas enfrenta resistência de seguidores - AgNews

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Em dezembro de 2019, o especial de Natal do Porta dos Fundos causou uma celeuma tão grande que virou caso de polícia. "A Primeira Tentação de Cristo" revoltou os homofóbicos ao sugerir que Jesus Cristo era gay. O curioso é que o especial do Natal anterior, "Se Beber, Não Ceie", mostrava um Jesus ladrão, que não gerou grandes protestos.

Um desembargador do TJ-RJ determinou que "A Primeira Tentação" fosse retirado do YouTube. A censura ao programa só caiu quase um mês depois, quando o STF analisou o caso. Nesse ínterim, a sede da produtora do Porta dos Fundos no Rio de Janeiro foi atingida por coquetéis molotov, disparados por militantes da extrema-direita. O atentado não foi totalmente esclarecido até hoje.

Este não foi o único episódio em que tentaram calar o Porta dos Fundos, mas foi certamente o mais traumático. Uma experiência terrível, que fortaleceu nos integrantes da trupe a defesa da liberdade de expressão. Especialmente em Fábio Porchat, roteirista dos especiais de Natal.

Foi esta crença que levou o comediante a postar um tuíte indignado, quando soube que o especial de stand-up "Perturbador", de Léo Lins, havia sido retirado do YouTube. "Isso aqui é uma vergonha! Inaceitável!", escreveu Porchat – e mais nada. Muita gente entendeu que ele estava, na verdade, endossando as tiradas repugnantes de Lins.

Imediatamente, começou um massacre nas redes sociais. Houve quem o "desmascarasse" como antirracista, ignorando mais de uma década de humor progressista e inclusivo do Porta dos Fundos. Porchat então divulgou dois tuítes, bem mais longos, tentando esclarecer sua posição. Não adiantou muito. O massacre prosseguiu.

Nesta sexta (26), o humorista postou um vídeo em seu perfil no Instagram onde pede desculpas. Conta que conversou com muita gente e conclui que foi leviano ao se manifestar de maneira superficial sobre um assunto tão complexo, admitindo que errou.

Tampouco adiantou muito. A maioria dos mais de 800 comentários que a postagem recebeu até o momento em que escrevo esta coluna é francamente contrária a Porchat. Ele demorou demais para mudar de ideia, não passou convicção, não exigiu que Léo Lins fosse condenado à morte.

O fato é Porchat não mudou mesmo de ideia. Em nenhum momento ele defende que "Pertubador" siga fora do YouTube, e confirma que segue acreditando na liberdade de expressão. Mas sua defesa agora tem mais nuances, mais pontos de vista, porque o assunto é mesmo complicado e doloroso.

Este novo desenrolar do caso só confirma algo que quem observa as tretas nas redes sociais já sabe faz tempo: o tribunal da internet é implacável, e raramente altera um veredicto. Quem se afasta de uma narrativa "oficial" merece o fogo do inferno, sem direito a recurso na segunda instância. Sequer adianta dizer que mudou de opinião ou mesmo pedir desculpas. O que foi dito antes já basta para a condenação eterna.

Tanto "ódio do bem" – uma expressão que me incomoda, porque pode servir para ridicularizar qualquer reação indignada, mas que cabe nesta situação – é antiproducente e perigoso. Fábio Porchat é um aliado poderoso de todas as causas progressistas, e é simplesmente ridículo cancelá-lo por causa de uma declaração mal elaborada.

Mas estes são os tempos em que vivemos. Há outras narrativas "oficiais" por aí. Esta semana eu mesmo fui chamado de racista nas redes por dizer numa coluna que Manoel Soares não é querido por muitos colegas nos bastidores da Globo. Como o apresentador é negro, então estaria automaticamente acima de qualquer crítica.

O que fazer, então? Seguir debatendo, seguir expondo posicionamentos com a maior clareza possível, seguir ouvindo os outros. Precisamos desarmar os espíritos e focar nos verdadeiros adversários. Caso contrário, eles já ganharam.