O Brasil adora uma história de redenção. O sujeito que erra, erra de novo, erra outra vez, cai em desgraça, é cancelado e aí pede perdão, diz que está arrependido e promete se emendar.

Esse tipo de narrativa é comum nos reality shows. A Fazenda 12 deu o vice-campeonato ao MC Biel, que participou do programa cinco anos depois de ser acusado de assédio sexual. O ator Artur Aguiar, adúltero serial, convenceu boa parte do público de que nunca mais iria trair sua mulher Mayra Cardi e sagrou-se campeão do BBB 22. O casal se separou de vez em outubro do ano passado.

Esses dois artistas têm algumas coisas em comum: ambos são brancos, heterossexuais, cisgêneros e, na opinião de muitos, bonitos. Encarnam, cada um à sua maneira, o protagonista típico dos sonhos brasileiros. Teriam tido o mesmo sucesso se fossem negros? Provavelmente, não.

Na noite desta terça (31/1), o público do BBB 23 decidiu eliminar Gabriel "Fop" Tavares da competição. O resultado foi menos apertado do que previam as enquetes online: o modelo teve 53,3% dos votos, enquanto sua rival Domitila Barros ficou com 46,09%.

Com a saída de Gabriel, talvez o BBB 23 comece para valer. Sua presença na casa estava amarrando o jogo. Sem ele, sua "peguete" Bruna Griphao terá que encarnar outro personagem que não a mulher que nem percebe que está sendo abusada.

O comportamento tóxico de Gabriel na primeira semana do programa rendeu a ele um discurso contundente do apresentador Tadeu Schmidt no domingo retrasado (22). Desde então, o suposto ex de Anitta tentou se comportar melhor, mesmo sem entender direito o que fez de tão errado.

Dentro e fora da casa, muita gente caiu nessa conversa. Se tivesse escapado do paredão, é provável que Gabriel crescesse no programa, talvez até se tornando um dos favoritos ao prêmio final. O próprio Artur Aguiar avisou que, se escapasse, o rapaz voltaria fortalecido.

O curioso é que, mesmo evitando comportamentos machistas, Gabriel ainda soltou frases de cunho racista e gordofóbico, sempre atingindo Bruno Gaga. Novamente, nem percebeu o dano que causou.

Por tudo isso, chega a ser surpreendente que sua votação nem tenha sido das mais altas. Sinal de que o discurso de redenção estava mesmo colando, tanto entre os espectadores como entre vários brothers.

Em mais uma demonstração de seu caráter molenga, Gabriel desabou em prantos quando soube que iria sair. Seu choro contagiou alguns de seus colegas. Paula, sua companheira na Casa de Vidro, armou tamanho berreiro que parecia ter perdido um filho.

Houve uma certa comemoração nas redes sociais, que nem de longe lembrou o furdunço que rolou quando Karol Conká foi defenestrada do BBB 21. Mais um sinal de que não falta quem passe pano para atitudes questionáveis.

Porque, além de tudo, Gabriel ainda é visto como um menino por uma parcela considerável da audiência do BBB 23, apesar de já ter 24 anos de idade. No Brasil, é comum dar esse tratamento a marmanjos delinquentes, implicando que eles merecem ser perdoados.

Então o Fop merece perdão? Claro que sim, como qualquer um de nós. Mas não merecia continuar no programa. Se ele continuasse lá, teria muita chance de se tornar uma versão atualizada de Artur Aguiar, com um séquito de fãs que desculpam qualquer falha de seu ídolo.

Gabriel Fop foi o grande vilão dessas duas primeiras semanas do BBB 23, mas ainda não surgiu um mocinho. Eu, pessoalmente, ainda nem tenho um favorito pessoal. Não sei por quem torcer, o que é raro a essa altura do reality. Vamos ver se agora alguém desabrocha.