Demissões de Ricardo Waddington e Silvio de Abreu sinalizam crise na TV?
Executivos poderosos, ambos deixaram cargos onde estavam havia pouco tempo
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Duas notícias impactantes abalaram o showbiz nacional nesta terça (14). De manhã, a Globo soltou um e-mail comunicando que Ricardo Waddington deixará a emissora em junho, sendo substituído por Amauri Soares no comando dos Estúdios Globo. À noite, o colunista Flávio Ricco, do portal R7, informou que Silvio de Abreu não renovará seu contrato de exclusividade com a Warner Bros Discovery.
Ambos estavam em seus respectivos cargos havia pouco tempo. Waddington foi alçado à chefia dos Estúdios Globo depois que Carlos Henrique Schroder, diretor-geral da Globo entre 2013 e 2019, deixou a empresa definitivamente em maio de 2021. A saída de Schroder provocou uma grande reestruturação interna, e uma das consequências foi a demissão de Silvio de Abreu, que liderou o departamento de Dramaturgia da casa entre 2014 e 2020.
Autor de inúmeras novelas de sucesso e experiente na avaliação de novos projetos, Abreu não ficou desempregado por muito tempo. Em meados de 2021, foi chamado pela WBD para supervisionar obras de ficção para a plataforma HBO Max e canais como HBO, TNT e Warner para toda a América Latina.
A ideia de Tomás Yankelevich, COO da WarnerMedia Latin America, era começar rapidamente a produzir o que ele batizou de "telesséries": novelas mais ágeis e curtas, ao estilo de "Todas as Flores", do Globoplay. Mas, antes que o plano saísse do papel, a Warner foi vendida para o Discovery, que desde então vem promovendo um corte drástico de custos em todo o grupo.
Depois de sucessivos adiamentos, "Beleza Fatal", de Rafael Montes, deve entrar em produção no segundo semestre deste ano. Mas Silvio de Abreu não estará mais por perto para acompanhar as gravações da primeira telessérie da HBO Max. Em nota à imprensa, a WBD garante que foi o executivo quem decidiu deixar a empresa, podendo eventualmente trabalhar em projetos avulsos.
A Globo também anunciou que partiu de Ricardo Waddington a decisão de sair da emissora, onde estava havia 40 anos. É difícil acreditar nessa versão: ambicioso e centralizador, o futuro ex-diretor dos Estúdios Globo sempre almejou a posição em que está agora. Para quem o conhece (Waddington foi meu chefe, quando trabalhei como roteirista do extinto "Video Show"), não faz muito sentido ele pedir demissão de um cargo tão poderoso depois de menos de três anos.
Ironias da vida: há pouco mais de um ano, em entrevista a este colunista, Waddington detonou Camila Queiroz. Segundo ele, a atriz fez exigências absurdas para renovar seu contrato com a Globo por apenas uma semana a mais e acabou sendo cortada das últimas gravações de "Verdades Secretas 2". Agora a atriz está de volta à emissora, enquanto Waddington está de saída. Ela é a protagonista de "Amor Perfeito", que estreia na faixa das 18 horas na próxima segunda (20)
A saída simultânea de dois nomes tão importantes de dois gigantes da indústria do entretenimento levanta a suspeita de que há algo estranho no ar. De fato, Globo e WBD enfrentam problemas parecidos: queda de faturamento, revisão do modelo de negócios, metas não alcançadas e um cenário econômico instável, tanto no Brasil como no exterior.
Isso quer dizer, então, que a TV brasileira está em crise? Talvez. Todos os canais perderam anunciantes e vêm enxugando seu organograma, mas o fato é que a Globo é que está mais preparada para superar a crise. Além disso, o streaming ainda não se tornou um negócio rentável: o investimento em conteúdo e tecnologia é brutal, e o número de assinaturas não cresce no ritmo desejado.
Por outro lado, nunca se produziu tanto como agora. A internet abriu uma infinidade de opções. Novos formatos e aplicativos aparecem quase toda semana. Uma geração que cresceu sem estar acorrentada às grades de programação da TV aberta está prestes a entrar na idade adulta.
Ou seja: estamos num momento de transição, só que ninguém sabe exatamente para onde. As demissões de Silvio de Abreu e Ricardo Waddington são sintomas dessa mudança e dois pequenos fatos dentro de um movimento muito maior. Nem sei se ainda é correto usar a palavra "TV": toda a maneira como produzimos e consumimos audiovisual está se transformando. Mas no quê?